São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 1998.



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VERÃO
Latinha de cerveja ou refrigerente deixada na areia leva de 100 a 500 anos para ser absorvida pela natureza
Jogue lixo na praia para seu tetraneto limpar

da Sucursal do Rio


Sabe aquela latinha de cerveja que você, por preguiça, deixou na areia da praia em vez de jogar na lixeira? Se ninguém pegar, ela vai continuar lá à espera de seu tetraneto.
É que qualquer lixo que você produz leva um certo tempo para ser consumido pela natureza.
No caso da lata (alumínio), ela leva de 100 a 500 anos para se decompor. Uma simples ponta de cigarro, por exemplo, leva dois anos.
E não há lixo "inocente". Mesmo cascas de fruta, por exemplo, demoram três meses para serem absorvidas pela natureza.
Também não há distinção por Estado. Se na praia de Indaiá (Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo) há até rato morto na areia, no Rio, em apenas um dia de verão, a orla é coberta por uma quantidade de lixo equivalente à sujeira produzida em uma cidade com mais de 1,5 milhão de habitantes.
Se a população ajudasse, recolhendo o lixo que produz, em vez de jogá-lo nas ruas, praias e no mar, a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio) calcula que economizaria R$ 50 milhões dos R$ 273 milhões que gasta por ano para tentar manter a cidade do Rio de Janeiro limpa.
"Ainda não consegui limpar tudo do Ano Novo. Estou pedindo reforço para o Carnaval. Se não conseguir, vai ficar difícil manter a cidade limpa", diz Luiz Antônio Garzon Caparica, diretor do departamento de serviços públicos de Búzios, uma das principais cidades turísticas do Estado do Rio.

Cidadania
Em meio ao amontoado de lixo, o veranista parece estar tomando consciência do problema. Associações de "amigos das praias", moradores e comerciantes iniciam ações, ainda tímidas, para controlar a degradação dos balneários.
"Os veranistas estão incorporando um sentimento de cidadania. É a única saída de curto prazo para preservarmos nossas praias", diz o vice-presidente da Sociedade de Amigos de Maresias (litoral norte de São Paulo), José Roberto Menezes.
A entidade está construindo um canil e uma clínica veterinária para tirar das praia cachorros vadios, que também sujam as praias.

Problema do Estado
Além dos banhistas, também as administrações públicas têm sua parte de culpa, pois há muitas regiões sem rede de esgoto instalada e não há fiscalização eficiente para verificar a destinação do lixo.
Nas praias de São Sebastião (litoral norte de São Paulo), por exemplo, a população flutuante durante os feriados de final do ano foi dez vezes maior que o número de residentes, e a produção de lixo cresceu cinco vezes.
No ritmo atual, em dez anos não haverá mais espaço para colocar o lixo recolhido, já que o aterro da praia da Baleia -o único da região- deve estar saturado, calcula o coordenador de campanha da organização não-governamental Greenpeace, Délcio Rodrigues.
(FABIO SCHIVARTCHE, CRISTINA GRILLO e RONI LIMA)




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