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"Situação já não é tão boa", diz Ferreira, que vai voltar
Descontentes com a vida nos EUA, brasileiros retornam ao país com familiares
Segundo emigrante, leva-se de 2 a 3 anos para saldar a dívida da travessia, de US$ 7.000 a US$ 15 mil, o que adia plano enriquecer
DE NOVA YORK
"Ninguém acredita quando
contamos que a situação nos
EUA já não é tão boa. Insistindo em vir apesar dos nossos
alertas, conhecidos que estão
no Brasil dizem: "Ah, mas vocês
estão aí!". Claro, eles só vêem as
fotos que mandamos dos momentos felizes. Acham que encontramos uma mina de ouro e
temos uma vida sossegada."
Logo, Alexandre Ferreira, 36,
paranaense de Curitiba, poderá
apresentar aos seus conterrâneos o mais poderoso argumento: no primeiro semestre
de 2008, ele volta ao Brasil com
a mulher, Scheila, 30, e a filha
Alissa, com um mês.
"Chega um momento em que
todos percebem que o sacrifício
de arriscar a vida, ralar de sol a
sol sem trégua, viver com medo
de ser deportado, longe do seu
verdadeiro lar, dos parentes,
não está mais valendo a pena",
explica Francisco "Sampa",
presidente da Baua (Brazilian
American United Association).
"Leva de dois a três anos para
a pessoa saldar a dívida com o
coiote -a travessia custa de
US$ 7.000 a US$ 15 mil. Antes
disso, ela não volta, mas já sabe
que não terá condições de enriquecer em curto espaço de
tempo", diz Alexandre.
Claudiomir Perotto, 33, entrou nos EUA com visto de turista com a família em 2001.
Sua intenção sempre foi conseguir um "green card" (documento que permite morar e
trabalhar legalmente no país),
porém ele desistiu de esperar
após as sucessivas derrotas no
Congresso da reforma da lei de
imigração que o presidente
George W. Bush propôs, engavetada por ora em junho. A passagem de volta de Perotto é para o dia 30 deste mês.
Na última sexta, a reportagem encontrou em Gonzaga
(MG), Lúcia Oliveira e Silva, 39,
a Pitica, que chegou na terça
passada de Newark, Nova Jersey, onde trabalhou como cozinheira e fez faxina nas horas vagas, desde 2004. Foram três
anos de vida americana, um sonho interrompido pelos chamados do marido, Amável Silva. "Lá está bem melhor do que
aqui. Por mim eu ficaria lá, mas
meu marido sempre falava para
eu voltar. A vida lá é muito boa.
O pobre aqui em Gonzaga tem
vida de rico lá", disse Pitica.
Uma das poucas que podem
dizer que venceu nos EUA é a
baiana de Vitória da Conquista
Patrícia, 29. Bonita, morena,
olhos verdes, ela esconde o nome verdadeiro porque a família
no Brasil "nem pode sonhar"
com o negócio que ela tem.
Chegou como turista em
2000, fez faxina, foi garçonete,
mas os US$ 300 semanais que
ganhava eram pouco. Passou a
dançar em boates, ganhando
US$ 300 por dia. Logo, fazia
programas, a US$ 800 por dia, e
dois anos depois montou uma
casa de massagens. Comprou
casas, apartamento em Salvador, colocou os dois filhos, de
oito e 11 anos, na melhor escola.
"Volto em abril para administrar meus bens, que incluem fazenda e pousada", diz.
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