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Cenógrafo compra bote para salvar estúdio fotográfico
Funcionário de Bob Wolfenson teve de remar 1.000 m em meio
a lixo para chegar à empresa; local já havia alagado em 2005
Ceagesp ficou alagada
e perdeu mercadorias;
empresas da região da Vila
Leopoldina foram afetadas
pela inundação de ontem
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O cenógrafo e cenotécnico
Aécio Silva do Amaral, 39, está
acostumado com o glamour,
funcionário que é do estúdio do
fotógrafo Bob Wolfenson, queridinho de top models e um dos
mais assíduos realizadores dos
ensaios de capa da "Playboy".
Ontem, para chegar ao trabalho, Amaral teve de comprar
um bote inflável e remar por
quase 1.000 metros em meio a
espigas de milho, latas de refrigerante, milhares de caixotes
de madeira, óleo diesel e muito,
muito lixo -tudo boiando.
Amaral estava incumbido de
ir ao estúdio salvar das águas os
equipamentos fotográficos e de
computação. Também devia
colocar em segurança o arquivo
de fotos de Wolfenson.
A missão começou em uma
loja de artigos esportivos, bem
na frente da Ceagesp, o entreposto de abastecimento. Por
R$ 240, Amaral levou dois remos e um bote inflável Superjet
3000, amarelo e azul, que o
vendedor assegurou comportar
duas pessoas. É que, além de
Amaral, participaria do resgate
o fotodesigner e colega Rodrigo
Gonçalves, 30.
Percebeu-se logo que o Superjet, fabricação chinesa, não
aguentava dois. Com 1,90 metro de estatura, coube ao fotodesigner ir a pé. No trajeto até a
avenida Mofarrej, onde fica o
estúdio, as ruas haviam se
transformado em rios. Carros,
nem pensar. Em um ponto da
rua Mergenthaler, a água tinha
1,60 metro de profundidade.
Mas o pior era a sujeira, o fedor.
"E havia ratazanas nadando",
jurou Amaral.
Em maio de 2005, o estúdio
de Wolfenson também alagou.
O próprio fotógrafo ficou ilhado no local, do qual só conseguiu sair depois de 14 horas.
Ontem, essa experiência teve
seu valor: quando as águas subiram para valer, todos os equipamentos mais caros já se empoleiravam em um mezanino.
A avenida Mofarrej tem vizinhos ilustres, que acreditaram
no projeto de revitalização da
Vila Leopoldina, bairro da zona
oeste de São Paulo, como a
agência de publicidade Neogama, o estúdio Burti, a produtora de cinema Quanta, a TV Brasil, a TVA, além do estúdio de
Wolfenson -todos alagados.
Mas, quando as águas sobem,
como ontem, é a Ceagesp, logo
ao lado, que domina. O entreposto ficou parado ontem. Nas
avenidas internas, alagadas e
intransitáveis até mesmo para
caminhões, milhares de melancias boiavam -os homens, sem
nada para fazer, divertiam-se
estourando as frutas. O lugar
cobriu-se de vermelho.
Antonio Luiz de Souza, 45, é
carregador autônomo no Ceagesp desde 1999. Não tem carteira assinada. Em situação
normal, tira por volta de R$ 60
por dia. Com o entreposto fechado, zero. A Ceagesp não sabia informar se abriria hoje,
nem havia contabilizado os
prejuízos. Assegurava, porém,
que todos os alimentos que tiveram contato com as águas seriam descartados.
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