São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

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Há 3 dias no IML, jovem procura por 15 parentes

BRUNA FANTTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Uma saga para tentar achar e identificar 15 parentes mortos. Assim pode ser resumida a rotina dos últimos três dias de Cássia Monteiro, 17, na fila de espera do IML, na Leopoldina, zona norte do Rio.
Já tendo feito o reconhecimento de três irmãos, da avó, de uma tia e de duas primas, Cássia voltou ontem ao IML para reconhecer outros tios e primos. No total, foram 15 parentes que morreram no deslizamento de terça de manhã no morro dos Prazeres, de onde 25 corpos foram resgatados.
Cássia só soube da tragédia quando voltava para casa, após passar a noite fora.
Acompanhada de dois tios, sua expressão foi de perplexidade ao saber pelo IML que o corpo de sua mãe, Jurema Monteiro, não estava lá.
"Cheguei a ficar feliz, na esperança de que ela estivesse viva, mas lembrei que meu tio pegou o número da viatura que retirou o corpo do hospital", disse, desnorteada.
O tio, Luiz Monteiro, 30, morador de um bairro da Baixada Fluminense, estava inconformado. "Já tentei entrar em contato até com os diretores do IML e do Hospital Souza Aguiar, onde ela foi socorrida, mas não obtive sucesso. Parece que o corpo evaporou". A família ainda enfrentava outro drama: duas crianças, uma de 10 anos e outra de 8 meses, ainda estavam sob os escombros.
Diante de tantos mortos e desaparecidos, outro tio de Cássia, Luiz Carlos Ribeiro, fez uma lista com nomes de amigos e familiares mortos e soterrados. O nome de Jurema, sua prima de segundo grau, tinha um ponto de interrogação.
A notícia do desaparecimento do corpo de Jurema fez com que os bombeiros elevassem para cinco os desaparecidos no morro dos Prazeres. O tenente-coronel Márcio Magnelli, que comanda o resgate no local, acha que pode ter ocorrido um erro de comunicação.
"Vizinhos disseram que a levaram com vida para o hospital onde ela faleceu. Mas diante desse desencontro, ela pode estar aqui, então voltamos a procurar", disse.
O local das buscas, a rua Gomes Lopes, era tomada por curiosos e parentes de vítimas ainda soterradas. Sebastião Armond, 33, acompanhava a procura pelos corpos de dois sobrinhos. A família de Sebastião morava ao lado da família Monteiro. Da casa deles, seis pessoas já haviam sido retiradas mortas e outras duas estavam em estado grave no hospital.
O diretor do IML, Frank Ferline, disse que o corpo de Jurema pode ter sido levado para outro instituto localizado no bairro de Campo Grande, mas a informação não foi confirmada.


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