São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para docente da Unesp, ricos ficarão nos EUA

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise econômica nos EUA tende a provocar o retorno ao Brasil dos imigrantes mais pobres. Essa é a opinião de Adriana Capuano de Oliveira, 36, professora de sociologia no curso de relações internacionais da Unesp, campus de Franca (SP). Em 2004, ela defendeu na Unicamp a tese de doutorado "Bienvenido a Miami: A inserção dos imigrantes brasileiros nos Estados Unidos da América". A pesquisa foi feita entre 2001 e 2002.
Segundo Adriana, coordenadora do núcleo de estudos sobre migrações internacionais na universidade, há "um número enorme de brasileiros que trabalham na construção civil". Essas pessoas, muitas delas ilegais, têm poucas chances de obter outros empregos, além do medo constante da deportação. Já os mais ricos, não; estabilizados, só deixam o país para rever os parentes no Brasil. A crise dos EUA atinge de modo desigual os desiguais. Leia os principais trechos da entrevista.

FOLHA - A volta dos brasileiros está ligada à crise no setor da construção civil nos EUA?
ADRIANA CAPUANO
- A tese faz sentido porque há um número enorme de brasileiros que trabalham na construção civil. O que também agrava o problema são as restrições para a entrada dos brasileiros nos EUA, eles têm muito medo de que os próprios vizinhos os denunciem. Existe uma rejeição cada vez maior por parte da sociedade civil norte-americana, que aumenta desde o 11 de Setembro. É complicado viver com medo. Mas, sem dúvida, a questão financeira é primordial.

FOLHA - Qual o perfil do imigrante brasileiro?
ADRIANA
- Antigamente havia a idéia de que eram jovens, pessoas de centros urbanos, principalmente do Sudeste. Quando fiz minha pesquisa, entre 2001 e 2002, e creio que isso já aumentou, era impressionante o aumento da diversidade. Havia pessoas de Rondônia, do interior de Goiás, de Manaus, Santa Catarina, muitos gaúchos. Gente de todas as faixas etárias, de classes variadas. Não é somente a classe média, que era o padrão. Você encontra pessoas muito humildes, que financiam a passagem em 24 vezes e se aventuram, mas com muitas dificuldades de se inserir, porque não sabem inglês, por exemplo.

FOLHA - E quanto à escolaridade?
ADRIANA
- Tem de tudo. No início da migração, na década de 80 e boa parte na de 90, havia uma classe média que investia na migração com a idéia de retornar, montar um consultório. Isso mudou muito. A classe média está indo para ficar. E há cada vez mais pessoas humildes tentando esse tipo de aventura sem nenhuma informação.

FOLHA - Há uma tendência de os pobres irem cada vez mais?
ADRIANA
- Não diria que há tendência de irem os pobres, mas de o perfil do imigrante ficar cada vez mais heterogêneo. Não esperava encontrar alguém do interior de Rondônia, que não migrou para São Paulo, imigrou direto para os EUA. A primeira experiência de metrópole que vai ter é em outra língua, em Miami.

FOLHA - Como o momento econômico dos EUA afeta essas pessoas?
ADRIANA
- Afeta cada grupo de um modo diferente. A crise na construção civil tende a afetar mais os brasileiros pobres, que cruzaram a fronteira com o México, por exemplo. Eles não têm condições de entrar em outros mercados.
Agora, se conseguiu legalização, provavelmente não tem intenção de retorno. Volta para passar férias. Não dá para dizer que há retorno em massa, está longe de acontecer. Como é heterogêneo, as pessoas mais pobres, ligadas à construção civil, são mais suscetíveis a voltar.
Já no sul da Flórida há artistas, pessoas de classe alta, que desistiram do Brasil porque foram assaltadas, estão legalizadas, não têm intenção de retornar. Não estão nos EUA por motivo financeiro. Decidiram viver onde a segurança é maior.

FOLHA - Qual a diferença entre ricos e pobres brasileiros nos EUA?
ADRIANA
- Quem passou pela universidade sabe melhor como se integrar à sociedade norte-americana. Brasileiros que não têm conhecimento da sociedade norte-americana, da língua, dos costumes, geralmente vão porque conhecem um brasileiro que já vive lá.
Eles vivem um Brasil lá dentro e não se importam que não estão inseridos. Agora, uma pessoa mais intelectualizada não vive esse mundo. Dependendo de onde a pessoa se encontra, da profissão, da classe, ela vai ter uma inserção completamente diferente nos EUA.


Texto Anterior: Quem perde vínculo prefere ficar nos EUA
Próximo Texto: Governador Valadares ainda tenta se adaptar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.