São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2005

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SEGURANÇA

PM recuperou com bandidos em Santos armamento dado na Campanha do Desarmamento; caso é "isolado", diz governo

PF perde armas entregues pela população

Erico Hiller/Divulgação
Manifestantes formam 3.234 -equivalente à queda de mortes com a campanha do desarmamento


DA REPORTAGEM LOCAL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo menos 11 armas entregues pela população na Campanha do Desarmamento foram apreendidas pela Polícia Militar nas mãos de criminosos na cidade de Santos (litoral sul de São Paulo).
As armas foram desviadas da sede da Polícia Federal do município, que abriu um inquérito para investigar o caso.
O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Teles Barreto, chamou ontem o caso de "fato isolado". "Acho que esse fato é isolado e de nenhuma maneira atrapalha a campanha, que é tão bem desenvolvida. Já foram recolhidas mais de 443 mil armas, que estão em total segurança e vêm sendo destruídas", afirmou o secretário, durante o lançamento de um estudo da Unesco sobre mortes por armas de fogo.
As informações sobre o número total de armas desviadas, no entanto, são desencontradas.
Até agora, de acordo com o delegado da PF José Roberto Sagrado da Hora, existe a confirmação de que apenas uma arma doada acabou sendo desviada. Uma pessoa foi indiciada pelo crime e chegou a ficar detida por dez dias, mas já está em liberdade.
O delegado contou que o desvio foi descoberto depois de a Polícia Militar prender um rapaz, no dia 6 de junho, com um revólver que deveria estar apreendido.
"Imediatamente fizemos um levantamento e descobrimos 83 incongruências, falhas administrativas no registro das armas entregues durante a campanha. Então, encaminhamos ofícios à PM e ao Exército informando sobre o fato. Isso não significa que 83 armas foram desviadas", afirmou.
O delegado explicou que, quando uma arma é entregue à PF, ela passa por três setores administrativos, que a registram, antes de ser enviada ao quartel do Exército.
"Entre as 83 falhas, descobrimos armas que não haviam sido registradas em um setor da PF, mas que tinham o registro de entrada no Exército. Por isso, estamos investigando o que realmente aconteceu", afirmou.
Segundo a Polícia Militar, as 11 armas desviadas da Campanha do Desarmamento foram encontradas entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2005. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que "comunicou a apreensão das armas ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ao Comando Sudeste do Exército e ao Ministério Público".
O delegado da PF, porém, afirmou que não recebeu qualquer tipo de notificação. "O que há confirmado até agora é o desvio de uma arma. É claro que a investigação está em andamento e outros fatos podem acontecer."

Prazo para perícia
O secretário-executivo do Ministério da Justiça explicou que as armas recolhidas na campanha são destruídas, mas há um prazo para que seja feita perícia e montada a logística para a destruição.
Em caso de transporte das armas, há também uma parceria com o Exército. "Estamos intensificando o recolhimento das armas, inclusive das mãos de bandidos", disse Teles Barreto.
Segundo o secretário, para tentar evitar a entrada de armas ilegais, o Brasil vai propor, na próxima reunião de ministros da Justiça do Mercosul, que os países vizinhos adotem campanhas de desarmamento. "Podemos propor até mesmo a proibição de venda nos limites da fronteira."
Além do inquérito, a PF abriu uma sindicância interna para apurar o caso. Suspeita-se que haja o envolvimento de vigilantes terceirizados no desvio. A polícia está analisando todos os registros das armas entregues em Santos.
Para o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, que participou da divulgação da pesquisa, o desvio é "estatisticamente insignificante". "Numa campanha em que se retira 430 mil armas, haver um caso de 80 é estatisticamente insignificante."


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