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ADMINISTRAÇÃO
Ao desqualificar primeiras propostas, prefeitura disse que valores eram excessivos; custo ainda excede previsão do edital
Em nova licitação do lixo, preço só cai 1,4%
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas semanas após terem seus
preços desclassificados pela prefeitura sob a alegação de que eram
excessivos ou inconsistentes, os
grupos que disputam a licitação
da coleta do lixo em São Paulo
apresentaram novas propostas
com descontos que representam
uma redução média de só 1,42%
nos menores valores iniciais.
Se forem homologadas pela administração Marta Suplicy (PT),
essas ofertas vão continuar acima
da previsão do edital da concorrência, alvo de acusações de fraude e de ilegalidades. Ou seja, R$
837,55 milhões além do estimado.
Além disso, significará que os
mesmos consórcios que já haviam ganhado na primeira tentativa de licitação vão se manter como vencedores nos mesmos lotes.
O consórcio liderado pela Vega
voltou a oferecer a melhor proposta para os serviços na região
noroeste, de R$ 4,80 bilhões, redução de apenas 0,53% em relação ao preço anterior, de R$ 4,82
bilhões. Os valores oferecidos pelo segundo e terceiro colocados
(Bandeirantes 2, liderado pela
Queiroz Galvão, e Qualix) foram
0,28% e 0,45% mais altos.
Na área sudeste, a segunda em
disputa, um consórcio liderado
pela Queiroz Galvão também voltou a oferecer a melhor proposta,
de R$ 5,04 bilhões, queda de
2,26% em relação ao valor anterior -de R$ 5,16 bilhões.
A Secretaria de Serviços e Obras
do governo Marta, responsável
pela licitação, não informou ontem se vai aceitar os novos preços,
que totalizam, nos dois lotes, R$
9,84 bilhões, 9,3% acima dos R$ 9
bilhões estimados por técnicos
municipais no edital da concorrência. A pasta diz que eles passarão por análise. É a maior contratação do tipo já feita no país.
Eleições
A Folha apurou que os grupos
participantes demonstram pressa
em assinar os contratos, que, além
de serem válidos por 20 anos, poderão ser prorrogados por igual
período -atingindo 40 anos.
O vencimento da contratação
atual -na qual Vega e Queiroz
Galvão também participam- será em outubro, mês que coincide
com as eleições municipais.
Em 2000, empresas de lixo foram as principais doadoras da
campanha de Marta -foram R$
983 mil, 18,2% do total arrecadado segundo a prestação de contas
oficial. Só a Vega doou R$ 500 mil.
A primeira tentativa de licitação
só foi anulada pela prefeitura quase quatro três meses após a Folha
ter publicado reportagem sobre
documento registrado em cartório que antecipava os vencedores
da disputa (Vega e Queiroz Galvão) e os valores aproximados de
cada proposta -R$ 5 bilhões.
O documento falava numa suposta combinação entre os participantes, pela qual os perdedores
seriam compensados na licitação
da varrição, que está parada.
Desde então, a concorrência sofreu reviravoltas. A prefeitura
chegou a aprovar no final de julho
os preços dos três grupos habilitados tecnicamente. Mas, um mês
depois, desclassificou as mesmas
propostas sob a alegação de que
havia valores "excessivos" e planos inconsistentes de negócios.
A divulgação dos novos preços
ontem não deve encerrar a polêmica. Quirino Ferreira, advogado
ligado a uma empresa que disputa
a concorrência da varrição, voltou
a acusar a existência de combinação e registrou em cartório, no dia
1º deste mês, que os vencedores
seriam "os mesmos classificados
anteriormente", nos mesmos lotes, com pequenas variações dos
preços apresentados até então.
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