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RETRATOS DO BRASIL
Estudo da FGV indica que Rio de Janeiro e Distrito Federal são os locais com maior percentual de "solitárias"
Mulher rica e instruída vive mais sozinha
FERNANDA MENA
DA SUCURSAL DO RIO
Quanto mais instruídas, mais
urbanas, mais velhas e mais ricas,
mais as mulheres brasileiras de
hoje tendem a viver sozinhas.
É isso que aponta uma pesquisa
divulgada ontem pela Fundação
Getúlio Vargas, com base no Censo. O estudo, do diretor do Centro
de Políticas Sociais do Instituto
Brasileiro de Economia da FGV,
Marcelo Néri, indica que o percentual de mulheres sozinhas subiu de 35% para 38% entre 1970 e
2000. Entre as com maior grau de
instrução, a proporção cresce
-48,54% das mulheres com 12
ou mais anos de estudo estão sós.
Néri crê que o dado seja conseqüência do ingresso maciço de
mulheres no mercado de trabalho. "A revolução feita pelas mulheres criou oportunidades de
elas optarem se querem ficar sozinhas ou acompanhadas."
Hoje, as mulheres que vivem sozinhas -solteiras convictas, divorciadas, descasadas ou viúvas- têm renda 62% maior que a
das mulheres acompanhadas.
No topo do ranking da solidão
feminina por Estado estão Distrito Federal e Rio. Além de terem
um nível de renda e educação alto
em relação ao resto do país, são as
unidades federativas mais metropolitanas. "As grandes cidades, e
as capitais em particular, têm proporção muito maior de mulheres
sozinhas, mas também de homens que vivem sós", diz Néri.
Viver em grandes aglomerados
metropolitanos aumenta as chances de estar só. É o que a pesquisa
chama de "capitais da solidão".
Enquanto nas capitais 45,4% das
mulheres estão sozinhas, nas
áreas rurais elas são 25,6%. Na cidade de São Paulo, 44,19% das
mulheres acima de 20 anos vivem
sós, enquanto que os homens sozinhos representam 34,17%.
Em muitas cidades brasileiras o
número de mulheres sozinhas
pode ser explicado pela lei da
oferta. Em outras, pelas diferentes
expectativas de vida. "As mulheres se casam com homens mais
velhos em 74% dos casos. Como
os homens vivem menos, hoje temos cerca de 40% das mulheres
com mais de 60 anos viúvas."
Para a coordenadora do Laboratório de Casal e Família do Instituto de Psicologia da USP, Isabel
Cristina Gomes, não é porque essas mulheres mais educadas e
com maior renda não estão inseridas num modelo tradicional de
relacionamento que elas estão
sem ninguém. "A mulher de hoje
está muito mais exigente na hora
de escolher uma relação."
Segundo o estudo, aos 35 anos, a
proporção entre homens e mulheres sozinhos é a mesma. Mas a
cada ano, essa diferença é ampliada um ponto percentual. Aos 50
anos, as mulheres sozinhas são
33,6% -os homens são 15,2%.
Bem-sucedidas e exigentes
Ana Verônica Mautner, 69, psicanalista e colunista da Folha, diz
que as solteiras administram melhor a realização simultânea de tarefas como estudar e trabalhar.
"Elas gostariam de encontrar homens do mesmo nível. Aí fica difícil, porque eles têm dificuldade
em realizar a dupla jornada, então
elas ficam mais sozinhas."
Renata Ruiz, 33, webdesigner
que mora na Consolação (centro
de São Paulo), concorda. "A gente
acaba ficando mais exigente. Eu
prezo a qualidade no relacionamento", diz ela, que trabalha e faz
pós-graduação em marketing.
Outro fator citado por Mautner
é a atração que os centros urbanos
exercem sobre os solteiros. "Uma
mulher solteira em uma cidade
pequena é imediatamente tachada de titia. Em uma cidade grande
é mais fácil ser anônima", explica.
Colaborou LUCIANA PAREJA
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