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Barragem rompe e deixa 100 mil sem água
Vazamento de lama na zona da mata de Minas causou queda de pontes e já afeta abastecimento de água no Rio de Janeiro
Rompimento de barragem ocorre menos de um ano após outro acidente envolvendo a Mineração Rio Pomba, que foi interditada
CÍNTIA ACAYABA
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA
ÍTALO NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A MIRAÍ (MG)
O rompimento de uma barragem de rejeitos de bauxita, na
madrugada de ontem, despejou
cerca de 2 milhões de m3 (2 bilhões de litros) de lama na zona
da mata em Minas Gerais.
Em Miraí (335 km de Belo
Horizonte), a lama chegou a
um metro de altura e cerca de
3.000 pessoas estão desabrigadas. Algumas se feriram ao serem arrastadas pela mistura de
água e argila. Pelo menos seis
casas foram destruídas.
O acidente ecológico -de danos ainda não quantificados-
causou quedas de pontes, inundou áreas e já prejudica o fornecimento de água em cidades
do Rio de Janeiro abastecidas
pelo rio Muriaé, atingido pela
lama. A princípio serão cerca
de 100 mil pessoas afetadas.
O rompimento da barragem
da empresa Mineração Rio
Pomba Cataguases ocorre menos de um ano após outro acidente, em março de 2006,
quando vazaram 400 milhões
de litros de rejeitos de lavagem
de bauxita (água e argila) da
mesma barragem.
Na época, a mancha de lama
alcançou 70 km de extensão,
afetando o abastecimento de
água de toda a região. Ontem, a
Feam (agência ambiental mineira) não soube dizer o valor
da multa aplicada à empresa
nem mesmo se ela foi paga.
O vazamento de 2006, pelo
menos quatro vezes menor que
o de ontem, causou destruição
de ecossistemas ribeirinhos,
eliminação de fauna aquática,
inundação de áreas de pastagens e alteração da qualidade
das águas de córregos.
Por conta da reincidência, o
governo mineiro anunciou o
fechamento definitivo da mineradora e a proibição de reconstrução da barragem. Disse
que pretende multar a empresa
em até R$ 50 milhões.
O secretário estadual do
Meio Ambiente, José Carlos
Carvalho, disse que a empresa,
em novembro de 2006, apresentou relatório informando
que a barragem estava "segura
e sem risco". A mineradora
atribuiu às chuvas o motivo do
rompimento da barragem.
O governo mineiro afirma
que a lama não é tóxica. Mas,
segundo ambientalistas, a qualidade da água será afetada.
Lembrança
"Não esperava que chegasse
até a minha casa. Da outra vez
[no vazamento de 2006], a lama não veio", contou José Ferreira Ribeiro, 63. "Quando a lama veio, carregou tudo", disse a
dona-de-casa Ana Luiza Carlos
Alves, 38, apontando a mancha
de lama, que atingiu um metro
de sua parede.
Por volta das 5h30 de ontem,
Indaiá -o primeiro bairro de
Miraí e o mais próximo do rio
Muriaé- ficou submerso.
Duas horas antes da cheia, a
prefeitura avisou a população
sobre o rompimento e pediu
que as pessoas abandonassem
suas casas. Todas as ruas
da parte baixa da cidade ficaram alagadas.
Um homem de 21 anos chegou a ser arrastado pela água,
mas não corre risco de morte.
"Pessoas o viram saltando da
ponte, mas conseguiram laçá-lo com uma corda", disse ontem o prefeito de Miraí, Sérgio
Resende (PMDB).
A lama apareceu quando a
água começou a baixar, no início da tarde de ontem. A maioria dos móveis e objetos das
cerca de 3.000 pessoas desabrigadas foi destruída.
Uma operação de socorro foi
organizada por 35 homens do
Corpo de Bombeiros, Polícia
Militar e Defesa Civil. Dez retroescavadeiras trabalhavam
para retirar a lama acumulada.
A Defesa Civil de Minas Gerais encaminhou ontem a Miraí
mil cestas básicas, 400 colchões e kits de primeiros socorros. "As pessoas estão sendo
encaminhadas para escolas e
ginásios, mas tem muita gente
pelas ruas", disse o prefeito.
A água e a lama da barragem
deveriam atingir o município
vizinho de Muriaé (370 km de
BH) na noite de ontem.
A Copasa (empresa mineira
de água e abastecimento) informou que disponibilizará 14 caminhões-pipa para garantir o
abastecimento no município
fluminense de Laje do Muriaé.
O material que vazou representa 55% do total da barragem, que tem capacidade para
3,6 milhões de m3 (3,6 bilhões
de litros) e altura máxima de
30 metros. Para efeito de comparação, a pirâmide de Queóps,
no Egito, tem volume de 2,6
milhões de m3.
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