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SANEAMENTO
Empresa receberá como pagamento reservatórios em que já detinha o direito de uso; especialistas acham acordo positivo
SP faz acordo para pagar dívida à Sabesp
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem maior divulgação, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) fez
um acordo para pagar em dez
anos uma dívida de R$ 678,8 milhões com a Sabesp (Companhia
de Saneamento Básico do Estado
de São Paulo) relativa a serviços
de fornecimento de água, coleta
de esgoto e complementação de
aposentadorias, compromissos
não pagos pelo Estado desde 1985.
O equacionamento dessa dívida
é considerado uma medida positiva, segundo analistas ouvidos
pela Folha, pois representaria um
"saneamento contábil" nos balanços da empresa e a garantia,
em tese, do fluxo de caixa futuro.
Mas há dúvidas sobre a transparência desse acerto e as vantagens
para a Sabesp, que receberá, a título de "amortização parcial", reservatórios nos quais fez investimentos e já detinha o direito de
uso. Teme-se que a Sabesp pague
duas vezes pelos investimentos e
seja obrigada a imobilizar bens de
que não precisaria, em vez de receber dinheiro em caixa, reduzindo o seu forte endividamento.
O acordo foi celebrado em 11 de
dezembro de 2001 entre a Sabesp
e a Secretaria da Fazenda. Prevê
saldar dívidas de R$ 358,2 milhões
(água e esgoto) e R$ 320,6 milhões
(aposentadorias) em 144 parcelas
mensais, corrigidas pelo IGP-M e
com juros de 6% ao ano. O Departamento de Águas e Energia Elétrica transferirá à Sabesp os reservatórios Taiaçupeba, Jundiaí, Biritiba, Paratinga e Ponte Nova.
A Sabesp tem ações em Bolsa,
fez emissões no exterior e desfruta
de excelente imagem entre analistas de mercado. Mas esse ajuste
contábil traz à tona as práticas comuns em companhias abertas nas
quais o Estado faz prevalecer a sua
vontade de acionista majoritário.
Há, ainda, o desconforto político para os tucanos, ao tratar de
uma dívida não-honrada tanto
por governos do PMDB (Orestes
Quércia e Luiz Antonio Fleury)
quanto do PSDB (Franco Montoro, então do PMDB, e Covas).
"O Estado, ao longo dos anos,
sempre foi um devedor das empresas. Isso não aconteceu só com
a Sabesp", diz o secretário de
Energia, Recursos Hídricos, Saneamento e Obras, Mauro Arce,
60. "No passado, o Estado usou as
empresas para obter recursos.
Achava que não devia pagar as
contas de água, de esgoto, a energia elétrica", diz o secretário.
O uso das empresas para obtenção de recursos pelo acionista majoritário ainda é uma prática recente. Empreiteiros reclamam
que, em dezembro, a Sabesp pagou à Fazenda estadual R$ 120 milhões como saldo dos juros sobre
o capital próprio relativos a 2000.
A retirada contrariou uma espécie de "acordo de cavalheiros" feito no início do governo Covas,
prevendo que os recursos que
coubessem ao Estado, a título de
dividendos, seriam usados para
compensar a dívida acumulada.
"Evidentemente, o acionista minoritário gostaria que o Estado
não tirasse o dinheiro, e que fosse
abatendo essa dívida antecipadamente", diz Arce. "Só que o Estado não está mais devendo, pois
fez esse acordo, que eu não vou
discutir, pois foi assinado e aprovado pelo Conselho de Administração, e hoje é credor da Sabesp".
Segundo o secretário, o Estado
teria direito a receber R$ 437 milhões do lucro de 2001 a ser pago
como juros do capital próprio
neste ano. Mas o governo propôs
receber R$ 145 milhões, parcelados, de junho a dezembro. O restante cobrirá as contas de água e
esgoto deste ano. Os acionistas
minoritários receberam em junho
o que tinham direito, diz Arce.
O cidadão comum só viria a saber do equacionamento das dívidas da Sabesp se fizesse uma leitura detida das informações distribuídas em notas explicativas nos
últimos demonstrativos da Sabesp fornecidos à Comissão de
Valores Mobiliários.
A Sabesp pode alegar que foi
"transparente". Num relatório
trimestral, ela informou que as
operações de vendas para entidades do governo estadual eram
realizadas em condições normais
de mercado. Mas alertou: "excetuando-se quanto à forma de liquidação dos créditos".
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