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Crise expõe atraso do Brasil no setor aéreo
País é um dos cinco no mundo que mantêm o controle militar da área; medidas para resolver problemas devem ter efeito paliativo
A principal pendência, como melhorar as condições de trabalho dos controladores de vôo brasileiros, ainda carece de uma solução
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A caixa de Pandora do sistema aéreo brasileiro, destampada a partir do acidente aéreo
ocorrido com um Boeing da Gol
há 72 dias sobre um "ponto cego" na selva amazônica, não
tem prazo claro para deixar de
espalhar seus males.
Além de explicitar a falta de
preparo do governo federal
num setor estratégico, as soluções adotadas até aqui podem
até evitar o caos nos festejos de
fim de ano, mas sua sustentabilidade são duvidosas.
Enquanto isso, o governo de
Luiz Inácio Lula da Silva frita
sua credibilidade na chapa
quente dos atrasos e das cenas
de caos atingindo uma classe
média que fora parcialmente
conquistada na campanha do
segundo turno.
O sinal mais eloqüente do
atraso do governo para reagir à
crise foi o fato de que a intervenção direta da Presidência só
veio com o caos da terça-feira
passada, quando Lula se encontrou com empresários vindos
de todo o país para uma reunião
do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Soube ainda que outros não
conseguiram participar da reunião por falta de vôo.
Ouviu relatos nada agradáveis e decidiu agir -no caso,
pôr a fama de "gerentona" de
Dilma Rousseff (Casa Civil) à
prova pela primeira vez de verdade, entregando a ela a busca
por uma solução que a marola
entre Defesa e Aeronáutica não
permitia vislumbrar.
No centro da disputa, a natureza militar do controle aéreo
-e de toda a estrutura aeroportuária do país. O fato de que até
hoje os militares não lidam
bem com a existência de um superior civil, o ministro da Defesa. Com exceção do início do
mandato de José Viegas (2003-05), nenhum titular da pasta teve poder real. Assim, toda a estrutura abaixo do ministério
segue militar, e os curtos-circuitos são evidentes.
O ministro Waldir Pires e o
comandante da FAB, Luiz Carlos Bueno, estão se digladiando
desde o início do apagão. Pires
tomou partido dos controladores de vôo, que, militares, não
têm direito a greve ou se organizar em sindicatos formais.
Ao legitimar as reivindicações, que a um observador são
justas, visto que as condições
de trabalho dos controladores
chegaram a um ponto de degradação devido à falta de pessoal,
Pires causou a ira da área militar -que viu no antigo militante de esquerda um instigador
da quebra de hierarquia.
Lula deixou a crise correr até
que ambos -Pires e Bueno- se
desgastaram ao ponto de ser
necessária a intervenção direta
da Casa Civil.
Mas o problema central, que
é como melhorar as condições
dos controladores, ainda carece
de solução. Foi formado um
grupo de trabalho na Defesa
para estudar a desmilitarização, mas a panacéia contém alguns senões.
O Brasil é um dos cinco países no mundo que mantêm o
controle militar do espaço aéreo. Só que uma desmilitarização, com melhoria de cargos e
salários, levanta questões como
o que fazer com o resto da estrutura de pessoal -a exemplo
dos sargentos especialistas que
consertam antenas ou provocam inadvertidamente panes
como a de terça-feira passada.
Além disso, com toda a estrutura se digladiando entre o caráter militar e o civil, os choques seriam inevitáveis. A começar pelos radares, que são de
operação militar. Numa emergência, o coronel de plantão daria ordens a um civil, talvez até
ganhando mais que ele?
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