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SEGURANÇA
O déficit no sistema penitenciário chega a 128.815 vagas e é maior do que a lotação do estádio do Maracanã
Número de presos dobra em 8 anos no país
TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA
A população carcerária do Brasil dobrou entre os anos de 1995 e
2003. No meio da década de 90,
havia 148.760 detentos; hoje, existem 308.304. O déficit de vagas teve um aumento de 60,7% -de
80.163 vagas para 128.815.
O déficit de vagas hoje é maior
que a lotação do estádio do Maracanã (122 mil pessoas) e é quase
igual ao total da população carcerária de 1995 (148.760).
Os dados constam de estudo
que o governo federal encomendou sobre as condições dos presídios e da população carcerária. O
relatório ao qual a Agência Folha
teve acesso foi feito pela ex-diretora do Sistema Penitenciário e
ouvidora de Polícia no Estado do
Rio de Janeiro, Julita Lemgruber.
O Brasil tem a segunda maior
população carcerária da América,
com 187,7 presos para cada
100.000 habitantes (os EUA têm
740 para cada 100.000 habitantes).
O déficit mais do que dobrou de
2002 para 2003. De um ano para o
outro, a população carcerária aumentou em 68.197 ingressos, e o
sistema perdeu 2.376 vagas.
A população carcerária contabilizada é a que já foi condenada a
qualquer pena privativa de liberdade e está presa. Ela deveria estar
reclusa em estabelecimentos penitenciários, só que parte dela se
encontra em locais inadequados
para o cumprimento da pena, como as cadeias de delegacias. Os
números estão atualizados até novembro de 2003 e foram obtidos
com os governos estaduais.
Para Lemgruber, a falta de vagas
é a principal causa para a superlotação que caracteriza os presídios
brasileiros. A lotação impede que
haja socialização e atendimento
correto da população carcerária,
o que acaba criando tensão e violência. As constantes rebeliões
nos presídios são o resultado final
dessa falta de infra-estrutura para
manter os condenados. "Temos
verdadeiros retratos do inferno
nos presídios. Uma maior racionalidade na imputação de penas,
o uso de penas alternativas e um
empenho do Estado na melhoria
dos presídios existentes e na construção de novos é fundamental
para resolver o problema."
"A informatização dos dados
sobre os apenados e sobre as suas
penas permitiria que mais condenados tivessem acesso a benefícios, como cumprir as penas em
regime semi-aberto", disse Marcelo Freixo, da ONG Justiça Global, que participou do estudo.
O Ministério da Justiça afirma
que esforços estão sendo feitos segundo as determinações do Plano
Nacional de Segurança. O diretor
do Departamento Penitenciário,
do ministério, Cleiton Nunes, diz
que precisa haver um comprometimento maior de toda a sociedade e dos Estados. "Há um afastamento dos profissionais que deveriam estar na área penitenciária. Não existe sintonia entre os
órgãos nos Estados, secretarias da
Segurança, pastorais, patronatos
para melhorar as condições e viabilizar a saída dos presos", disse.
"A população carcerária passa a
aumentar muito quando se tem
um enfrentamento maior ao crime nos Estados. O diagnóstico
feito pelo departamento é de que
entram no sistema quase 9.000
presos e saem cerca de 5.400."
Um dos principais problemas
acarretados pela falta de vagas é a
utilização das delegacias para a
manutenção de presos já condenados para os quais não há vagas
no sistema penitenciário. As delegacias, legalmente, só poderiam
manter detentos durante prisões
provisórias. Na prática, depois de
condenados pela Justiça, os presos permanecem em delegacias
ou casas de custódia, como a de
Benfica, no Rio de Janeiro, onde
houve uma rebelião, em maio,
que terminou com 30 mortos.
Minas é o Estado com a pior relação de presos condenados sendo mantidos em delegacias. No
Estado, 77,8% dos condenados
estão em delegacias e apenas
22,2% estão devidamente no sistema penitenciário. O subsecretário da Administração Penitenciária de Minas, Agílio Monteiro Filho, disse que o Estado quer acabar com o déficit até 2006.
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