São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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Fortes chuvas provocaram deslizamentos de morros e inundações; segundo a prefeitura, cerca de 1.500 pessoas ficaram desabrigadas

Pelo menos 34 morrem em Angra dos Reis

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Resgate de pessoas soterradas na região conhecida como Grande Japuíba, uma das mais afetadas pelos deslizamentos de terra em Angra


MARIO HUGO MONKEN
ENVIADO ESPECIAL A ANGRA DOS REIS
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Uma forte chuva na noite de anteontem e na madrugada de ontem levou o caos ao município de Angra dos Reis, a 168 km do Rio. Pelo menos 34 pessoas morreram -entre elas seis crianças- e 150 ficaram feridas. Outras 1.500 estão desabrigadas.
O prefeito da cidade, Fernando Jordão (PSB), decretou estado de calamidade pública. Até as 22h, quando as buscas foram suspensas, cerca de 300 homens da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros tentaram localizar corpos de desaparecidos sob os escombros de casas destruídas e toneladas de lama e detritos.
A chuva começou por volta das 19h de domingo e aumentou à meia-noite. Angra dos Reis fica em uma região montanhosa. Com a chuva contínua, muitas barreiras começaram a deslizar no início da madrugada.
Por volta das 3h ocorreu o pior deslizamento, em Areal, às margens da rodovia BR-101 (Rio-Santos), na região conhecida como Grande Japuíba. Um morro, que não tinha muro de contenção, desabou sobre cerca de 20 casas. Como a maioria dos moradores dormia, a fuga e o socorro ficaram mais difíceis. A prefeitura não sabia, até as 21h45, quantas casas foram destruídas.
Moradores acordados pelo barulho da chuva forte viram duas avalanches: uma de água e, a seguir, outra de lama, arrastando troncos de árvores e pedras. O rio Japuíba, que passa ao lado da Rio-Santos, transbordou e inundou a comunidade.
"Ouvi um estrondo muito grande e muita gente gritando. Havia muita madeira e lama correndo. Saí de casa e fui ajudar a socorrer as vítimas", contou o morador Marco Braga, 47.
O quartel do Corpo de Bombeiros em Angra teve de pedir reforços, enviados por outros municípios. Voluntários também ajudaram nas buscas.
Houve ocorrências em toda a cidade, mas Grande Japuíba foi a região mais afetada. Só em Areal morreram 20 pessoas. Também houve mortes nas comunidades de Banqueta, Ribeira, Belém e Nova Angra, todas em Grande Japuíba. Outra região afetada foi o Parque Perequê, onde uma pessoa morreu.
Cerca de 1.500 pessoas tiveram de abandonar as casas, invadidas pela água, destruídas ou ameaçadas por novos deslizamentos. Os desabrigados foram acomodados em oito locais.
Quando a chuva diminuiu, os desabrigados tentaram, mesmo sob risco, voltar para casa na tentativa de salvar seus pertences. A área não foi isolada.
A Defesa Civil de Angra montou, em sua sede, uma central para arrecadar roupas e alimentos para os desabrigados. O comércio do município fechou para ajudar nos trabalhos de resgate e coleta de alimentos.
Parentes das vítimas eram orientados a ir ao IML (Instituto Médico Legal) para tentar identificar os corpos. Haverá um velório coletivo hoje no Colégio Arthur Vargas, no centro.
De manhã, a Rio-Santos foi interditada em quatro trechos por causa da lama e de pedras que desceram das encostas. Em Angra, muitos veículos chegaram a ser arrastados pela força da água.
Aos poucos, os bombeiros conseguiram liberar alguns pontos. No fim da tarde, a Rio-Santos estava com trânsito lento, mas livre. A ferrovia do Aço, que passa no morro acima do bairro de Areal, teve um trecho danificado.

Previsão
O Inmet (Instituto de Meteorologia) anunciou ontem que as chuvas vão continuar durante toda a semana. Segundo a meteorologista Marlene Leal, em 18 horas choveu em Angra do Reis quase metade do previsto para todo o mês de dezembro no município.
A previsão do Inmet era que choveria 265,5 milímetros em todo o mês de dezembro em Angra. Entre as 15h de anteontem e as 9h de ontem, choveu 129 milímetros.
A previsão da chegada de uma frente fria no Estado já havia sido anunciada na sexta-feira. "A tragédia aconteceu porque houve um encontro da massa de ar frio com a massa de ar quente em um momento de pico de temperatura", disse Leal.
A Defesa Civil da Prefeitura do Rio anunciou estar em alerta para a entrada de uma ressaca na orla da cidade até a noite de hoje.


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