São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2006

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CRIME EM CASA

Estudante, que confessou participação na morte dos pais, é flagrada por câmera sendo orientada a fingir

"Começa a chorar", diz advogado a Suzane

ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Suzane von Richthofen -que confessou a participação na morte dos pais Manfred e Marísia Richthofen, assassinados em casa, enquanto dormiam, com golpes de cano de ferro, em outubro de 2002- está sendo orientada a fingir sofrimento e choro em entrevistas, como estratégia para tentar ser absolvida em seu julgamento, por meio de júri popular.
O programa "Fantástico", da Rede Globo, gravou conversas em que Suzana é orientada a atuar durante a entrevista por seu advogado Mario Sergio de Oliveira e por Denivaldo Barni Junior, de quem o pai era amigo e colega de trabalho de Manfred von Richthofen. É o que mostrou a reportagem exibida ontem pelo programa da Rede Globo.
Durante a primeira entrevista, concedida à Globo na última quarta-feira, Suzane olhou para Barni Junior -que tem abrigado a filha do casal assassinado- 13 vezes e deu impressão que estava chorando 11 vezes. Em nenhum momento, de acordo com a reportagem, apresentou marcas de lágrimas.

Conversa
No dia seguinte, em um segundo encontro, em Itirapina, a 100 km de São Paulo, a reportagem flagrou uma conversa entre Barni Junior e Suzane.
"Fala que eu não vejo", orienta Denivaldo Barni Junior, em frase cujo sentido não foi explicado. "Eu não vou conseguir", comenta Suzane, antes de olhar para trás, ver a família de Barni e gritar, abrindo os braços.
Durante uma das seguidas interrupções que Suzane fez durante a entrevista, alegando estar abalada e não querer mais falar sobre o assunto, a reportagem flagra, atrás de uma porta, mais uma conversa de Suzane com um interlocutor.
"Acabou, mais nada. Começa a chorar e mais nada", orienta uma voz a Suzane. "Fala: "Pelo amor de Deus, não quero mais tocar nesse assunto"." De acordo com um perito consultado pelo programa, a voz é do advogado Mario Sergio de Oliveira.

Semelhança
O comportamento de Suzane foi semelhante durante entrevista à revista "Veja", de acordo com a reportagem do programa "Fantástico".
Em diversas interrupções durante a entrevista, Suzane colocava as mãos no rosto, como se chorasse, e olhava como à espera da aprovação de Barni Junior.
"Voltaria para os meus 15 anos, quando não tinha conhecido ninguém para machucar eles [meus pais]", afirmou Suzane ao ser questionada se gostaria de voltar ao passado. "[Sinto] muita falta. Eles fazem muita falta", declarou.
Suzane, que assumiu ter auxiliado os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, assassinos dos pais, disse sentir "muito ódio" do ex-namorado, Daniel. "Ele sempre me dava muita droga. Isso foi acabando comigo." Ela não responde sobre o plano que culminou no assassinato de seus pais ou sobre o dia das execuções.
Na versão dos irmãos Cravinhos, Suzane costumava afirmar que não era uma pessoa feliz enquanto não enterrasse os pais.
As entrevistas fazem parte da estratégia de defesa do advogado Mario Sergio de Oliveira devido o julgamento, marcado para o dia 5 de junho, ser por meio de júri popular. A acusação que pesa sobre os três é de duplo homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima).


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