São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2006

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Reino Unido privatizou o controle aéreo

Cerca de 30 empresas são responsáveis pela contratação de operadores e pela administração das torres em aeroportos britânicos

Modelo de parcerias público-privadas começou a vigorar na década de 40; governo atua como regulador do setor

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

Descentralizado e privatizado, o controle do tráfego aéreo de vôos comerciais no Reino Unido, diferentemente do modelo estatal em vigor no Brasil, é gerido, na maior parte, por meio de PPPs (parcerias público-privadas).
O governo britânico cuida da regulação do setor por meio da Autoridade de Aviação Civil (CAA), mas o processo de privatização do controle do tráfego começou no pós-guerra, com empresas assumindo a contratação de operadores de vôo e a administração das torres de controle nos aeroportos do país.
John Levesley, presidente da Associação de Controladores de Tráfego Aéreo do país, afirmou em entrevista à Folha que, desde os anos 40, nunca no Reino Unido uma companhia só esteve no controle do tráfego aéreo civil.
"Todo o serviço de controle é feito por cerca de 30 empresas, porque um bom número de aeroportos emprega seus próprios operadores", explica.
Levesley destaca a peculiaridade do sistema. "A maioria dos países europeus tem apenas uma organização que faz o controle."

Última privatização
A última estatal a ser privatizada, em julho de 2001, foi o Serviço Nacional de Tráfego Aéreo, responsável pelos 2,3 milhões de vôos anuais que passam pelos 15 principais aeroportos do Reino Unido, cinco deles em Londres.
O governo britânico manteve 49% das ações da empresa, passando 5% aos funcionários e o restante às maiores companhias aéreas do Reino Unido.
Sob comando das quase 30 empresas estão 2.800 operadores civis (o país tem ainda cerca de mil militares na função) que trabalham 35 horas por semana, em média, e têm intervalos regulares a cada uma hora e meia, para os que lidam com tráfego mais intenso. É o caso dos operadores do aeroporto internacional de Heathrow, em Londres, o maior do país, que recebe uma média de 88 aviões por hora.
Para se candidatar ao cargo de controlador aéreo é necessário ter entre 18 e 27 anos -a média de idade dos que entram é 23- e passar por 14 meses de treinamento, além de um complemento na unidade em que vão trabalhar.
"Na prática, leva dois anos entre o começo do treinamento e o momento de controlar um avião", diz Levesley.
Os controladores também fazem exames médicos obrigatórios a cada dois anos, até atingirem a idade de 40 -quando os exames passam a ser anuais.
A aposentadoria depende do empregador e do tempo de serviço, mas a maioria dos controladores civis no Reino Unido deixa o trabalho aos 55 anos.

Pontos cegos
Segundo Levesley, o espaço aéreo britânico tem áreas remotas, mas que não chegam a configurar pontos cegos.
"Há lugares no extremo norte da Escócia, por exemplo, onde os aviões voam baixo e não ficam visíveis no radar. Mas há um serviço especial que fornece pelo menos a comunicação por rádio e informações básicas para pilotos que estejam em partes muito remotas do espaço aéreo."
Sobre os "quase-acidentes" -quando dois aviões se aproximam além da distância mínima de segurança-, Levesley explica que eles são divididos em quatro categorias, de A a D.

87 "quase-acidentes"
No Reino Unido houve 87 "quase-acidentes" com vôos comerciais em 2005, sendo apenas um de nível A (risco de colisão). Sete foram de nível B (segurança comprometida), 78 de nível C (sem risco de colisão) e um de nível D (de risco indeterminado).
Levesley afirma não se lembrar de colisões entre aeronaves comerciais no Reino Unido -a última teria sido entre dois aviões militares, em 1969, sem vítimas fatais.
Sobre o recente acidente no Brasil, Levesley disse ter lido "histórias sobre a situação dos aviões na Amazônia". Ele afirmou não poder comentar a atual crise do controle aéreo brasileiro por desconhecer a situação dos funcionários da área no país.
"Nós dizemos que não é uma questão de número, mas de quantas tarefas você precisa executar. Você pode ficar muito ocupado com um avião e tranqüilo com 20. Sem saber as tarefas dos controladores no Brasil, não posso comentar", afirmou.


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