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Documento diz que clube ensina geologia
da Reportagem Local
Quem passear pelos 13,5 mil m2
que formam o Runner Club, no
Bairro Colina de São Francisco,
encontrará salas de musculação,
quadras de tênis, uma piscina coberta e outra ao ar livre, bicicletas
ergométricas e campo de futebol.
Verá muita gente se exercitando
e ouvirá das recepcionistas que ali
funciona "a maior e mais completa
academia do Brasil".
A qualificação também aparece
em folhetos publicitários distribuídos pelas funcionárias. A página da Runner na Internet acrescenta que o empreendimento une
o conceito de academia à "estrutura de um clube de grande porte".
Para a prefeitura, porém, o complexo esportivo da av. Dr. Cândido
Mota Filho não é nem clube nem
academia de ginástica. É um "parque de lazer", destinado à "educação ambiental" e onde há salas que
concentram informações sobre
flora, fauna, geologia, tectônica e
recursos hídricos.
Documentos municipais que regularizam o Runner Club o definem dessa maneira -e não se trata apenas de jogo de palavras.
A Lei de Zoneamento proíbe academias de ginástica nas regiões
classificadas como Z17, caso do
Colina de São Francisco, e só permite, em tais lugares, clubes com
edificações de até 250 m2.
Assim, para conseguir a aprovação do complexo esportivo na prefeitura, a construtora Gafisa precisou disfarçá-lo.
O disfarce
De acordo com a lei, uma Z17 pode abrigar os chamados E4. São
"estabelecimentos e instalações
sujeitos à preservação ou a controle específico" por exibirem, entre
outras características, "valor estratégico para a segurança pública"
ou "valor paisagístico especial".
A própria lei dá 45 exemplos de
E4 e determina que só é possível
construí-los se a Secretaria do Planejamento (Sempla) autorizar.
A lista inclui aeroportos, bases
militares, cemitérios, centrais de
polícia, monumentos, portos, zoológicos e parques de animais selvagens, ornamentais e de lazer.
Eis o disfarce de que a Gafisa necessitava. Em 1995, a empresa comunicou à Sempla que pretendia
fazer um "parque de lazer - E4" no
Colina de São Francisco. Também
encaminhou à secretaria as plantas
do futuro empreendimento e um
texto de seis páginas detalhando o
projeto.
Os documentos diziam que o
parque iria se compor de um "bosque de mata atlântica" e de duas
edificações, com área construída
total de 8.424,80 m2. Explicavam,
ainda, que teria como meta principal disseminar informações de caráter ecológico por meio de atividades educativas e esportivas (leia
trechos nesta página).
O projeto previa, além das salas
com dados científicos, um "centro
de documentação e consulta", que
ofereceria uma "biblioteca voltada
para as questões ambientais".
A Sempla considerou que a proposta se adequava à definição de
E4 e autorizou a construção em junho de 1995. Quase nove meses depois, a Secretaria da Habitação
(Sehab) aprovou as plantas. Em setembro de 1998, uma festa com a
presença de atletas famosos inaugurou o Runner Club.
As duas edificações previstas
realmente saíram do papel, mas o
bosque de mata atlântica não.
Tampouco há sinais de "educação
ecológica" ou de informações sobre biologia e geologia. O prédio
que iria sediar o centro de documentação abriga, na verdade, estandes de vendas da Gafisa.
Mesmo com tantos senões, a regional do Butantã deu uma licença
de funcionamento para o Runner
Club em março de 1999, atestando
que no Colina existe, sim, um parque de lazer.
(AA)
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