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Mosteiro de São Bento abre alas secretas
Público vai poder circular pela primeira vez em áreas reservadas apenas para frades durante exposição de arte contemporânea
O espaço mais restrito do mosteiro, o claustro, ficará fechado, mas será possível espiar o jardim usado pelos monges para meditação
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Autorretrato do frei Adelbert Gresnicht (1877-1956), à esquerda, que fez as pinturas na igreja
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Mosteiro de São Bento
sempre foi um marco histórico
misterioso em São Paulo por
uma razão simples: a maior
parte das alas é fechada ao público e, quem vê a igreja, fica
imaginando as preciosidades
escondidas.
Parte desse mistério será revelada a partir do próximo dia
25, quando áreas restritas do
mosteiro serão abertas pela
primeira vez para uma exposição de arte contemporânea,
com obras de Carlos Eduardo
Uchôa, José Spaniol e Marco
Giannotti.
Serão abertas salas do colégio
e da faculdade, o parlatório do
mosteiro e a capela do colégio,
que está fechada há tanto tempo que os monges nem lembram quando foi usada pela última vez.
O espaço mais restrito do
mosteiro, o claustro, permanecerá fechado, mas de uma das
salas da exposição será possível
espiar o jardim interno, um dos
locais que os monges usam para meditar.
A joia da coroa da abertura é
a capela do colégio, que fica no
terceiro andar do mosteiro e
tem uma série de pinturas finalizadas em 1937 pelo austríaco
Thomas Scheuchl. "É inacreditável que essa capela fique fechada, mas não temos estrutura para receber visitas", diz
Uchôa, artista que tornou-se
monge e é reitor do colégio e da
faculdade São Bento.
O mosteiro ocupa um prédio
em estilo eclético, construído
entre 1910 e 1912, mas está no
mesmo local desde 1600.
"É a ordem religiosa que está
no mesmo local há mais tempo
na história de São Paulo", diz
Nestor Goulart Reis Filho, arquiteto especializado na história da cidade de São Paulo.
Só uma igreja que permanece
no mesmo local é mais antiga
que a de São Bento, segundo
ele. É a da Santo Antonio, cujos
registros mais antigos são de
1592.
Confronto
Era esse confronto com a história que três artistas buscam.
"O convento não é o cubo branco das galerias ou dos museus.
É um espaço carregado de história, o que cria uma tensão
quando se mostra arte contemporânea aqui", diz Giannotti.
Já o mosteiro busca aprofundar um diálogo com a cidade
que foi interrompido, segundo
o abade Mathias Tolentino
Braga -abade é o pai espiritual
do mosteiro. "A ideia é reconstruir a produção cultural do
mosteiro e restabelecer o diálogo com a cidade, a cidadania e a
estética", diz.
Abertura
Nos anos 60, o mosteiro tinha um cineclube que ficou famoso por exibir filmes do sueco
Ingmar Bergman. Antes, teve
um grupo teatro que revelou o
ator Sérgio Cardoso.
Uma instalação de Uchôa
que ocupará a capela do colégio
dá uma ideia do tipo de diálogo
que o mosteiro quer travar com
a cidade. Entre pinturas de
Abrahão e de são Marcos,
Uchôa projetará imagens que
gravou com meninos da cracolândia. O trabalho chama-se
"Redenção". "Os meninos da
cracolândia somos nós e as pessoas parecem não perceber isso", diz Uchôa.
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