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Ouro em pó
Traficantes do Rio presenteiam suas mulheres com joias enormes, muitas trazendo as iniciais de seus nomes
DIANA BRITO
DO RIO
Cordões com mais de meio
quilo de ouro. Medalhas,
também de ouro, do tamanho da palma da mão -algumas com as iniciais do nome
do traficante ou com lugar
para colocar o retrato de três
crianças sorridentes; outras
reproduzem imagens do Rio,
como a igreja da Penha.
Levantamento da Polícia
Civil para chegar aos chefões
do tráfico, ao qual a Folha teve acesso, mostra a opulência dos presentes que eles
costumam dar para suas mulheres: as "fiéis", como são
chamadas as oficiais, e
as amantes.
As fotos foram descobertas
em pesquisas feitas por policiais em redes sociais, como
o Orkut. Outras foram enviadas anonimamente à polícia.
Nelas, jovens exibem correntes que, na avaliação de
ourives ouvidos pela Folha,
custam em média R$ 35 mil.
A Folha não identifica as
mulheres, pois algumas são
menores de idade e outras
ainda são investigadas. De
acordo com a polícia, há um
mercado clandestino de produção de joias para traficantes funcionando no centro
antigo da cidade e em alguns
bairros da zona norte.
Na tabela dos "ourives do
tráfico", quando o "cliente"
leva o ouro -várias peças pequenas, provavelmente produto de roubo, que são derretidas-, um cordão pode custar de R$ 4 mil a R$ 15 mil.
"Se tiver brilhantes ou zircônia [imitação de diamante], o preço sobe", contou
um ourives.
Segundo o presidente do
IBGM (Instituto Brasileiro de
Gemas e Metais Preciosos),
Hécliton Santini Henriques,
estima-se que o mercado
clandestino de produção de
joias movimente até R$ 1 bilhão por ano no Brasil -40%
do movimento do setor.
"Isso inclui ilegalidades
desse tipo [tráfico] e também
subfaturamento e mercado
informal", disse. "O escoadouro natural do ouro roubado são as "bocas de ouro", pequenos ourives que compram o material para fundir e
fazer modelos de acordo com
o gosto do sujeito."
Para Ecio Salles, doutor
em comunicação e cultura
pela Escola de Comunicação
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e estudioso da cultura das periferias, a inspiração para as
joias vem dos gângsters e
rappers norte-americanos.
"O ouro simboliza poder, o
fato de ter vindo de uma pobreza extrema e ter chegado
num lugar de riqueza."
FOLHA.com
Veja outras fotos
folha.com.br/ct842854
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