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ADOLPHO PORTO ALVES (1919 - 2010)
A bela caligrafia e a encadernação
ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
O pai de Adolpho Porto Alves morreu muito cedo. A
mãe, tendo de sustentar cinco filhos, decidiu se mudar
de São José do Rio Pardo, no
interior paulista, para a capital. Aqui, ela foi trabalhar como professora primária.
Para ajudar em casa, Adolpho começou ainda jovem a
fazer serviços de escriturário.
Em livrões de capa dura, registrava dados contábeis.
Certo dia, ao ver o garrancho que ele usava nas anotações, o chefe lhe deu uma dura e um caderno de caligrafia.
Graças à medida, a letra de
Adolpho foi da água para o
vinho. Ficou como as usadas
em convites de casamento.
Quando a filha casou, por sinal, o cartão foi feito por ele.
A mãe, tesoureira numa
associação, passou a pedir
para ele preencher um livro
com a lista de doadores. Ele,
por troça, trocava os nomes,
para o desespero da mãe.
Adolpho estudou administração e trabalhou no Banco
da Província do Rio Grande
do Sul, onde se aposentou.
Durante um tempo, também deu aulas de economia
num colégio da zona norte.
Em 1949, casou-se com a
professora Irene. Quando ela
adoeceu, ele foi, aos 80 anos,
fazer um curso de encadernação para ter uma distração
em casa enquanto fazia companhia para a mulher.
Estava sempre com um livro debaixo do braço. Desprendido, costumava doar as
obras. Tinha como meta morrer sem bens. Dizia: "Vim
sem nada, vou sem nada".
Viúvo há sete anos, morreu na segunda, aos 91, devido a problemas renais. Teve
três filhos, seis netos e uma
bisneta. A missa de sétimo
dia será amanhã, às 19h, na
capela Santa Cruz, em SP.
coluna.obituario@uol.com.br
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