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TRÁFICO
Levantamento do Denarc revela perfil de traficantes e dependentes; destes, 75 em cada 100 não têm emprego
Desemprego engrossa tráfico de drogas
GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial
A elevação do desemprego está
produzindo o aumento do tráfico
de drogas em São Paulo. Documento produzido pelo Departamento de Investigações sobre
Narcóticos (Denarc) revela que,
de cada 100 dependentes, 75 estão
desempregados, arriscados a entrar no círculo vicioso da marginada e a engrossar o contingente
de mão-de-obra dos traficantes.
A relação entre drogas e desemprego, já fartamente documentada nos EUA e Europa, começa a
ser medida no Brasil, num levantamento do perfil de traficantes e
dependentes baseado em 981 entrevistas feitas pelo Denarc.
Reservadamente, delegados admitem que o tráfico está fora de
controle devido à falta de recursos
para o combate e à dimensão da
crise social.
"Num ambiente de falta de perspectivas, o tráfico de drogas está
virando, cada vez mais, uma alternativa de emprego. É uma bomba
social", afirma o chefe do Denarc,
Jorge Miguel.
O tráfico não pára de crescer.
Em 1991, foram dados 485 flagrantes; ano passado, 1.346. Naquele
ano foram apreendidos 550 quilos
de cocaína; em 1997, 780 quilos.
Delegados e estudiosos de criminalidade enumeram as mais variadas razões para o aumento do tráfico, mas são unânimes em apontar a desocupação como um dos
principais fatores.
Responsável pelo combate de
drogas nas escolas, a delegada Elizabeth Sato tem constatado a repetição de um história: o indivíduo não consegue colocação, está
fora da escola ou tem baixa escolaridade. Por conseqüência, ele se vê
tentado ao tráfico. "Eles se explicam dizendo que não conseguem
emprego ou não sobrevivem com
o subemprego", afirma a delegada
Elizabeth Sato.
De acordo com as estatísticas, a
imensa maioria dos dependentes
tem entre 15 e 30 anos- justamente a faixa que o desemprego
atinge com maior dureza.
Dados do Dieese-Seade informam que, nessa faixa, a desocupação em São Paulo atinge os 30%.
Essa percentagem sobe nas camadas mais pobres, sem qualificação
e com baixa escolaridade.
Relação com desemprego
Um estudo do Ilanud, feito pelo
sociólogo Túlio Kahn, demonstrou que o aumento do desemprego provoca aumento da delinquência, notadamente o furto. O
Ilanud é um órgão da ONU que
trata da prevenção à violência.
Kahn acompanhou as curvas de
desemprego desde 1980. Constatou que, à menor oferta de trabalho, correspondia a elevação dos
furtos. Sua pesquisa revela que, no
auge do Plano Cruzado, com a redução do desemprego, os furtos
caíram 14% na Grande São Paulo.
Já em 1992, em plena recessão, subiram cerca de 7%.
"O tráfico passa a ser ainda mais
atraente diante da falta de opções
para os jovens", afirma Kahn,
lembrando que o desemprego é
apenas mais um dos fatores sociais por trás das drogas.
Perfil
De acordo com o perfil colhido
pelo Denarc, além de desempregado e da idade entre 15 e 30 anos,
o dependente é solteiro e, em sua
maioria, completou apenas o primeiro grau.
As drogas preferidas são, pela
ordem, o crack e a cocaína.
"Um traficante, mesmo iniciante, consegue tirar R$ 900 por mês.
Quantos empregos seriam capazes
de oferecer essa remuneração?",
pergunta Jorge Miguel.
O resultado é que o perfil do traficante revela que vai crescendo a
porcentagem dos desempregados
ou subempregados presos como
traficantes.
Do total de presos por tráfico no
ano passado, 76% apresentam escolaridade baixa -até primeiro
grau-, que os desabilitam a progredir no mercado de trabalho;
cerca de 60% são analfabetos ou
não tem sequer o primeiro grau.
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