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Violência pára aulas e afugenta moradores
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
Mais um confronto entre traficantes na madrugada de ontem
voltou a assustar os moradores
dos morros do Encontro e da Matinha, em Engenho Novo, bairro
da zona norte do Rio. Anteontem,
duas pessoas, entre elas uma mulher grávida, morreram durante
um tiroteio nas favelas.
Não houve vítimas desta vez,
mas os moradores estão apavorados com a violência imposta pelo
tráfico de drogas. Na escola municipal que funciona em uma das
entradas da favela, poucos alunos
apareceram para assistir às aulas.
Muitas mães foram até lá comunicar que os filhos passariam a frequentar outra instituição.
Na turma de André, 6, na qual
há 32 alunos, apenas mais dois
meninos e uma menina estavam
presentes ontem. Ele estuda na
mesma sala da filha de Vanessa
Ananias de Oliveira, 22, morta
durante o conflito de anteontem.
"Meus colegas estão com medo
porque a mãe de uma amiga nossa morreu. Todo mundo está com
medo de que aconteça alguma
coisa de ruim com a gente", disse
André, chorando.
Uma professora do pré-primário, que não quis se identificar,
contou que, da sua turma de 37
alunos, só dois compareceram.
"Isso está uma guerrilha. As mães
estão com medo e não deixam os
filhos virem. Muitas têm ligado
para cá, avisando que vão matriculá-los em outro lugar."
Pelo menos oito escolas da região ficaram fechadas ontem.
A poucos metros do colégio, um
prédio que tem a fachada crivada
por pelo menos 19 balas está
abandonado. O número 85 da rua
Açaré está localizado em uma esquina, de frente para os morros
do Encontro, da Matinha e dos
Macacos, e é atingido por tiros toda vez que os traficantes das três
favelas entram em guerra.
Foi no pátio do edifício que o
pedreiro David Machado dos
Reis, 19, morreu após ser baleado,
na madrugada de segunda-feira,
no momento em que tentava escapar do tiroteio
No edifício de três andares só
moram o zelador com a mulher e
o filho. O último morador deixou
o prédio há cerca de oito meses.
Vizinhos disseram que o dono do
imóvel está tentando vender o
edifício há dois anos, mas não encontra interessados. Ninguém
aparece para alugar os apartamentos vagos, e o próprio zelador
está procurando outro emprego
para poder ir embora.
O cozinheiro Antônio Santos,
38, também está tentando vender
a casa onde mora com a mulher e
o filho de 1 ano e 8 meses. "Faz
mais de seis meses que nós dormimos no corredor, porque é o
único local seguro da casa. Isso
não é vida. Quando comprei essa
casa, não sabia que a violência era
tanta", diz ele, apontando para as
14 marcas de tiro nas paredes.
Na rua ao lado, Leandro Galvão,
23, mostra seu carro que foi destruído pelo último tiroteio. Podem-se contar 39 marcas de balas.
Ele disse que, no auge do confronto de segunda-feira, ligou para a
polícia pedindo por socorro. "Eles
me responderam que era para eu
ajoelhar e rezar."
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