São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2001

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TRANSPORTE

Licitação do governo Marta Suplicy prevê a adoção, no ano que vem, de veículos mais seguros e confortáveis

SP trocará peruas e vans por microônibus

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os veículos que consagraram os motoristas de lotação na segunda metade dos anos 90 estão com os dias contados na cidade de São Paulo. A licitação que a gestão Marta Suplicy (PT) vai lançar para selecionar novos perueiros e empresas de ônibus para operar na capital paulista a partir de 2002 prevê a extinção das peruas e vans. Só microônibus e miniônibus serão habilitados ao transporte coletivo de passageiros.
O veto a modelos do tipo Kombi, Besta, Topic e Hyundai, tolerados até agora pelo governo municipal, não vai ocorrer diretamente na fase de seleção. Os perueiros até poderão disputar com esse tipo de veículo uma das 6.000 vagas previstas para a categoria, mas receberão um prazo, provavelmente de seis meses, para comprar um microônibus ou miniônibus.
A prefeitura decidiu adotar esse critério, com respaldo dos especialistas que participaram da elaboração do programa de Marta, para favorecer os aspectos de conforto e segurança dos usuários. Há até uma resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), de 1996, estabelecendo essa substituição, mas ignorada pela maioria dos prefeitos do país.
Entre as deficiências das peruas e vans estão a baixa altura do teto, que impede a circulação dos passageiros em pé, a ausência de corredores internos, de janelas e portas de emergência. Se há um incêndio, os motoristas não têm como abrir a porta automaticamente, cabendo a função a quem está sentado nas proximidades.
A licitação feita no ano passado pelo ex-prefeito Celso Pitta (PTN), que selecionou 4.042 perueiros e foi suspensa na atual gestão, incluía as vans e peruas. A nova exigência deve provocar resistência da categoria, já que muitos ainda acumulam prestações de modelos antigos e os preços de microônibus e miniônibus são mais altos, na faixa de R$ 70 mil. Eles conseguem pagar em torno de R$ 20 mil por uma Kombi e a partir de R$ 45 mil por uma van.
Ao adotar a mudança, a administração Marta segue a experiência de Santo André, no ABC paulista, também governada pelo PT e uma das pioneiras na implantação de um sistema de microônibus. A diferença é que, nesse município, são empresas, e não autônomos, os operadores. "As vans e peruas não são adequadas ao transporte coletivo. Já passou da hora de São Paulo fazer alguma mudança", afirma Klinger Luiz de Oliveira Sousa, secretário de Serviços Municipais de Santo André.
"A mudança do veículo é positiva. Mas ainda me preocupa a permanência dos perueiros na operação. A prefeitura não tem como controlar tanta gente", diz Laurindo Junqueira, ex-secretário dos Transportes de Santos e de Campinas e assessor técnico da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).
A Folha teve acesso a parte dos estudos da licitação envolvendo perueiros e viações de ônibus em São Paulo. As principais idéias são confirmadas pelo secretário dos Transportes, Carlos Zarattini.
A intenção é dividir a cidade em lotes estruturais, que abrangem os grandes corredores viários, e lotes locais, que envolvem as ruas e avenidas menores, restritas aos bairros. A primeira rede ficará a cargo das viações de ônibus e manterá a tarifa atual, de R$ 1,40. A segunda será destinada preferencialmente aos microônibus e miniônibus e terá um valor menor da passagem. Haverá ainda um bilhete único, com valor acima de R$ 1,40, que permitirá a utilização ilimitada de conduções por até duas horas.
Essa diferenciação pode ser outro motivo de conflito de Marta com os perueiros. Hoje, eles adotam a mesma tarifa dos ônibus. Após a licitação, ficarão restritos às linhas locais, com um valor inferior. A justificativa da prefeitura é que isso será compensado pelo aumento dos usuários e pela redução dos custos, já que eles só terão linhas de curta distância.



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