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TRANSPORTE
Licitação do governo Marta Suplicy prevê a adoção, no ano que vem, de veículos mais seguros e confortáveis
SP trocará peruas e vans por microônibus
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os veículos que consagraram os
motoristas de lotação na segunda
metade dos anos 90 estão com os
dias contados na cidade de São
Paulo. A licitação que a gestão
Marta Suplicy (PT) vai lançar para selecionar novos perueiros e
empresas de ônibus para operar
na capital paulista a partir de 2002
prevê a extinção das peruas e
vans. Só microônibus e miniônibus serão habilitados ao transporte coletivo de passageiros.
O veto a modelos do tipo Kombi, Besta, Topic e Hyundai, tolerados até agora pelo governo municipal, não vai ocorrer diretamente
na fase de seleção. Os perueiros
até poderão disputar com esse tipo de veículo uma das 6.000 vagas
previstas para a categoria, mas receberão um prazo, provavelmente de seis meses, para comprar um
microônibus ou miniônibus.
A prefeitura decidiu adotar esse
critério, com respaldo dos especialistas que participaram da elaboração do programa de Marta,
para favorecer os aspectos de conforto e segurança dos usuários.
Há até uma resolução do Contran
(Conselho Nacional de Trânsito),
de 1996, estabelecendo essa substituição, mas ignorada pela maioria dos prefeitos do país.
Entre as deficiências das peruas
e vans estão a baixa altura do teto,
que impede a circulação dos passageiros em pé, a ausência de corredores internos, de janelas e portas de emergência. Se há um incêndio, os motoristas não têm como abrir a porta automaticamente, cabendo a função a quem está
sentado nas proximidades.
A licitação feita no ano passado
pelo ex-prefeito Celso Pitta
(PTN), que selecionou 4.042 perueiros e foi suspensa na atual
gestão, incluía as vans e peruas. A
nova exigência deve provocar resistência da categoria, já que muitos ainda acumulam prestações
de modelos antigos e os preços de
microônibus e miniônibus são
mais altos, na faixa de R$ 70 mil.
Eles conseguem pagar em torno
de R$ 20 mil por uma Kombi e a
partir de R$ 45 mil por uma van.
Ao adotar a mudança, a administração Marta segue a experiência de Santo André, no ABC paulista, também governada pelo PT
e uma das pioneiras na implantação de um sistema de microônibus. A diferença é que, nesse município, são empresas, e não autônomos, os operadores. "As vans e
peruas não são adequadas ao
transporte coletivo. Já passou da
hora de São Paulo fazer alguma
mudança", afirma Klinger Luiz de
Oliveira Sousa, secretário de Serviços Municipais de Santo André.
"A mudança do veículo é positiva. Mas ainda me preocupa a permanência dos perueiros na operação. A prefeitura não tem como
controlar tanta gente", diz Laurindo Junqueira, ex-secretário
dos Transportes de Santos e de
Campinas e assessor técnico da
ANTP (Associação Nacional de
Transportes Públicos).
A Folha teve acesso a parte dos
estudos da licitação envolvendo
perueiros e viações de ônibus em
São Paulo. As principais idéias são
confirmadas pelo secretário dos
Transportes, Carlos Zarattini.
A intenção é dividir a cidade em
lotes estruturais, que abrangem
os grandes corredores viários, e
lotes locais, que envolvem as ruas
e avenidas menores, restritas aos
bairros. A primeira rede ficará a
cargo das viações de ônibus e
manterá a tarifa atual, de R$ 1,40.
A segunda será destinada preferencialmente aos microônibus e
miniônibus e terá um valor menor da passagem. Haverá ainda
um bilhete único, com valor acima de R$ 1,40, que permitirá a utilização ilimitada de conduções
por até duas horas.
Essa diferenciação pode ser outro motivo de conflito de Marta
com os perueiros. Hoje, eles adotam a mesma tarifa dos ônibus.
Após a licitação, ficarão restritos
às linhas locais, com um valor inferior. A justificativa da prefeitura
é que isso será compensado pelo
aumento dos usuários e pela redução dos custos, já que eles só terão linhas de curta distância.
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