São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EDUCAÇÃO

Pesquisa feita em 2.351 estabelecimentos de todo o país mostra ainda que o problema provoca aumento de violência

Consumo de drogas atinge 32% das escolas

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisa inédita feita em todo o país revela que o consumo de drogas está presente em 32,1% das escolas de ensino médio e fundamental. Já o tráfico de entorpecentes aparece em 21,7% desses estabelecimentos. A consulta foi feita em unidades de ensino municipais, estaduais e particulares.
Os índices constam da pesquisa "Retratos da Escola 2", da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação. No estudo, divulgado ontem, foram ouvidos cerca de 20 mil alunos e 2.000 professores e funcionários em 2.351 estabelecimentos de ensino.
No estudo, o parâmetro para atestar a presença de tráfico ou de consumo de drogas nas escolas permite que o problema seja ocasional ou frequente e possa ter ocorrido dentro ou no entorno da escola pesquisada.
No caso de tráfico de drogas, o Rio Grande do Sul aparece, em extrato da pesquisa com dados por Estado, com o maior índice de ocorrência ocasional dentro e fora da escola -23,1% e de 40,4%, respectivamente. Nesse item, o Estado de São Paulo está em 10º (9,8%) e 6º (34,7%) lugares.
Já as escolas da Paraíba aparecem na liderança de casos de consumo ocasional de droga nas dependências do estabelecimento de ensino -43,2% (São Paulo, 15,4%) e as do Ceará no entorno -66,7% (São Paulo, 22,9%).
"Os índices, quaisquer que sejam eles, nos amedrontam porque eles atingem crianças e adolescentes", disse Teresa Leitão, secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.

Efeito
Apesar da presença de tráfico e de consumo de drogas poder aparecer apenas fora da escola, o estudo aponta que os problemas afetam diretamente a vida e o desempenho dos estudantes e dos funcionários de um estabelecimento de ensino.
O levantamento permite chegar à conclusão que as drogas não chegam sozinhas às escolas. Elas provocam também aumento de agressões, roubo, furto, pichações, sujeira e depredação.
E o pior: diminuem a probabilidade de o aluno aprender e, consequentemente, ser aprovado.
Um dos itens da pesquisa, por exemplo, compara a porcentagem de agressões físicas em escolas com e sem presença de drogas. No primeiro caso, foi constatada ocorrência de agressões em 46,9% delas. No outro, a porcentagem cai quase pela metade (24%).
Esse exemplo se repete nos outros casos de violência. As porcentagens também mostram que escolas públicas apresentam os maiores índices, comparado aos das particulares.
Nas públicas, os maiores índices aparecem frequentemente nas escolas estaduais -onde, por exemplo, há 26% de presença de armas brancas. Uma explicação para esse comportamento é que essas unidades concentram, majoritariamente, os estudantes de 5ª a 8ª séries e com a faixa etária mais suscetível às drogas: de 11 a 17 anos, na maioria dos casos.
No aspecto da interferência da violência da aprendizagem, a diferença entre escolas particulares e públicas volta a aparecer, mas o contraste é maior, segundo o estudo da confederação.
Cruzamento de dados feitos no estudo aponta, por exemplo, que um aluno da 4ª série de escola pública terá 14,7% mais facilidade de aprendizagem se estiver em um estabelecimento em que não há presença de violência.
Mas, se o aluno estiver em uma escola particular, a porcentagem sobe para 49,6%. Nas unidades em que há violência, os estudantes de escolas particulares também serão mais afetados negativamente -25,2%, contra 7,4%, das escolas públicas.
A diferença se explica, de acordo com avaliação da secretária-geral, devido à banalização da violência entre a faixa mais carente da população. Ou seja: a violência perturba os mais favorecidos, que estariam mais protegidos contra o problema.



Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Vício: FHC elogia campanha em novela
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.