São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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Juizado de Menores realiza blitze no Rio

DA SUCURSAL DO RIO

O Juizado de Menores e a DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) vão realizar hoje blitze em bailes funk do Rio. A decisão foi tomada após a Secretaria de Saúde afirmar oficialmente que uma jovem menor de 14 anos e soropositiva havia engravidado numa festa funk, durante a chamada "dança das cadeiras", em que as meninas, de saia, sentam no colo de diferentes rapazes.
O Juizado de Menores está "preocupado e atento", segundo o juiz Siro Darlan, da 1ª Vara da Infância e da Juventude. A blitz visa impedir que menores frequentem esses locais.
Apesar disso, o juiz Darlan acha que o caso da menor é um caso único. "Vamos averiguar, mas tenho dificuldade de aceitar que esses relatos aconteçam com frequência", diz Darlan, que, por enquanto, além da blitz, vai indiciar os pais da menina e os produtores do baile onde ela diz ter engravidado.
Uma entidade não-governamental que presta assistência a adolescentes grávidas confirmou ontem a denúncia feita pela Secretaria de Saúde.
O Espaço Logus Sagrado atende à comunidade das favelas da Tijuca (zona norte). Segundo sua diretora, Vera Lúcia Harouche, das 30 adolescentes assistidas, 8 afirmam ter engravidado nos bailes.
A primeira menina que disse ter engravidado num baile funk da região chegou ao Logus Sagrado no início de janeiro, com gestação de três meses. Os outros casos começaram a aparecer logo em seguida. A última jovem chegou pouco antes do Carnaval.
Todas elas estão em idades nas quais a gravidez representa risco para a gestante e o feto. A mais nova tem 12 anos e a mais velha 16. Nenhuma delas é soropositiva.
Segundo Vera Harouche, as adolescentes vêm de diferentes favelas da área, entre elas Turano, Formiga e Borel, mas principalmente do Salgueiro. Este último morro tem um dos bailes funk mais famosos do Rio.
"As meninas contam sobre suas relações sexuais nessas festas porque encaram isso como algo normal. Os valores são outros. Elas chegam a ter relações com mais de um rapaz no mesmo baile e quando engravidam não sabem quem são os pais dos bebês", disse Vera.
A gerente da assistência social do posto de saúde da Tijuca, Odaléa Mourato, também confirma casos de meninas que engravidaram dentro de bailes.
Odaléa diz que já atendeu muitas jovens (algumas soropositivas) que relataram histórias como essas. "Talvez isso esteja virando uma prática, mas não posso afirmar", disse.




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