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RIO
Grupos rivais do Comando Vermelho duelam por controle de pontos-de-venda; nem presença da Polícia Militar cessa tiroteio
Guerra do tráfico na Rocinha faz 5 vítimas
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
ALESSANDRO FERREIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Três civis inocentes e dois policiais militares mortos. Esse é saldo da disputa entre grupos de traficantes vinculados à facção criminosa Comando Vermelho
(CV) pelo controle dos pontos-de-venda de cocaína e maconha
na favela da Rocinha, na zona sul
do Rio, durante o dia de ontem.
Na madrugada, segundo a Polícia Civil, criminosos liderados por
Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, vestidos com coletes
da Polícia Civil, bloquearam a
avenida Niemeyer (ligação entre
São Conrado e Leblon, na zona
sul) para iniciar a operação de tomada da Rocinha, onde o comércio de drogas é controlado por
Luciano Barbosa da Silva, o Lulu.
Participaram dessa investida
cerca de 60 traficantes armados. O
bloqueio serviu para roubar os
carros necessários para a invasão.
Furou o bloqueio e morreu
O Citröen em que estava Telma
Pinto Veloso, 38, dirigido por Renato Gonzaga, seu marido, não
obedeceu o mando de parada dos
traficantes. Ela foi morta com um
tiro na cabeça. Gonzaga e o sobrinho Bernardo Alves foram feridos
pelos estilhaços. O sobrinho Artur
Pinto, 16, foi baleado e está internado no Hospital Espanhol (centro). O casal, que vivia em Belo
Horizonte (MG), morava no Rio
havia três meses.
Após roubar seis carros, o grupo de Dudu foi para a Rocinha,
mas deparou com policiais militares. Houve tiroteio. Alguns traficantes desistiram e fugiram para o
Vidigal, morro vizinho.
Um outro grupo conseguiu furar o cerco policial e alcançou a
Rocinha pela estrada da Gávea.
Na curva do S, eles enfrentaram
traficantes do bando de Lulu.
Acuado, o grupo invasor largou
os carros e fugiu correndo.
Outros homens ligados a Dudu
e que estavam no Vidigal tentaram invadir a Rocinha pela mata e
dispararam contra a favela.
Um tiro atingiu o peito de Fabiana Oliveira, 24, que estava em
uma moto com o marido, Edson
de Moura. Ela morreu na hora.
Moura foi baleado no cotovelo esquerdo. Outro inocente, Wellington da Silva, 27, também foi alvejado e morreu.
O confronto entre os grupos de
criminosos durou cinco horas na
madrugada. Segundo testemunhas, os traficantes de Dudu passaram esse tempo todo atirando
do alto do Vidigal. Na tentativa de
acabar com os tiros, a Polícia Militar cercou o morro e iniciou uma
busca aos integrantes do CV.
Presos
Cinco suspeitos escaparam ao
cerco, atravessaram a Niemeyer,
trocaram tiros com policiais e se
atiraram ao mar. Todos foram
presos -dois, baleados; um, de
15 anos, corre risco de morte.
Em menos de uma semana, foi a
segunda tentativa de Dudu de
ocupar a Rocinha. No domingo,
ação policial frustrou a investida.
A polícia suspeita de que Dudu
tenha agido a mando do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, preso na penitenciária Bangu 1 (zona oeste).
Para invadir a Rocinha, Dudu
teve apoio de traficantes de outras
favelas dominadas pelo Comando
Vermelho, como as do complexo
do Alemão e de Vigário Geral (na
zona norte), e a do Vidigal.
À noite, os ataques entre os bandos ligados ao CV foram retomados. Nesse horário, a polícia já havia deslocado 380 homens para
fazer o patrulhamento da Rocinha e do Vidigal. O tenente Marcelo Rolim e o soldado Luís Cláudio Gomes Ramos, ambos do Bope (Batalhão de Operações Especiais), foram vítimas de uma emboscada. Baleados, morreram a
caminho do hospital. Um morador que andava de bicicleta foi ferido por bala perdida.
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