São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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Prefeitura libera obra irregular

ARMANDO ANTENORE
da Reportagem Local

O paulistano mora, sem saber, em duas cidades diferentes. Uma é a São Paulo real. Outra é a São Paulo de mentira, que só existe oficialmente, em papéis da prefeitura.
Oitenta e um documentos municipais consultados pela Folha entre 24 de março e 7 de maio revelam a ambiguidade. Todos tratam de um único empreendimento imobiliário, o Bairro Colina de São Francisco.
A construtora Gafisa -uma das maiores do país- o lançou há quatro anos na zona sudoeste, em área sob a responsabilidade da Administração Regional do Butantã, tradicional seara do vereador Brasil Vita (PPB), integrante da CPI da Câmara que investiga a máfia da propina.
Os papéis analisados incluem alvarás, licenças, plantas e relatórios -o produto do trâmite burocrático que regularizou cada uma das edificações erguidas pela empresa sobre o terreno de 230 mil m2 da av. Dr. Cândido Mota Filho.
E o que, afinal, se construiu ali? Quem habita a São Paulo real verá um loteamento de classe média alta, com 13 prédios residenciais, um shopping e um complexo esportivo, misto de clube e academia de ginástica, explorado pela Runner.
Quem se limitar à consulta dos documentos também encontrará os 13 edifícios. Só que, em vez do complexo esportivo, vai achar um parque. E, no lugar do shopping, nove pequenos prédios para fins comerciais e de serviço.
O Colina real contraria a Lei de Zoneamento, que desde 1972 norteia o uso e a ocupação do solo na cidade. O Colina que está no papel é perfeitamente regular.
"Casos assim são mais comuns do que se imagina", afirma a arquiteta e urbanista Regina Monteiro, vice-presidente do Movimento Defenda São Paulo, que reúne 250 associações de bairro e entidades ecológicas.
"A burocracia da prefeitura", explica, "viabiliza empreendimentos que, quando concretizados, viram outra coisa e acabam não só passando por cima da lei como causando grande impacto ambiental."


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