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GOVERNO LULA
Ao criticar medidas adotadas na gestão FHC, novo diretor do Denatran se diz contrário à "indústria da impunidade"
PT vai acabar com restrição a multa de radar
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo Lula vai revogar as
principais restrições às multas de
radares impostas nos últimos meses de 2002 pela cúpula do Departamento Nacional de Trânsito.
As prefeituras poderão manter
com as operadoras dos equipamentos eletrônicos contratos por
"produtividade" -em que a empresa é remunerada pela quantidade de infrações- e não terão
que manter um fiscal de trânsito
ao lado de cada radar móvel.
O novo titular do Denatran, Ailton Brasiliense Pires, 56, que presidiu a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) na gestão Luiza Erundina, reprova com veemência as medidas polêmicas tomadas no final do governo FHC e
prevê que as alterações serão concluídas no mês que vem. O principal alvo será a resolução 141, publicada em 16 de outubro. Pires
disse à Folha que ela terá de passar por uma revisão, mas "talvez"
não seja revogada integralmente.
Os artigos 4º e 19º da resolução
foram os mais controversos porque previam a nulidade das multas de radar a partir de 15 de novembro de contratos por "produtividade" e de equipamentos móveis que registrassem as infrações
sem a presença de um agente de
trânsito. A ex-diretora do Denatran Rosa Cunha, que liderou as
mudanças, dizia que queria acabar com a "indústria da multa".
A posição do órgão levou prefeituras a alterar contratos em vigor e até mesmo a retirar os radares das ruas. Mas decisões judiciais garantiram a validação das
multas em diversas regiões -em
São Paulo, por exemplo.
O novo diretor do Denatran,
apresentado anteontem pelo ministro Olívio Dutra (Cidades),
disse não acreditar em "indústria
da multa". Ele é um defensor da
implantação dos radares como
forma de controlar a velocidade e
reduzir as mortes no trânsito.
"Existe a indústria da morte,
que são os motoristas que dirigem
de forma irresponsável. A multa
partiu do princípio de um fato
constatado. O radar não empurra
nenhum carro. Se ele detectou, é
porque alguém excedeu. Senão, é
a indústria da impunidade."
Pires afirmou que, se fosse prefeito, não contrataria uma operadora de radar por "produtividade". Mas, na avaliação dele, não
cabe ao Denatran ingerir sobre esse tema. Na capital paulista, a gestão Marta Suplicy paga para a Engebras R$ 19,66 para cada multa
registrada por aparelhos fixos.
"O Denatran não pode entrar
nessa. É uma questão administrativa. Existe uma lei de licitações
para ser cumprida, existe Câmara
Municipal e Ministério Público
para fiscalizar", disse. "Se esse radar foi emprestado por alguém, se
foi comprado caro ou barato... Pelo amor de Deus! Se é para me intrometer nisso, eu terei que me intrometer no resto. Será que os semáforos foram comprados adequadamente? Será que houve um
concurso honesto para contratar
os funcionários? Não é essa a função do Denatran. O órgão só discute a existência dos equipamentos e a utilização adequada deles."
Segundo o diretor, é "uma brincadeira" a obrigatoriedade de
manter um agente de trânsito ao
lado de cada radar móvel. Essa
exigência, aliada à polêmica sobre
os contratos por "produtividade",
levou a CET a retirar das ruas, no
fim de novembro, 20 equipamentos móveis, já que ela despendia
80 marronzinhos por dia -5%
do efetivo. "O radar é independente, automático. Ele não precisa de um assistente psicológico.
Não há essa necessidade."
Pires afirmou que não discutiu
essas posições com Olívio Dutra,
mas que "não existe nada de possível confronto". "Ainda não tive
uma conversação longa com ele.
Mas o que eu estou falando é puro
bom senso." O Denatran, na gestão FHC, era ligado ao Ministério
da Justiça, mas foi transferido ao
novo Ministério das Cidades.
O diretor do órgão disse não temer que a mudança seja vista pela
opinião pública como um benefício do PT às empresas de radar.
"A minha única preocupação é
que os órgãos públicos cumpram
seu papel de zelar pela vida."
Pires afirmou ainda que vai fazer uma reestruturação no Denatran para que os projetos de trânsito estejam integrados aos do
restante do ministério. Uma de
suas propostas é que as prefeituras coloquem placas nas ruas informando a quantidade de mortes no trânsito e de multas.
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