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OPINIÃO
A praga do "managed care"
ANTONIO CELSO NASSIF
Há algum tempo abrimos a discussão sobre o "managed care",
sistema nascido e desenvolvido
nos EUA a partir de 1973. Comenta-se que o presidente Richard Nixon, naquela época, teria assinado
o "HMO Act", que regulamentou
as organizações de assistência à
saúde, em meio a uma grande festa na Casa Branca, por pressão e
oportunidade dos interessados.
A partir daí, o grande horizonte
lucrativo foi aproveitado pelas
empresas mercantilistas, independentemente do que ocorresse com
a medicina, os médicos e os usuários. E as consequências estão aí,
conturbando o sistema de saúde
dos EUA, mas proporcionando
lucros fabulosos às empresas.
Exemplo: só o presidente da empresa Aetna U.S. Healthcare, J.T.
Sebastianelli, embolsou em 1996
US$ 4,9 milhões, fora dividendos
pagos aos acionistas. A empresa é
parceira da Sul América Seguros
no Brasil -chama-se, agora, Sul
América Aetna Saúde. Entrou antes mesmo da aprovação pelo Senado da lei que regulamenta os
planos de saúde e autoriza a participação de empresas estrangeiras.
Temos alertado para a gravidade
da situação. É preciso evitar que os
médicos brasileiros passem de
"prestadores" a "compradores" de
serviços e impedir, como disse o
dr. David Himmelstein, professor
da Harvard Medical School, que
eles "desçam pelo atalho percorrido pelos médicos americanos".
Até o presidente Clinton, em
discurso, fez referência ao setor,
sinalizando nitidamente para esse
sistema que fere a dignidade médica e o relacionamento com os pacientes. A Argentina já foi dominada pelo "managed care". Lá, os
médicos recebem de US$ 4 a US$ 8
por consulta e não podem reclamar, pois não têm opção.
As empresas seguradoras ligadas
aos grandes bancos e as de medicina de grupo, eufóricas, anunciam
que a entrada do sistema no Brasil
é "irreversível" e os médicos terão
que "digeri-lo goela abaixo".
Com certeza, em 98, todas as
empresas que atuam no Brasil passarão a trabalhar com esse modelo. Dois grandes eventos sobre o
tema, um promovido pela Abramge e outro pela Fenaseg, acontecerão em São Paulo neste mês.
A Associação Médica Brasileira
elencou em dez itens um documento com os pontos mais perigosos do "managed care". Espera-se que isso sirva para conscientizar os médicos sobre essa praga
que afeta vários países, proporciona lucros fantásticos aos empresários e destrói a medicina ética e
digna. Os profissionais precisam
conhecer profundamente esse novo modelo, com sutilezas, malícias, aviltamentos, imposições antiéticas. Só assim estarão preparados para enfrentá-lo.
Antonio Celso Nunes Nassif, 63, é médico e
presidente da Associação Médica Brasileira
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