São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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RIO

Grupos rivais do Comando Vermelho duelam por controle de pontos-de-venda; nem presença da Polícia Militar cessa tiroteio

Guerra do tráfico na Rocinha faz 5 vítimas

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

ALESSANDRO FERREIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Três civis inocentes e dois policiais militares mortos. Esse é saldo da disputa entre grupos de traficantes vinculados à facção criminosa Comando Vermelho (CV) pelo controle dos pontos-de-venda de cocaína e maconha na favela da Rocinha, na zona sul do Rio, durante o dia de ontem.
Na madrugada, segundo a Polícia Civil, criminosos liderados por Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, vestidos com coletes da Polícia Civil, bloquearam a avenida Niemeyer (ligação entre São Conrado e Leblon, na zona sul) para iniciar a operação de tomada da Rocinha, onde o comércio de drogas é controlado por Luciano Barbosa da Silva, o Lulu.
Participaram dessa investida cerca de 60 traficantes armados. O bloqueio serviu para roubar os carros necessários para a invasão.

Furou o bloqueio e morreu
O Citröen em que estava Telma Pinto Veloso, 38, dirigido por Renato Gonzaga, seu marido, não obedeceu o mando de parada dos traficantes. Ela foi morta com um tiro na cabeça. Gonzaga e o sobrinho Bernardo Alves foram feridos pelos estilhaços. O sobrinho Artur Pinto, 16, foi baleado e está internado no Hospital Espanhol (centro). O casal, que vivia em Belo Horizonte (MG), morava no Rio havia três meses.
Após roubar seis carros, o grupo de Dudu foi para a Rocinha, mas deparou com policiais militares. Houve tiroteio. Alguns traficantes desistiram e fugiram para o Vidigal, morro vizinho.
Um outro grupo conseguiu furar o cerco policial e alcançou a Rocinha pela estrada da Gávea. Na curva do S, eles enfrentaram traficantes do bando de Lulu. Acuado, o grupo invasor largou os carros e fugiu correndo.
Outros homens ligados a Dudu e que estavam no Vidigal tentaram invadir a Rocinha pela mata e dispararam contra a favela.
Um tiro atingiu o peito de Fabiana Oliveira, 24, que estava em uma moto com o marido, Edson de Moura. Ela morreu na hora. Moura foi baleado no cotovelo esquerdo. Outro inocente, Wellington da Silva, 27, também foi alvejado e morreu.
O confronto entre os grupos de criminosos durou cinco horas na madrugada. Segundo testemunhas, os traficantes de Dudu passaram esse tempo todo atirando do alto do Vidigal. Na tentativa de acabar com os tiros, a Polícia Militar cercou o morro e iniciou uma busca aos integrantes do CV.

Presos
Cinco suspeitos escaparam ao cerco, atravessaram a Niemeyer, trocaram tiros com policiais e se atiraram ao mar. Todos foram presos -dois, baleados; um, de 15 anos, corre risco de morte.
Em menos de uma semana, foi a segunda tentativa de Dudu de ocupar a Rocinha. No domingo, ação policial frustrou a investida.
A polícia suspeita de que Dudu tenha agido a mando do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, preso na penitenciária Bangu 1 (zona oeste).
Para invadir a Rocinha, Dudu teve apoio de traficantes de outras favelas dominadas pelo Comando Vermelho, como as do complexo do Alemão e de Vigário Geral (na zona norte), e a do Vidigal.
À noite, os ataques entre os bandos ligados ao CV foram retomados. Nesse horário, a polícia já havia deslocado 380 homens para fazer o patrulhamento da Rocinha e do Vidigal. O tenente Marcelo Rolim e o soldado Luís Cláudio Gomes Ramos, ambos do Bope (Batalhão de Operações Especiais), foram vítimas de uma emboscada. Baleados, morreram a caminho do hospital. Um morador que andava de bicicleta foi ferido por bala perdida.


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