São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2004

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DIPLOMACIA

O cônsul americano Peter Kaestner diz que brasileiros estão entre os campeões em falsificação de documentos nos EUA

Brasil é fonte de imigrante ilegal, diz cônsul

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os brasileiros estão entre os campeões em falsificação de documentos e em prisões de imigrantes que tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos pela fronteira do México, afirma o cônsul norte-americano em Brasília, Peter Kaestner.
"O Brasil é um país que está entre as maiores fontes de imigrantes ilegais dos Estados Unidos", disse o cônsul, em entrevista à Folha, na tarde de ontem. Ele chamou de "humilhante" o processo de identificação de norte-americanos nos aeroportos brasileiros.
De outubro de 2002 a setembro de 2003, as autoridades norte-americanas prenderam mais de 5.000 brasileiros que tentavam entrar ilegalmente pelo México. Apenas o próprio México, que faz fronteira com os EUA, Honduras, El Salvador e Guatemala superaram o Brasil em cidadãos presos na fronteira sudoeste norte-americana, afirma Kaestner.
"Os nacionais de El Salvador e da Guatemala podem pegar um ônibus para chegar à fronteira; no caso do Brasil, é bem diferente."
No quesito falsificação de documentos, o Brasil também se sobressai. "Infelizmente, os brasileiros são muito bons", ironiza Kaestner, ao comentar a capacidade de brasileiros de produzir documentos falsos.
Estatísticas do posto de imigração do aeroporto internacional de Nova York revelam que, em outubro de 2003, os brasileiros ficaram em segundo lugar no ranking de apresentação de documento falsos, atrás apenas da Colômbia.
Kaestner também afirma que as autoridades do seu país encontraram a primeira falsificação do novo visto norte-americano nas mãos de um brasileiro. O novo visto, o "Licoln Visa", foi adotado em julho do ano passado. "O visto tem tantos mecanismos de segurança que não é possível contá-los", diz o diplomata, que está há um ano e meio no Brasil.

Humilhação
Em diversos momentos da entrevista, o cônsul enfatizou que o recém-adotado procedimento de recolher digitais e fotografar visitantes nos postos de imigração dos EUA (o US-Visit) não tem nenhuma relação direta com o problema da entrada ilegal de brasileiros nos Estados Unidos.
"Não se pode tirar a conclusão de que por isso [pelo problema de imigração] o Brasil está sendo tratado de forma diferente. O programa US-Visit não é voltado para um país, vale para todos."
O novo procedimento de entrada nos EUA isenta da identificação cidadãos de 27 países que não precisam de visto para visitar o país por períodos inferiores a 90 dias. O cônsul diz que os cidadãos desses países também são obrigados a passar pela identificação, caso precisem de vistos de estudantes ou queiram ficar mais de 90 dias. Na opinião dele, o programa norte-americano, ao contrário do brasileiro, não é discriminatório.
Desde o início do ano, os americanos que chegam ao Brasil são fotografados e têm suas impressões digitais recolhidas. Segundo Kaestner, o tratamento aos cidadãos do seu país não respeita o princípio da reciprocidade que o Brasil usa para justificar a medida.
A reclamação do governo dos EUA não é em relação à identificação propriamente dita, mas ao método que está sendo usado. Kaestner reclamou do fato de existir um fila específica para os norte-americanos nos aeroportos e da demora do processo. Segundo ele, nos EUA, os brasileiros e os demais cidadãos do mundo ficam na mesma fila.


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