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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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AMBIENTE

Resolução define distância mínima entre sepulturas e lençol freático e dá prazo de seis meses para adequação

Conselho impõe regras para cemitérios

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) publicada em maio deste ano é o primeiro instrumento de alcance nacional a regulamentar a instalação e o funcionamento de cemitérios no país.
No entanto, para especialistas e representantes do setor ouvidos pela Agência Folha, a medida terá efeito restrito, pois eles consideram quase impossível a adaptação dos cemitérios atuais às exigências previstas no documento.
A norma dá um prazo de seis meses -a partir da publicação da resolução- para os cemitérios se adaptarem a uma série de exigências, como a manutenção de distância mínima de 1,5 m do fundo das sepulturas para o lençol freático e de 5 m da área de sepultamento para o limite do cemitério.
A resolução também submete os cemitérios ao processo de licenciamento ambiental, abrindo a possibilidade de simplificação de padrões para cemitérios de pequeno porte (menos de 500 jazigos), localizados em cidades com menos de 30 mil habitantes e que não integrem complexos urbanos ou regiões metropolitanas.
Até a publicação da resolução do Conama -órgão colegiado do Ministério do Meio Ambiente-, a questão era regida por leis estaduais ou municipais específicas. Em alguns casos, as normas são até mais rígidas.

Contaminação
Localização e operação inadequadas de cemitérios podem contaminar águas subterrâneas pelo "necrochorume" -neologismo que designa o líquido viscoso e de cor castanho-acinzentada resultante da decomposição de cadáveres- e por tintas e vernizes, utilizados em caixões.
No lençol freático localizado abaixo do Cemitério da Paz, em Belo Horizonte, o geólogo Walter Costa, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), encontrou bactérias e metais pesados. O cemitério foi criado em 1967.
Para o vice-presidente da Acembra (Associação Brasileira de Cemitérios), Flávio Magalhães, o impacto ambiental causado por cemitérios é "desprezível". Apesar de concordar com a resolução, afirma que não há como cumprir regras de distância mínima, que, segundo ele, jogarão grande parte dos cemitérios na ilegalidade.
O gerente de necrópoles da Prefeitura de Belo Horizonte, José da Costa Filho, diz que a resolução "chegou cem anos atrasada". "Como vou retirar todos os corpos, regularizar a situação e retorná-los [para o local de origem]?"
Segundo Fárida Ximenes, do Conama, cabe aos órgãos ambientais estaduais e municipais, responsáveis pela aplicação da resolução, definirem regras para adaptação de empreendimentos já existentes. Para o geólogo Costa, da UFMG, a resolução é "superficial" e "pouco rígida" em relação aos cemitérios atuais.
A minuta da resolução foi elaborada por um grupo de trabalho criado em maio do ano passado e que contou com a representação de diversos setores da sociedade.
Durante as discussões, o Ministério Público do Paraná e a ANA (Agência Nacional de Águas) criticaram o que consideraram participação excessiva de representantes dos cemitérios.

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