São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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"Situação já não é tão boa", diz Ferreira, que vai voltar

Descontentes com a vida nos EUA, brasileiros retornam ao país com familiares

Segundo emigrante, leva-se de 2 a 3 anos para saldar a dívida da travessia, de US$ 7.000 a US$ 15 mil, o que adia plano enriquecer

DE NOVA YORK

"Ninguém acredita quando contamos que a situação nos EUA já não é tão boa. Insistindo em vir apesar dos nossos alertas, conhecidos que estão no Brasil dizem: "Ah, mas vocês estão aí!". Claro, eles só vêem as fotos que mandamos dos momentos felizes. Acham que encontramos uma mina de ouro e temos uma vida sossegada."
Logo, Alexandre Ferreira, 36, paranaense de Curitiba, poderá apresentar aos seus conterrâneos o mais poderoso argumento: no primeiro semestre de 2008, ele volta ao Brasil com a mulher, Scheila, 30, e a filha Alissa, com um mês.
"Chega um momento em que todos percebem que o sacrifício de arriscar a vida, ralar de sol a sol sem trégua, viver com medo de ser deportado, longe do seu verdadeiro lar, dos parentes, não está mais valendo a pena", explica Francisco "Sampa", presidente da Baua (Brazilian American United Association).
"Leva de dois a três anos para a pessoa saldar a dívida com o coiote -a travessia custa de US$ 7.000 a US$ 15 mil. Antes disso, ela não volta, mas já sabe que não terá condições de enriquecer em curto espaço de tempo", diz Alexandre.
Claudiomir Perotto, 33, entrou nos EUA com visto de turista com a família em 2001. Sua intenção sempre foi conseguir um "green card" (documento que permite morar e trabalhar legalmente no país), porém ele desistiu de esperar após as sucessivas derrotas no Congresso da reforma da lei de imigração que o presidente George W. Bush propôs, engavetada por ora em junho. A passagem de volta de Perotto é para o dia 30 deste mês.
Na última sexta, a reportagem encontrou em Gonzaga (MG), Lúcia Oliveira e Silva, 39, a Pitica, que chegou na terça passada de Newark, Nova Jersey, onde trabalhou como cozinheira e fez faxina nas horas vagas, desde 2004. Foram três anos de vida americana, um sonho interrompido pelos chamados do marido, Amável Silva. "Lá está bem melhor do que aqui. Por mim eu ficaria lá, mas meu marido sempre falava para eu voltar. A vida lá é muito boa. O pobre aqui em Gonzaga tem vida de rico lá", disse Pitica.
Uma das poucas que podem dizer que venceu nos EUA é a baiana de Vitória da Conquista Patrícia, 29. Bonita, morena, olhos verdes, ela esconde o nome verdadeiro porque a família no Brasil "nem pode sonhar" com o negócio que ela tem.
Chegou como turista em 2000, fez faxina, foi garçonete, mas os US$ 300 semanais que ganhava eram pouco. Passou a dançar em boates, ganhando US$ 300 por dia. Logo, fazia programas, a US$ 800 por dia, e dois anos depois montou uma casa de massagens. Comprou casas, apartamento em Salvador, colocou os dois filhos, de oito e 11 anos, na melhor escola. "Volto em abril para administrar meus bens, que incluem fazenda e pousada", diz.


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