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São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2003

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RECICLAGEM

Na terra retirada da calha do rio, eles pegam latinhas e garrafas pet

Catadores buscam sustento em "garimpo" no rio Tietê

PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL
ORMUZD ALVES
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

São 4h no bairro de Ermelino Matarazzo, extremo leste de São Paulo. Os desempregados José Gonçalves da Silva, 53, e Pedro dos Santos, 32, vão para as margens do rio Tietê. Para trabalhar.
Como outras pessoas, a dupla chega ao local -perto do Sambódromo do Anhembi- por volta das 6h para catar alumínio, latinhas e garrafas pet retiradas do fundo do Tietê e depositadas nas margens do rio por máquinas do governo do Estado, que realizam o rebaixamento da calha do rio.
Diariamente, são retirados do Tietê 15 mil m3 de terra com lixo e entulho. São necessários até mil caminhões para retirar esse material, que fica nas margens do rio por até dois dias e depois vai para aterros sanitários, segundo o Departamento de Água e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (Daee), responsável pela obra. "Eu passava aqui e via outras pessoas catando. Daí resolvi vir também. A gente não tem opção", afirma Santos, que só estudou até a 4ª série do ensino fundamental. "Até para ser pedreiro estão pedindo o primeiro grau completo."
Já Silva admite que gosta do trabalho de "garimpeiro", pelo rendimento maior que o de pedreiro, que exercia sete meses antes de "descobrir" as obras no Tietê.
"Eu ganhava R$ 300 por mês, trabalhando quase sem descanso. Agora, ganho mais de R$ 600, consigo sustentar meus cinco filhos e controlo os meus horários."
Silva já chegou a pegar com o parceiro mais de 20 kg de alumínio em apenas um dia.
A jornada de trabalho acaba por volta das 17h, quando eles levam todo o material recolhido para um ferro-velho da zona leste.
Sobre a insalubridade do local, o risco de contaminação e o perigo de estar ao lado das máquinas e às margens do rio, eles dizem que se protegem com luvas e botas e que lavam as mãos com álcool.
"Não somos garimpeiros. Somos sobreviventes", diz Santos.

Outro lado
Segundo o Daee, funcionários da obra -que gera 1.800 empregos diretos- fazem uma triagem superficial do lixo que fica nas margens para secagem.
Para o superintendente do órgão, Ricardo Daruiz Borsari, o número de "garimpeiros" deve ser pequeno, e as ocorrências desse tipo de ação, "isoladas".
Ele afirma que fiscais vistoriam diariamente as intervenções no rio. Já Santos e Silva dizem que nunca foram abordados por nenhum funcionário da obra.
"Procuraremos retirar essas pessoas o mais rápido possível, até mesmo pelo risco que elas estão correndo. Mas acredito que sejam poucas as ocorrências desse tipo", diz Borsari.


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