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Reino Unido privatizou o controle aéreo
Cerca de 30 empresas são responsáveis pela contratação de operadores e pela administração das torres em aeroportos britânicos
Modelo de parcerias público-privadas começou a vigorar na década de 40; governo atua como regulador do setor
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES
Descentralizado e privatizado, o controle do tráfego aéreo
de vôos comerciais no Reino
Unido, diferentemente do modelo estatal em vigor no Brasil,
é gerido, na maior parte, por
meio de PPPs (parcerias público-privadas).
O governo britânico cuida da
regulação do setor por meio da
Autoridade de Aviação Civil
(CAA), mas o processo de privatização do controle do tráfego começou no pós-guerra,
com empresas assumindo a
contratação de operadores de
vôo e a administração das torres de controle nos aeroportos
do país.
John Levesley, presidente da
Associação de Controladores
de Tráfego Aéreo do país, afirmou em entrevista à Folha
que, desde os anos 40, nunca
no Reino Unido uma companhia só esteve no controle do
tráfego aéreo civil.
"Todo o serviço de controle é
feito por cerca de 30 empresas,
porque um bom número de aeroportos emprega seus próprios operadores", explica.
Levesley destaca a peculiaridade do sistema. "A maioria
dos países europeus tem apenas uma organização que faz o
controle."
Última privatização
A última estatal a ser privatizada, em julho de 2001, foi o
Serviço Nacional de Tráfego
Aéreo, responsável pelos 2,3
milhões de vôos anuais que
passam pelos 15 principais aeroportos do Reino Unido, cinco
deles em Londres.
O governo britânico manteve
49% das ações da empresa, passando 5% aos funcionários e o
restante às maiores companhias aéreas do Reino Unido.
Sob comando das quase 30
empresas estão 2.800 operadores civis (o país tem ainda cerca
de mil militares na função) que
trabalham 35 horas por semana, em média, e têm intervalos
regulares a cada uma hora e
meia, para os que lidam com
tráfego mais intenso. É o caso
dos operadores do aeroporto
internacional de Heathrow, em
Londres, o maior do país, que
recebe uma média de 88 aviões
por hora.
Para se candidatar ao cargo
de controlador aéreo é necessário ter entre 18 e 27 anos -a
média de idade dos que entram
é 23- e passar por 14 meses de
treinamento, além de um complemento na unidade em que
vão trabalhar.
"Na prática, leva dois anos
entre o começo do treinamento
e o momento de controlar um
avião", diz Levesley.
Os controladores também fazem exames médicos obrigatórios a cada dois anos, até atingirem a idade de 40 -quando os
exames passam a ser anuais.
A aposentadoria depende do
empregador e do tempo de serviço, mas a maioria dos controladores civis no Reino Unido
deixa o trabalho aos 55 anos.
Pontos cegos
Segundo Levesley, o espaço
aéreo britânico tem áreas remotas, mas que não chegam a
configurar pontos cegos.
"Há lugares no extremo norte da Escócia, por exemplo, onde os aviões voam baixo e não
ficam visíveis no radar. Mas há
um serviço especial que fornece pelo menos a comunicação
por rádio e informações básicas
para pilotos que estejam em
partes muito remotas do espaço aéreo."
Sobre os "quase-acidentes"
-quando dois aviões se aproximam além da distância mínima
de segurança-, Levesley explica que eles são divididos em
quatro categorias, de A a D.
87 "quase-acidentes"
No Reino Unido houve 87
"quase-acidentes" com vôos
comerciais em 2005, sendo
apenas um de nível A (risco de
colisão). Sete foram de nível B
(segurança comprometida), 78
de nível C (sem risco de colisão)
e um de nível D (de risco
indeterminado).
Levesley afirma não se lembrar de colisões entre aeronaves comerciais no Reino Unido
-a última teria sido entre dois
aviões militares, em 1969, sem
vítimas fatais.
Sobre o recente acidente no
Brasil, Levesley disse ter lido
"histórias sobre a situação dos
aviões na Amazônia". Ele afirmou não poder comentar a
atual crise do controle aéreo
brasileiro por desconhecer a situação dos funcionários da área
no país.
"Nós dizemos que não é uma
questão de número, mas de
quantas tarefas você precisa
executar. Você pode ficar muito ocupado com um avião e
tranqüilo com 20. Sem saber as
tarefas dos controladores no
Brasil, não posso comentar",
afirmou.
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