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VIOLÊNCIA
O PCC, facção de detentos nascida em 1993 nos presídios paulistas, passa a atuar além das fronteiras do Estado
São Paulo exporta organização criminosa
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A facção de presos de São Paulo
conhecida como PCC (Primeiro
Comando da Capital) integra
uma rede de criminosos que atua
além das fronteiras do Estado.
Membros desse grupo, que originalmente organizava presos e
buscava o controle de presídios
paulistas, participaram de pelo
menos dois de nove assaltos atribuídos a uma ""megaquadrilha"
investigada pela Polícia Federal,
cujas ações, em três Estados e no
Distrito Federal, teriam rendido
mais de R$ 10 milhões de 1998 até
o ano passado.
Pelo menos dois membros do
PCC, Airton Ferreira da Silva e
Claudio Barbará da Silva, são acusados de participação no roubo
de R$ 1 milhão em jóias da Caixa
Econômica Federal de Ribeirão
Preto (319 km de SP), em novembro do ano passado -um dos crimes atribuídos à megaquadrilha.
O outro crime em que haveria
conexão entre as duas organizações é o assalto em que 61 kg de
ouro foram roubados de um
avião da Vasp, em Brasília, em julho de 2000. Nesse caso também
houve envolvimento de Airton
Ferreira da Silva, considerado um
dos integrantes da "elite" da megaquadrilha.
O PCC surgiu nos anos 90 entre
os detentos como arma para reivindicar melhorias no sistema
prisional. Atualmente, a facção
estaria controlando fugas e tráfico
de drogas, extorquindo dinheiro
dos condenados mais abastados e
organizando ações fora dos muros dos presídios.
Segundo a polícia, integrantes
da facção, em aliança com traficantes, provocaram a fuga de 97
presos do 45º DP (Brasilândia) no
ano passado, em São Paulo. Um
carcereiro da própria delegacia é
acusado de ter ajudado o grupo
de resgate em troca de R$ 5.000.
É por causa desse caso que a polícia paulista abriu, recentemente,
o primeiro inquérito contra a facção e agora tenta descobrir detalhes da rede de influência dela.
O mesmo PCC é suspeito de patrocinar um dos resgates de presos mais ousados: uma quadrilha
sequestrou a família do diretor do
presídio de Araraquara (282 km
de São Paulo), há duas semanas, e
os trocou pela liberdade de cinco
filiados -dois deles envolvidos
com o assalto à agência da CEF de
Ribeirão Preto.
A rede do crime começou a ser
descrita a partir das prisões de assaltantes, como Claudio Barbará
da Silva, que atuou no roubo à
CEF, e de pelo menos outras 20
pessoas, entre ""soldados" contratados e aliados.
Sindicato
Documentos sigilosos de investigação, aos quais a Folha teve
acesso, mostram que grupos menores se articulam com a ajuda da
facção, em uma operação que gera dinheiro e novos aliados.
É como se os bandidos mais perigosos agora fizessem parte do
""sindicato do crime", colaborando mutuamente entre si em ações
cada vez mais ousadas.
Como exemplo, no mesmo horário em que a CEF de Ribeirão
Preto era invadida, um preso da
cadeia da cidade fazia refém um
carcereiro. A polícia considerou
isso um despiste, porque teve de
mobilizar suas forças para cercar
a unidade, que fica no lado oposto
da cidade em relação ao banco.
Nem todos os envolvidos nos
crimes famosos são membros do
PCC. As pessoas-chave se conhecem, tramam às vezes juntas e
contratam mão-de-obra fora da
organização, usando muitas vezes
os mesmos ""soldados".
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