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SP põe 119 presas em cadeia onde cabem 12
Prisão fica em Monte Mor, na região de Campinas, e é de responsabilidade da gestão Serra; há quatro grávidas no local
Detentas dormem em duas celas de 25 metros quadrados, que ficam abertas, e em um pátio descoberto; há 2 chuveiros
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MONTE MOR
MARLENE BERGAMO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICA
Com capacidade para 12 pessoas, a Cadeia Pública Feminina de Monte Mor (SP), na região de Campinas, abriga hoje
119 mulheres -entre as quais
quatro grávidas. A cadeia é de
responsabilidade da Secretaria
da Segurança Pública, órgão da
gestão José Serra (PSDB).
Há apenas duas celas na cadeia, de 25 metros quadrados
cada. Em razão da superlotação, quase dez vezes superior à
capacidade, as portas das celas
ficam sempre abertas, e as presas ocupam também um pátio
de 50 metros quadrados, sem
teto, onde a maioria dorme.
Um bebê recém-nascido passou os dois primeiros dias de vida na cadeia nesta semana e foi
transferido ontem às 11h15 com
a mãe para uma penitenciária
do Estado, segundo informação
da direção da prisão. No local,
só há dois chuveiros, um tanque, um fogão e uma geladeira.
Regras da ONU (Organização
das Nações Unidas) determinam um mínimo de seis metros
quadrados para cada preso. Em
Monte Mor, há 0,84 metro quadrado para cada presa, considerando as celas e o pátio.
"Que Deus me perdoe, mas
preferia minha filha morta. Era
melhor ela descansar do que viver dentro deste inferno ", disse
ontem Leonor (nome fictício),
mãe de uma das presas.
Por meio dos familiares, a reportagem obteve um relato de
duas páginas por escrito das
presas sobre a situação de lá.
A Folha não foi autorizada a
entrar no local pela Secretaria
de Segurança Pública nem pela
direção da cadeia. Serra foi procurado para tratar do caso, mas
sua assessoria disse que ele não
poderia falar por estar nos
EUA. Indicou o vice Alberto
Goldman, que não se pronunciou, e a Secretaria da Segurança Pública.
Piolhos e ratos
No local há presas condenadas e outras à espera de julgamento. Familiares relataram à
Folha que elas vivem em condições subumanas e que o local
está infestado de piolhos, sarna
e baratas. O aparecimento de
ratos é comum.
"Nem os piolhos querem ficar na cadeia. Os familiares
saem da visita cheios de piolhos", disse a irmã de uma detenta, pouco antes de entrar para a visita, debaixo de sol e de
um calor de 35ºC.
"Muitas vezes acordamos
com ratazanas e baratas andando sobre nós", diz um trecho da
carta escrita pelas presas. "Não
temos capacidade de permanecer aqui. Há presas com tuberculose e soropositivas."
Por causa do aperto na cadeia, um colchonete tem de ser
dividido por duas presas na hora de dormir, relatam. Durante
a visita, tanto presas quanto familiares têm de ficar em pé.
A cadeia é anexa à delegacia e
vizinha do prédio da prefeitura
da cidade-que tem uma população estimada de 46 mil habitantes. O local também é cercado por imóveis residenciais e
estabelecimentos comerciais.
Quando chove, as presas são
obrigadas a improvisar cobertas com pedaços de plásticos
para se proteger. "Mesmo com
proteção do plástico, a água da
chuva molha todos os colchonetes e as roupas delas", disse a
irmã de uma presa.
Segundo a coordenadora nacional pela Questão da Mulher
Presa da Pastoral Carcerária,
Heidi Cerneaka, o caso de
Monte Mor é dos mais graves
do país.
"A solução seria trabalhar penas alternativas e agilizar o trâmite dos processos, já que há
muitas presas que permanecem meses na cadeia sem ao
menos uma audiência."
O sistema penitenciário paulista, segundo dados publicados
em setembro, tem cerca de 42
mil detentos a mais do que pode comportar.
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