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Para docente da Unesp, ricos ficarão nos EUA
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise econômica nos EUA
tende a provocar o retorno ao
Brasil dos imigrantes mais pobres. Essa é a opinião de Adriana Capuano de Oliveira, 36,
professora de sociologia no
curso de relações internacionais da Unesp, campus de
Franca (SP). Em 2004, ela defendeu na Unicamp a tese de
doutorado "Bienvenido a Miami: A inserção dos imigrantes
brasileiros nos Estados Unidos
da América". A pesquisa foi feita entre 2001 e 2002.
Segundo Adriana, coordenadora do núcleo de estudos sobre migrações internacionais
na universidade, há "um número enorme de brasileiros que
trabalham na construção civil".
Essas pessoas, muitas delas ilegais, têm poucas chances de obter outros empregos, além do
medo constante da deportação.
Já os mais ricos, não; estabilizados, só deixam o país para rever
os parentes no Brasil. A crise
dos EUA atinge de modo desigual os desiguais. Leia os principais trechos da entrevista.
FOLHA - A volta dos brasileiros está
ligada à crise no setor da construção
civil nos EUA?
ADRIANA CAPUANO - A tese faz
sentido porque há um número
enorme de brasileiros que trabalham na construção civil. O
que também agrava o problema
são as restrições para a entrada
dos brasileiros nos EUA, eles
têm muito medo de que os próprios vizinhos os denunciem.
Existe uma rejeição cada vez
maior por parte da sociedade
civil norte-americana, que aumenta desde o 11 de Setembro.
É complicado viver com medo.
Mas, sem dúvida, a questão financeira é primordial.
FOLHA - Qual o perfil do imigrante
brasileiro?
ADRIANA - Antigamente havia a
idéia de que eram jovens, pessoas de centros urbanos, principalmente do Sudeste. Quando fiz minha pesquisa, entre 2001 e 2002, e creio que isso já
aumentou, era impressionante
o aumento da diversidade. Havia pessoas de Rondônia, do interior de Goiás, de Manaus,
Santa Catarina, muitos gaúchos. Gente de todas as faixas
etárias, de classes variadas.
Não é somente a classe média, que era o padrão. Você encontra pessoas muito humildes, que financiam a passagem em 24 vezes e se aventuram,
mas com muitas dificuldades
de se inserir, porque não sabem
inglês, por exemplo.
FOLHA - E quanto à escolaridade?
ADRIANA - Tem de tudo. No início da migração, na década de
80 e boa parte na de 90, havia
uma classe média que investia
na migração com a idéia de retornar, montar um consultório.
Isso mudou muito. A classe média está indo para ficar. E há cada vez mais pessoas humildes
tentando esse tipo de aventura
sem nenhuma informação.
FOLHA - Há uma tendência de os
pobres irem cada vez mais?
ADRIANA - Não diria que há tendência de irem os pobres, mas
de o perfil do imigrante ficar
cada vez mais heterogêneo.
Não esperava encontrar alguém do interior de Rondônia,
que não migrou para São Paulo,
imigrou direto para os EUA. A
primeira experiência de metrópole que vai ter é em outra língua, em Miami.
FOLHA - Como o momento econômico dos EUA afeta essas pessoas?
ADRIANA - Afeta cada grupo de
um modo diferente. A crise na
construção civil tende a afetar
mais os brasileiros pobres, que
cruzaram a fronteira com o
México, por exemplo. Eles não
têm condições de entrar em outros mercados.
Agora, se conseguiu legalização, provavelmente não tem intenção de retorno. Volta para
passar férias. Não dá para dizer
que há retorno em massa, está
longe de acontecer. Como é heterogêneo, as pessoas mais pobres, ligadas à construção civil,
são mais suscetíveis a voltar.
Já no sul da Flórida há artistas, pessoas de classe alta, que
desistiram do Brasil porque foram assaltadas, estão legalizadas, não têm intenção de retornar. Não estão nos EUA por motivo financeiro. Decidiram
viver onde a segurança é maior.
FOLHA - Qual a diferença entre ricos e pobres brasileiros nos EUA?
ADRIANA - Quem passou pela
universidade sabe melhor como se integrar à sociedade norte-americana. Brasileiros que
não têm conhecimento da sociedade norte-americana, da
língua, dos costumes, geralmente vão porque conhecem
um brasileiro que já vive lá.
Eles vivem um Brasil lá dentro e não se importam que não
estão inseridos. Agora, uma
pessoa mais intelectualizada
não vive esse mundo. Dependendo de onde a pessoa se encontra, da profissão, da classe,
ela vai ter uma inserção completamente diferente nos EUA.
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