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RECICLAGEM
Na terra retirada da calha do rio, eles pegam latinhas e garrafas pet
Catadores buscam sustento em "garimpo" no rio Tietê
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL
ORMUZD ALVES
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
São 4h no bairro de Ermelino
Matarazzo, extremo leste de São
Paulo. Os desempregados José
Gonçalves da Silva, 53, e Pedro
dos Santos, 32, vão para as margens do rio Tietê. Para trabalhar.
Como outras pessoas, a dupla
chega ao local -perto do Sambódromo do Anhembi- por volta
das 6h para catar alumínio, latinhas e garrafas pet retiradas do
fundo do Tietê e depositadas nas
margens do rio por máquinas do
governo do Estado, que realizam
o rebaixamento da calha do rio.
Diariamente, são retirados do
Tietê 15 mil m3 de terra com lixo e
entulho. São necessários até mil
caminhões para retirar esse material, que fica nas margens do rio
por até dois dias e depois vai para
aterros sanitários, segundo o Departamento de Água e Energia
Elétrica do Estado de São Paulo
(Daee), responsável pela obra.
"Eu passava aqui e via outras pessoas catando. Daí resolvi vir também. A gente não tem opção",
afirma Santos, que só estudou até
a 4ª série do ensino fundamental.
"Até para ser pedreiro estão pedindo o primeiro grau completo."
Já Silva admite que gosta do trabalho de "garimpeiro", pelo rendimento maior que o de pedreiro,
que exercia sete meses antes de
"descobrir" as obras no Tietê.
"Eu ganhava R$ 300 por mês,
trabalhando quase sem descanso.
Agora, ganho mais de R$ 600,
consigo sustentar meus cinco filhos e controlo os meus horários."
Silva já chegou a pegar com o
parceiro mais de 20 kg de alumínio em apenas um dia.
A jornada de trabalho acaba por
volta das 17h, quando eles levam
todo o material recolhido para
um ferro-velho da zona leste.
Sobre a insalubridade do local, o
risco de contaminação e o perigo
de estar ao lado das máquinas e às
margens do rio, eles dizem que se
protegem com luvas e botas e que
lavam as mãos com álcool.
"Não somos garimpeiros. Somos sobreviventes", diz Santos.
Outro lado
Segundo o Daee, funcionários
da obra -que gera 1.800 empregos diretos- fazem uma triagem
superficial do lixo que fica nas
margens para secagem.
Para o superintendente do órgão, Ricardo Daruiz Borsari, o
número de "garimpeiros" deve
ser pequeno, e as ocorrências desse tipo de ação, "isoladas".
Ele afirma que fiscais vistoriam
diariamente as intervenções no
rio. Já Santos e Silva dizem que
nunca foram abordados por nenhum funcionário da obra.
"Procuraremos retirar essas
pessoas o mais rápido possível,
até mesmo pelo risco que elas estão correndo. Mas acredito que
sejam poucas as ocorrências desse tipo", diz Borsari.
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