São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

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Barragem rompe e deixa 100 mil sem água

Vazamento de lama na zona da mata de Minas causou queda de pontes e já afeta abastecimento de água no Rio de Janeiro

Rompimento de barragem ocorre menos de um ano após outro acidente envolvendo a Mineração Rio Pomba, que foi interditada

CÍNTIA ACAYABA
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA

ÍTALO NOGUEIRA ENVIADO ESPECIAL A MIRAÍ (MG)

O rompimento de uma barragem de rejeitos de bauxita, na madrugada de ontem, despejou cerca de 2 milhões de m3 (2 bilhões de litros) de lama na zona da mata em Minas Gerais.
Em Miraí (335 km de Belo Horizonte), a lama chegou a um metro de altura e cerca de 3.000 pessoas estão desabrigadas. Algumas se feriram ao serem arrastadas pela mistura de água e argila. Pelo menos seis casas foram destruídas.
O acidente ecológico -de danos ainda não quantificados- causou quedas de pontes, inundou áreas e já prejudica o fornecimento de água em cidades do Rio de Janeiro abastecidas pelo rio Muriaé, atingido pela lama. A princípio serão cerca de 100 mil pessoas afetadas.
O rompimento da barragem da empresa Mineração Rio Pomba Cataguases ocorre menos de um ano após outro acidente, em março de 2006, quando vazaram 400 milhões de litros de rejeitos de lavagem de bauxita (água e argila) da mesma barragem.
Na época, a mancha de lama alcançou 70 km de extensão, afetando o abastecimento de água de toda a região. Ontem, a Feam (agência ambiental mineira) não soube dizer o valor da multa aplicada à empresa nem mesmo se ela foi paga.
O vazamento de 2006, pelo menos quatro vezes menor que o de ontem, causou destruição de ecossistemas ribeirinhos, eliminação de fauna aquática, inundação de áreas de pastagens e alteração da qualidade das águas de córregos.
Por conta da reincidência, o governo mineiro anunciou o fechamento definitivo da mineradora e a proibição de reconstrução da barragem. Disse que pretende multar a empresa em até R$ 50 milhões.
O secretário estadual do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, disse que a empresa, em novembro de 2006, apresentou relatório informando que a barragem estava "segura e sem risco". A mineradora atribuiu às chuvas o motivo do rompimento da barragem.
O governo mineiro afirma que a lama não é tóxica. Mas, segundo ambientalistas, a qualidade da água será afetada.

Lembrança
"Não esperava que chegasse até a minha casa. Da outra vez [no vazamento de 2006], a lama não veio", contou José Ferreira Ribeiro, 63. "Quando a lama veio, carregou tudo", disse a dona-de-casa Ana Luiza Carlos Alves, 38, apontando a mancha de lama, que atingiu um metro de sua parede.
Por volta das 5h30 de ontem, Indaiá -o primeiro bairro de Miraí e o mais próximo do rio Muriaé- ficou submerso.
Duas horas antes da cheia, a prefeitura avisou a população sobre o rompimento e pediu que as pessoas abandonassem suas casas. Todas as ruas da parte baixa da cidade ficaram alagadas.
Um homem de 21 anos chegou a ser arrastado pela água, mas não corre risco de morte. "Pessoas o viram saltando da ponte, mas conseguiram laçá-lo com uma corda", disse ontem o prefeito de Miraí, Sérgio Resende (PMDB).
A lama apareceu quando a água começou a baixar, no início da tarde de ontem. A maioria dos móveis e objetos das cerca de 3.000 pessoas desabrigadas foi destruída.
Uma operação de socorro foi organizada por 35 homens do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Defesa Civil. Dez retroescavadeiras trabalhavam para retirar a lama acumulada.
A Defesa Civil de Minas Gerais encaminhou ontem a Miraí mil cestas básicas, 400 colchões e kits de primeiros socorros. "As pessoas estão sendo encaminhadas para escolas e ginásios, mas tem muita gente pelas ruas", disse o prefeito.
A água e a lama da barragem deveriam atingir o município vizinho de Muriaé (370 km de BH) na noite de ontem.
A Copasa (empresa mineira de água e abastecimento) informou que disponibilizará 14 caminhões-pipa para garantir o abastecimento no município fluminense de Laje do Muriaé.
O material que vazou representa 55% do total da barragem, que tem capacidade para 3,6 milhões de m3 (3,6 bilhões de litros) e altura máxima de 30 metros. Para efeito de comparação, a pirâmide de Queóps, no Egito, tem volume de 2,6 milhões de m3.


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