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São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

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INTOLERÂNCIA

Skinhead se apresentaria ontem com advogado, mas não apareceu

Polícia identifica acusado de obrigar jovens a pular de trem

Reprodução
Os três supostos skinheads em imagens gravadas pela CPTM


AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia identificou um dos três skinheads acusados de ameaçar de morte na noite do último domingo os amigos Cleiton da Silva Leite, 20, e Flávio Augusto Nascimento Cordeiro, 16.
Segundo testemunhas, o trio obrigou os amigos a pular de um trem em movimento na estação Brás Cubas, em Mogi das Cruzes, Grande São Paulo, por não gostar da aparência dos dois rapazes, que usavam blusas e jaquetas com nomes de bandas de rock.
Segundo a polícia, o skinhead identificado mora no distrito César Souza, em Mogi das Cruzes, e realizou uma festa, anteontem, para comemorar seus 24 anos.
Segundo o delegado Renato de Almeida Barros, do 2º DP de Mogi, o acusado iria se apresentar às 10h de ontem, mas não apareceu. Barros afirmou que a identificação foi possível a partir da investigação policial, de telefonemas do disque-denúncia e de imagens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
O promotor Carlos Cardoso, assessor de direitos humanos do Ministério Público de São Paulo, afirmou que o órgão irá acompanhar as investigações com dois objetivos: apurar o que aconteceu com Leite e Cordeiro e identificar o grupo ao qual os três skinheads pertencem. "A apuração vai ajudar a descobrir se existem novos focos de skinheads no Estado."
Ontem, a CPTM divulgou novas imagens dos acusados. Os três homens brancos, com a cabeça raspada, de calças jeans, botas e casacos de estilo militar aparecem comprando passagens na estação de São Miguel Paulista, zona leste, por volta das 17h30.
O momento em que Cordeiro e Leite caíram em um vão de aproximadamente 30 centímetros entre o trem e a plataforma também foi gravado, e ocorreu às 21h15.
A viagem entre as duas estações dura cerca de 45 minutos. A CPTM está fazendo varredura nas imagens do sistema de segurança para saber qual a trajetória dos acusados nesse intervalo de quase quatro horas. A companhia supõe que eles desceram no Tatuapé, onde há um shopping.
Segundo testemunhas, assim que Cordeiro e Leite entraram no trem, os skinheads os ameaçaram com uma machadinha e bastões, dizendo: "Ou pula ou morre".
Cordeiro perdeu o braço direito, mas seu estado de saúde é estável. O jovem disse ontem que pode identificar os skinheads.
Leite, que sofreu traumatismo craniano e perda de massa encefálica, está em coma no hospital Luzia de Pinho Melo e, segundo os médicos, terá sequelas, se sobreviver. No hospital, a família recebia ontem o apoio de amigos, como a enfermeira Maria de Almeida da Silva, madrinha de Leite. "Eu vou ser a madrinha de casamento dele, nem que demore um ano ou dois anos", disse.
Parentes de Cordeiro pretendem processar a CPTM pela ausência de seguranças no trem. A CPTM diz que possui 1.428 seguranças para 355 trens que fazem em média 1.570 viagens diárias, e que é impossível estar em todos os lugares ao mesmo tempo.


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