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LETRAS JURÍDICAS
A Justiça em boas mãos
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
Chegado o novo governo,
a enorme quantidade de
avaliações políticas mostra, independentemente de sua qualidade,
o impacto da substituição dos
eleitos tradicionais por alguns representantes do Partido dos Trabalhadores, com sua origem operária. O ministério faz mixagem
de várias correntes. A escolha de
Marcio Thomaz Bastos, da elite
da advocacia, propõe um esclarecimento de quem é, além de jornalista, advogado e conhece o novo ministro há dezenas de anos: a
opinião sobre a excelente nomeação do titular da Justiça é a melhor possível, e o palpite não decorre de nossos laços de amizade.
O advogado militante se liga ao
cliente por estreita relação com
seus contratos, obrigações em geral, ligações de família, do comércio e da indústria. Tem, por outro
lado, intimidade com o confronto
entre sociedade e poder, entre famintos governos tributantes e
queixosos contribuintes tributados, entre amedrontados devedores do poder público e raivosos
credores caloteados pelo mesmo
poder. Há o rol dos criminalistas,
no qual o ministro se inclui, a
cumprirem dever essencial da defesa dos acusados, imposto pelas
liberdades democráticas, pela
presunção de inocência.
O raio de ação do ministro da
Justiça é muito amplo. Compreende atuação administrativa
para preservação das garantias
da advocacia pelos agentes da
União. Inclui cuidados com o Ministério Público Federal, bem como a ação de órgãos federais relacionados com a proteção ambiental, o patrimônio histórico. Atua
na interface imprescindível com o
Poder Judiciário, em nome do
Executivo.
Marcio Thomaz Bastos conhece
o lado da advocacia (presidiu o
Conselho Federal da OAB). Tem
vivência nos outros braços que
movimentam o monopólio oficial
da Justiça, na Polícia Federal e na
Polícia Rodoviária Federal. Estão
na órbita de suas competências
condutas tão diversas como a
proteção de testemunhas e dos direitos humanos e a burocrática
expedição de cartas rogatórias
para diligências no exterior. Soma a verificação do direito a indulto aos presos no Brasil até providências de extradição concedida pelo Supremo Tribunal Federal a pedido de governos estrangeiros, de que a ida da cantora
Gloria Trevi para o México foi
exemplo claro. Estão a seu cargo
ainda questões atinentes aos povos indígenas e, retornando à segurança pública, o combate ao
narcotráfico e também o controle
de armas.
O novo ministro tem trajetória
diferente da que foi seguida por
muitos de seus antecessores nos
últimos 20 anos. Não é político
profissional, como foram ou são,
entre outros, Ibrahim Abi Ackel,
Fernando Lira, Bernardo Cabral
(este também ex-presidente da
OAB), Jarbas Passarinho, Íris Rezende, Renan Calheiros. Não
mostrou interesse em nenhuma
posição pública, nem mesmo no
honroso cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, para o
qual foram nomeados, por exemplo e no mesmo período, Paulo
Brossard, Maurício Corrêa (com
bela carreira na OAB) e Nélson
Jobim. O ministério da Justiça é o
primeiro dos ministérios nacionais, tendo precedido a Proclamação da Independência, em junho de 1822, quando o príncipe
regente, dom Pedro, nomeou
Caetano Pinto. Marcio Thomaz
Bastos filia-se a essa bela tradição: tem cultura geral, conhecimento técnico e experiência para
dignificar o cargo.
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