São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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Ouro em pó

Traficantes do Rio presenteiam suas mulheres com joias enormes, muitas trazendo as iniciais de seus nomes

DIANA BRITO
DO RIO

Cordões com mais de meio quilo de ouro. Medalhas, também de ouro, do tamanho da palma da mão -algumas com as iniciais do nome do traficante ou com lugar para colocar o retrato de três crianças sorridentes; outras reproduzem imagens do Rio, como a igreja da Penha.
Levantamento da Polícia Civil para chegar aos chefões do tráfico, ao qual a Folha teve acesso, mostra a opulência dos presentes que eles costumam dar para suas mulheres: as "fiéis", como são chamadas as oficiais, e as amantes.
As fotos foram descobertas em pesquisas feitas por policiais em redes sociais, como o Orkut. Outras foram enviadas anonimamente à polícia.
Nelas, jovens exibem correntes que, na avaliação de ourives ouvidos pela Folha, custam em média R$ 35 mil.
A Folha não identifica as mulheres, pois algumas são menores de idade e outras ainda são investigadas. De acordo com a polícia, há um mercado clandestino de produção de joias para traficantes funcionando no centro antigo da cidade e em alguns bairros da zona norte.
Na tabela dos "ourives do tráfico", quando o "cliente" leva o ouro -várias peças pequenas, provavelmente produto de roubo, que são derretidas-, um cordão pode custar de R$ 4 mil a R$ 15 mil.
"Se tiver brilhantes ou zircônia [imitação de diamante], o preço sobe", contou um ourives.
Segundo o presidente do IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos), Hécliton Santini Henriques, estima-se que o mercado clandestino de produção de joias movimente até R$ 1 bilhão por ano no Brasil -40% do movimento do setor.
"Isso inclui ilegalidades desse tipo [tráfico] e também subfaturamento e mercado informal", disse. "O escoadouro natural do ouro roubado são as "bocas de ouro", pequenos ourives que compram o material para fundir e fazer modelos de acordo com o gosto do sujeito."
Para Ecio Salles, doutor em comunicação e cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e estudioso da cultura das periferias, a inspiração para as joias vem dos gângsters e rappers norte-americanos.
"O ouro simboliza poder, o fato de ter vindo de uma pobreza extrema e ter chegado num lugar de riqueza."

FOLHA.com
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folha.com.br/ct842854


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