São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

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Cenógrafo compra bote para salvar estúdio fotográfico

Funcionário de Bob Wolfenson teve de remar 1.000 m em meio a lixo para chegar à empresa; local já havia alagado em 2005

Ceagesp ficou alagada e perdeu mercadorias; empresas da região da Vila Leopoldina foram afetadas pela inundação de ontem

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenógrafo e cenotécnico Aécio Silva do Amaral, 39, está acostumado com o glamour, funcionário que é do estúdio do fotógrafo Bob Wolfenson, queridinho de top models e um dos mais assíduos realizadores dos ensaios de capa da "Playboy".
Ontem, para chegar ao trabalho, Amaral teve de comprar um bote inflável e remar por quase 1.000 metros em meio a espigas de milho, latas de refrigerante, milhares de caixotes de madeira, óleo diesel e muito, muito lixo -tudo boiando.
Amaral estava incumbido de ir ao estúdio salvar das águas os equipamentos fotográficos e de computação. Também devia colocar em segurança o arquivo de fotos de Wolfenson.
A missão começou em uma loja de artigos esportivos, bem na frente da Ceagesp, o entreposto de abastecimento. Por R$ 240, Amaral levou dois remos e um bote inflável Superjet 3000, amarelo e azul, que o vendedor assegurou comportar duas pessoas. É que, além de Amaral, participaria do resgate o fotodesigner e colega Rodrigo Gonçalves, 30.
Percebeu-se logo que o Superjet, fabricação chinesa, não aguentava dois. Com 1,90 metro de estatura, coube ao fotodesigner ir a pé. No trajeto até a avenida Mofarrej, onde fica o estúdio, as ruas haviam se transformado em rios. Carros, nem pensar. Em um ponto da rua Mergenthaler, a água tinha 1,60 metro de profundidade. Mas o pior era a sujeira, o fedor. "E havia ratazanas nadando", jurou Amaral.
Em maio de 2005, o estúdio de Wolfenson também alagou. O próprio fotógrafo ficou ilhado no local, do qual só conseguiu sair depois de 14 horas. Ontem, essa experiência teve seu valor: quando as águas subiram para valer, todos os equipamentos mais caros já se empoleiravam em um mezanino.
A avenida Mofarrej tem vizinhos ilustres, que acreditaram no projeto de revitalização da Vila Leopoldina, bairro da zona oeste de São Paulo, como a agência de publicidade Neogama, o estúdio Burti, a produtora de cinema Quanta, a TV Brasil, a TVA, além do estúdio de Wolfenson -todos alagados.
Mas, quando as águas sobem, como ontem, é a Ceagesp, logo ao lado, que domina. O entreposto ficou parado ontem. Nas avenidas internas, alagadas e intransitáveis até mesmo para caminhões, milhares de melancias boiavam -os homens, sem nada para fazer, divertiam-se estourando as frutas. O lugar cobriu-se de vermelho.
Antonio Luiz de Souza, 45, é carregador autônomo no Ceagesp desde 1999. Não tem carteira assinada. Em situação normal, tira por volta de R$ 60 por dia. Com o entreposto fechado, zero. A Ceagesp não sabia informar se abriria hoje, nem havia contabilizado os prejuízos. Assegurava, porém, que todos os alimentos que tiveram contato com as águas seriam descartados.


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