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"Mutações" e "aprendizado" são comuns após separações
"Não conseguimos conversar, é só gritaria", diz ex
DEBORAH GIANNINI
DA REVISTA DA FOLHA
Como os diamantes, ex é para
sempre. Mas, no segundo caso,
mesmo a eternidade de uma vida pode ser uma maldição.
Aquele homem com quem você
compartilhou tempo e intimidade agora quer te ver pelas
costas -ou nem assim. E a namorada para quem você, apaixonado, baixou a guarda, não
hesita em tirar partido das fraquezas reveladas em momentos doces.
"Ele/ela virou outra pessoa"
é o mantra padrão. Outro mantra comum nesses casos tem a
ver com o "aprendizado" que as
separações costumam suscitar
nos ex. Foi o que aconteceu
com a empresária Marli Aluizio
Gaz, 55. "Resolvi me afundar no
trabalho, comecei a valorizar
minha vida profissional assumindo o controle das minhas
próprias finanças. Isso trouxe
emoção à minha vida", diz.
Diante da avalanche de uma
separação, não há guru capaz
de prever como cada um vai
reagir. As "mutações" são inevitáveis e imprevisíveis, como sabe qualquer profissional que lida com implosões familiares.
"Quase 100% das pessoas não
têm idéia de como reagirão a
uma separação, a maioria se
surpreende, consigo mesma ou
com o outro. Às vezes, o casal
vai se preparando para o fim,
mas, quando acontece, os acordos feitos antes da ruptura não
são cumpridos e, emocionalmente, eles não agüentam",
afirma o psiquiatra Luiz Cuschnir, coordenador geral dos grupos de gênero do Serviço de
Psicoterapia do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas e autor do livro "Os Bastidores do Amor" (ed. Alegro).
Há sempre mais coisas em jogo do que revelam as razões
brandidas de lado a lado. "É um
plano de vida que você tem que
mudar. Eu me separei em 1987
e até hoje não tenho um relacionamento bom com minha
ex-mulher. Não conseguimos
conversar, é só gritaria", conta
o publicitário Maurício, 53 (nome fictício).
Um estudo norte-americano
realizado pela psicóloga Mavis
Hetherington, da Universidade
da Virgínia (EUA), observou
1.400 famílias ao longo de 40
anos e revelou que, após a separação, 30% dos indivíduos ficaram "melhores" do que eram,
ou seja, conseguiram potencializar qualidades pessoais com a
crise, 20% afundaram em depressões, e o restante não anotou quedas ou saltos significativos. Mesmo esses 50%, no entanto, dificilmente passam ilesos pelo período que os psicólogos chamam de "luto"-o inevitável sentimento de perda após
a morte de um projeto. No caso,
um projeto de vida em comum.
"Ninguém se casa por outro fator que não seja o desejo de ter
uma vida feliz e, quando isso
não acontece, a frustração é
muito grande", diz Maurício,
que chegou a ter impotência sexual e foi parar na terapia.
E se o jogo do relacionamento foi realmente sério, não há
possibilidade de só ganhar, como lembra Cushnir. "Quando a
pessoa segue outro rumo, fica a
sensação de que ela levou a história do casal, o que significa
parte de nossa própria história.
Quanto mais grudados um no
outro, maior a dilaceração."
A capacidade de reagir à dor
varia, mas a tendência da humanidade é partir para algum
tipo de exagero. Comer, trabalhar, beber ou chorar demais,
ou ainda, sair transando a torto
e a direito. "A pessoa resolve
colocar energia em alguma coisa na qual vê resultados. Comer
muito de repente te anestesia",
diz Rosane Mantilla de Souza,
professora da PUC-SP e psicóloga especializada em divórcios. Muito sexo também dá a impressão de estar "gozando a
vida" ou compensando o "tempo perdido".
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