São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010

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ADOLPHO PORTO ALVES (1919 - 2010)

A bela caligrafia e a encadernação

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

O pai de Adolpho Porto Alves morreu muito cedo. A mãe, tendo de sustentar cinco filhos, decidiu se mudar de São José do Rio Pardo, no interior paulista, para a capital. Aqui, ela foi trabalhar como professora primária.
Para ajudar em casa, Adolpho começou ainda jovem a fazer serviços de escriturário. Em livrões de capa dura, registrava dados contábeis.
Certo dia, ao ver o garrancho que ele usava nas anotações, o chefe lhe deu uma dura e um caderno de caligrafia.
Graças à medida, a letra de Adolpho foi da água para o vinho. Ficou como as usadas em convites de casamento. Quando a filha casou, por sinal, o cartão foi feito por ele.
A mãe, tesoureira numa associação, passou a pedir para ele preencher um livro com a lista de doadores. Ele, por troça, trocava os nomes, para o desespero da mãe.
Adolpho estudou administração e trabalhou no Banco da Província do Rio Grande do Sul, onde se aposentou.
Durante um tempo, também deu aulas de economia num colégio da zona norte.
Em 1949, casou-se com a professora Irene. Quando ela adoeceu, ele foi, aos 80 anos, fazer um curso de encadernação para ter uma distração em casa enquanto fazia companhia para a mulher.
Estava sempre com um livro debaixo do braço. Desprendido, costumava doar as obras. Tinha como meta morrer sem bens. Dizia: "Vim sem nada, vou sem nada".
Viúvo há sete anos, morreu na segunda, aos 91, devido a problemas renais. Teve três filhos, seis netos e uma bisneta. A missa de sétimo dia será amanhã, às 19h, na capela Santa Cruz, em SP.

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