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PF só indicia pilotos americanos por acidente
Polícia considera que, no caso da queda do Boeing da Gol, controladores de vôo só podem ser punidos pela Aeronáutica
Para delegado, porém, punição deve ser difícil de ocorrer devido à origem dos indiciados; FAB também não deverá punir controladores
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal concluiu o
inquérito sobre o acidente do
Boeing da Gol -no qual 154
pessoas morreram- com o indiciamento apenas dos tripulantes do jatinho Legacy, Joe
Lepore e Jan Paul Paladino, envolvido na colisão.
A PF apontou a responsabilidade dos controladores de vôo
no choque entre as duas aeronaves, mas sem indiciá-los, por
entender que eles só podem ser
punidos pela Justiça Militar.
O inquérito foi enviado ontem à Justiça de Mato Grosso,
que o remeterá em breve para o
Ministério Público Federal no
Estado. No caso dos pilotos, o
Ministério Público terá prazo
de 15 dias (prorrogáveis) para
analisar a documentação e propor ou não a denúncia.
Em relação aos controladores de vôo, repassará as considerações feitas pela PF ao Ministério Público Militar (os
controladores são militares).
Em nenhum dos dois casos,
porém, deve haver punições
efetivas. Segundo a Folha apurou, na Aeronáutica predomina a tese de que os controladores não têm de ser punidos,
mesmo se comprovada falha
humana no monitoramento
das aeronaves. O objetivo da
Aeronáutica seria descobrir as
causas que levaram à colisão e
adotar medidas preventivas
para evitar novos acidentes.
Punição difícil
Para o delegado da PF Renato Sayão, responsável pelo inquérito, muito dificilmente os
pilotos sofreriam penas eventualmente impostas pela Justiça brasileira. Como são cidadãos americanos e foram para
os EUA, ele não acredita que os
dois voltem ao Brasil caso sejam considerados culpados.
Como não há previsão legal
consolidada para forçá-los a vir
para cá ou para aplicação da
sentença em solo americano,
uma condenação no Brasil não
teria efeito prático.
"Falando no campo hipotético, supondo que eles venham a
ser denunciados pelo Ministério Público e depois condenados pela Justiça, mas não acredito que cumpram pena eventualmente imposta pela Justiça
brasileira", disse Sayão.
Na opinião do delegado, o caminho mais viável para que as
famílias das vítimas obtenham
algum tipo de reparação é na
esfera cível, em ações por danos
movidas nos EUA.
No final do ano passado, a polícia já havia indiciado os pilotos americanos (mantendo a
decisão na conclusão do inquérito) por entender que eles expuseram a aeronave a perigo de
forma culposa -sem intenção.
Um dos relatórios preliminares do inquérito instaurado pela PF apontou, com base nos
diálogos captados pela caixa
preta do jatinho, que somente
após a colisão com o avião da
Gol, os pilotos perceberam que
o transponder (equipamento
que permite comunicação precisa com radares em terra e outros aviões) estava desligado.
O jatinho Legacy só ressurgiu
nos radares após o choque com
o avião da Gol, indicando que o
transponder pode ter sido ligado só depois do acidente.
Sayão disse que a conclusão
do inquérito não traz maiores
novidades em relação ao que já
foi publicado pela imprensa
nos últimos meses. Citou como
exemplo os diálogos entre Lepore e Paladino, que serviram
de base para o indiciamento
dos dois pilotos.
No caso dos controladores,
eles teriam cometido uma série
de falhas, permitindo que as
duas aeronaves voassem em rota de colisão.
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