|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMENTÁRIO
Carnaval e Propaganda
HELIO SCHWARTSMAN
da equipe de articulistas
Se Zeus fosse realmente um
sujeito cruel, teria obrigado
Prometeu, não a ter seu fígado diariamente devorado
por aves de rapina, mas a
escrever quase que todos
os dias sobre o Carnaval.
A etimologia da festa é
obscura, mas tem algo a ver
com carne ou sua supressão
quaresmal. É que os bons e
velhos cristãos se abstinham de comer carne (em
todos os sentidos) nos 40
dias que procedem a Quarta-Feira de Cinzas.
O hábito de privar-se da
carne foi quase esquecido
(mas o de comê-la, em todos os sentidos, mesmo durante a Quaresma, não).
É que a Igreja Católica,
salvo em tempos recentes,
sempre foi a maior propagandista da história, superando qualquer W/Brasil,
DM-9 ou tantas outras
agências quanto se imaginarem.
O próprio termo ``propaganda'' foi forjado pelos católicos, com ``Confederatio
de `Propaganda' Fide''
(Confederação para a Propagação da Fé), apesar de o
tempo verbal ``propaganda'' nada significar isoladamente, o fato é que as pessoas costumavam aproveitar o Carnaval para realmente abusar, em termos
de carne. A igreja fez o que
pôde.
Embora contra a vontade,
os clérigos admitiram Saturnálias, ritos célticos, nórdicos e até pérsicos de fertilidade. É quase a maior mistura de produtos vendidos
a um só tempo.
Talvez, perca apenas para
o Natal, esse sim o maior
sucesso da propaganda católica, mas essa já é uma
outra história.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|