São Paulo, terça, 10 de fevereiro de 1998

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1º dia tem apenas 30 cadastrados

PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

O primeiro dia da campanha Toda Criança na Escola teve movimento tão baixo na cidade de São Paulo que, mantido esse ritmo até seu encerramento, no próximo sábado, menos de 0,5% das crianças que estão fora da escola na cidade serão atendidas.
No único posto de atendimento da capital foram cadastradas 52 crianças. No entanto, apenas 30 preenchiam os requisitos determinados pelo ministério.
Das demais, 18 crianças vão completar 7 anos de idade entre março e setembro deste ano, 3 tinham entre 15 e 16 anos e uma já estava matriculada e pleiteava transferência para uma escola mais próxima de sua casa.
Essas crianças foram cadastradas normalmente, mas não há garantia de vagas a elas. A prioridade é para as que tenham entre 7 anos (completados até 28 de fevereiro) e 14 anos e que não estejam matriculadas em nenhuma escola.
De acordo com dados de 1996 do IBGE, 70 mil crianças estariam fora da escola no município de São Paulo. As 30 crianças atendidas na campanha ontem equivalem a 0,04% do total que está fora da escola em São Paulo.
A pequena procura pode ser justificada, entre outros fatores, pela distância do único posto de atendimento do MEC -na Vila Clementino, bairro predominantemente de classe média- em relação às regiões mais carentes.
Segundo o secretário municipal da Educação, Ayres da Cunha, existem 6 mil vagas a serem preenchidas na rede municipal, além de outras 15 mil que serão criadas com a construção de nove escolas e mais 73 salas emergenciais (pré-fabricadas, de madeira).
Segundo as atendentes do posto da capital (rua Diogo de Faria, 1.247), grande parte das crianças que se cadastraram ontem não havia conseguido escola até então porque tinha parado de estudar ou porque migrou de outros Estados para São Paulo recentemente.
É o caso de Isaac Ferreira Feitosa, 14, e seu irmão Ismael, 13, que vieram da Bahia em janeiro e não conseguiram vaga para a 4ª série em duas escolas que procuraram.
"Essa é a última chance. Eles vieram para São Paulo por causa dos estudos. Não queremos que eles parem de estudar, mas não sei como vai ser se não conseguirem", disse a irmã dos meninos, Vanusa Ferreira Feitosa, 27.
A mudança de bairro foi o motivo que deixou Alan de Paula, 12, sem escola. Segundo sua mãe, Denise, 29, a família mudou de casa no ano passado. Ela disse que começou a fazer contato com uma escola estadual próxima do novo endereço, na Aclimação (zona sudoeste), em novembro.
"Disseram que eu não precisaria me preocupar, que teria vaga. Me enrolaram até que descobri hoje (ontem) que não há vaga para ele. Se não conseguir aqui, acho que ele terá de parar de estudar. É um absurdo."
De acordo com a chefe de gabinete da secretaria municipal da Educação, Martha Abrahão Saad Lucches, todos os casos serão estudados e, aqueles cuja responsabilidade da matrícula em 97 era da rede estadual, deverão de ser resolvidos pelo próprio Estado.



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