São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2005

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RETRATOS DO BRASIL

Estudo da FGV indica que Rio de Janeiro e Distrito Federal são os locais com maior percentual de "solitárias"

Mulher rica e instruída vive mais sozinha

FERNANDA MENA
DA SUCURSAL DO RIO

Quanto mais instruídas, mais urbanas, mais velhas e mais ricas, mais as mulheres brasileiras de hoje tendem a viver sozinhas.
É isso que aponta uma pesquisa divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas, com base no Censo. O estudo, do diretor do Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Marcelo Néri, indica que o percentual de mulheres sozinhas subiu de 35% para 38% entre 1970 e 2000. Entre as com maior grau de instrução, a proporção cresce -48,54% das mulheres com 12 ou mais anos de estudo estão sós.
Néri crê que o dado seja conseqüência do ingresso maciço de mulheres no mercado de trabalho. "A revolução feita pelas mulheres criou oportunidades de elas optarem se querem ficar sozinhas ou acompanhadas."
Hoje, as mulheres que vivem sozinhas -solteiras convictas, divorciadas, descasadas ou viúvas- têm renda 62% maior que a das mulheres acompanhadas.
No topo do ranking da solidão feminina por Estado estão Distrito Federal e Rio. Além de terem um nível de renda e educação alto em relação ao resto do país, são as unidades federativas mais metropolitanas. "As grandes cidades, e as capitais em particular, têm proporção muito maior de mulheres sozinhas, mas também de homens que vivem sós", diz Néri.
Viver em grandes aglomerados metropolitanos aumenta as chances de estar só. É o que a pesquisa chama de "capitais da solidão". Enquanto nas capitais 45,4% das mulheres estão sozinhas, nas áreas rurais elas são 25,6%. Na cidade de São Paulo, 44,19% das mulheres acima de 20 anos vivem sós, enquanto que os homens sozinhos representam 34,17%.
Em muitas cidades brasileiras o número de mulheres sozinhas pode ser explicado pela lei da oferta. Em outras, pelas diferentes expectativas de vida. "As mulheres se casam com homens mais velhos em 74% dos casos. Como os homens vivem menos, hoje temos cerca de 40% das mulheres com mais de 60 anos viúvas."
Para a coordenadora do Laboratório de Casal e Família do Instituto de Psicologia da USP, Isabel Cristina Gomes, não é porque essas mulheres mais educadas e com maior renda não estão inseridas num modelo tradicional de relacionamento que elas estão sem ninguém. "A mulher de hoje está muito mais exigente na hora de escolher uma relação."
Segundo o estudo, aos 35 anos, a proporção entre homens e mulheres sozinhos é a mesma. Mas a cada ano, essa diferença é ampliada um ponto percentual. Aos 50 anos, as mulheres sozinhas são 33,6% -os homens são 15,2%.

Bem-sucedidas e exigentes
Ana Verônica Mautner, 69, psicanalista e colunista da Folha, diz que as solteiras administram melhor a realização simultânea de tarefas como estudar e trabalhar. "Elas gostariam de encontrar homens do mesmo nível. Aí fica difícil, porque eles têm dificuldade em realizar a dupla jornada, então elas ficam mais sozinhas."
Renata Ruiz, 33, webdesigner que mora na Consolação (centro de São Paulo), concorda. "A gente acaba ficando mais exigente. Eu prezo a qualidade no relacionamento", diz ela, que trabalha e faz pós-graduação em marketing.
Outro fator citado por Mautner é a atração que os centros urbanos exercem sobre os solteiros. "Uma mulher solteira em uma cidade pequena é imediatamente tachada de titia. Em uma cidade grande é mais fácil ser anônima", explica.


Colaborou LUCIANA PAREJA


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