São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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GOLPE
Pedinte em situação irregular pode ser acusado de estelionato
Grupos fazem denúncia, mas não evitam fraudes

Marcio Fernandes/ Folha Imagem
Garoto vestido de guarda mirim na av. Washinton Luís, em SP


da Reportagem Local

Usar o nome de uma entidade beneficente para ganhar doações sem a autorização da instituição já virou caso de polícia.
Luiz Barreto, presidente do Gaoa (Grupo de Apoio e Orientação contra Aids), com sede na Penha (zona leste de São Paulo), flagrou três pessoas pedindo dinheiro com o crachá da entidade, que proíbe seus associados de fazer esse tipo de arrecadação.
Ele registrou a ocorrência no 66º DP (vale do Aricanduva), onde foi aberto inquérito policial.
No entanto, a tentativa de Barreto de intimidar falsos voluntários alertando a polícia foi em vão.
Na semana passada, Erasmo Xisto dos Santos, 24, foi encontrado pela Folha apresentando-se aos motoristas como membro do Gaoa na região do Jardim Europa (zona sudoeste).
"Só fico com metade. O resto vai para a instituição", disse o falso voluntário. Santos contou que faz o mesmo trabalho, das 10h30 às 18h30, de segunda a sexta, há pelo menos seis anos.
Arrecada de R$ 30 a R$ 40 por dia. Vai trabalhar de carro (Corcel 2, 1980) e diz que sustenta sua mulher "com folga".
Outro exemplo de quem apelou para a imagem de voluntário para ter seu ganha-pão foi Rholdão José da Silva, 33, que vende canetas por R$ 1 na região da Cidade Universitária (zona sudoeste).
Apesar de não ser portador de deficiência, ele se fez passar por um voluntário da União Nacional dos Deficientes Físicos, dizendo que ficava com apenas 30% do total arrecadado (R$ 40 por dia).
A instituição, que existe e tem sede no centro da cidade, afirma: nunca viu a cor do dinheiro.
As polícias Civil e Militar dizem que casos como esses não são corriqueiros. "Alguns marginais se aproveitam dessa tática, mas, para a polícia, é difícil provar", afirma o capitão Roberto Alves, relações-públicas da PM.
Segundo ele, se não houver queixa, é difícil deslocar policiais para fazer o flagrante. "Também não podemos deixar constrangidas as pessoas que estão fazendo um trabalho sério", diz.
Pedir dinheiro para entidades não é crime, desde que todas as informações passadas durante a arrecadação sejam verdadeiras. Na comprovação de irregularidade, o pedinte pode ser acusado de estelionato, apropriação indébita de bens ou falsidade ideológica, cujas penas variam de um a quatro anos de prisão. (ASS e AI)


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