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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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VIOLÊNCIA

Sequestro de João Bertin, 82, acaba após a prisão de um dos maiores sequestradores do país

Fazendeiro é libertado após 5 meses

Alberto Melnechuky/"Tribuna do Paraná"
O sequestrador Pedro Ciechanovicz, considerado um dos maiores criminosos do país, é apresentado pela polícia


ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO

DA REPORTAGEM LOCAL

Terminou ontem o segundo sequestro mais longo do país, de João Bertin, 82, patriarca da família que controla a rede de frigoríficos Bertin, uma das maiores do Brasil. A vítima foi libertada após a prisão do acusado de liderar a maior quadrilha de sequestradores já descoberta, com pelo menos 38 integrantes.
Bertin foi sequestrado por cinco homens no dia 8 de setembro do ano passado, em sua fazenda em Sabino (483 km de São Paulo). No total, passou 155 dias no cativeiro.
O resgate exigido pelo sequestradores, de US$ 800 mil, não foi pago -o pedido inicial era de US$ 3 milhões. A libertação do fazendeiro foi negociada em uma casa na periferia de Curitiba, a partir da noite de anteontem, onde a polícia cercou Pedro Ciechanovicz, 48, apontado como mentor da quadrilha e do crime.
Bertin foi solto em uma estrada de Assis (a 427 km de São Paulo) no início da manhã de ontem, horas depois de Ciechanovicz dar um telefonema a seus cúmplices. O fazendeiro pegou carona em um ônibus escolar, depois de caminhar de duas a três horas em uma estrada. Na escola, ligou para a família em Lins (a 446 km da capital), que foi buscá-lo de avião.
A vítima disse que, no cativeiro, fazia três refeições por dia, não podia ver televisão nem ler. Afirmou não ter sido maltratado pelos dois sequestradores mascarados que ficaram com ele. Já em casa, em Lins, o fazendeiro tomou banho, cortou o cabelo e disse a repórteres que só queria almoçar com a família.
Com a rendição do sequestrador, também conhecido como Tio, Polaco e Alemão, terminou uma investigação de 18 meses, que se arrastava desde 2001, quando o estudante José Luiz Lanaro, 24, morreu no cativeiro, e foi sequestrado o empresário Roberto Benito Júnior, das Lojas Cem, na região de Sorocaba.
Segundo a polícia, Tio comandava um grupo de 38 pessoas já identificadas, que agiam divididas em células independentes, de modo semelhante à atuação dos grupos terroristas internacionais que sequestraram no Brasil o empresário Abílio Diniz, na década de 80, e o publicitário Washington Olivetto, em 2001.
O sequestrador é tido como frio, inteligente e de humor inconstante. Costumava mandar fotos dos sequestrados com armas -fuzis e metralhadoras- apontadas para a cabeça. Para a polícia, ele tem ligações com a facção PCC (Primeiro Comando da Capital).
Tio cumpriu pena com os sequestradores de Diniz antes de fugir da prisão, em 96, e pode ter apreendido com eles como estruturar as células, afirma o delegado Ivaney Cayres de Souza, diretor do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos).
Souza e o delegado Everardo Tanganelli Júnior deram início à investigação quando eram, respectivamente, delegado-regional e seccional em Sorocaba, uma das bases da quadrilha. Ao serem transferidos para o Denarc, levaram o caso para São Paulo.
Nascido em Tupã, o líder da quadrilha é suspeito de 15 sequestros, entre eles o do empresário Girz Aronson, das Lojas G. Aronson (98), do banqueiro Ezequiel Nasser (94) e do empresário Abrahão Zarzur, acionista da multinacional Ripasa S/A (uma das principais empresas do setor de celulose e papel do país), casos não esclarecidos até hoje.
A estrutura montada por ele protegia bem seu nome. Apenas nos últimos cinco meses da apuração é que seu apelido apareceu, após uma investigação dentro dos presídios paulistas. Os grampos telefônicos só começaram a ser feitos em dezembro.
"O que nos chamou a atenção foi a dificuldade de saber quem era o líder dos sequestradores", disse Tanganelli. Segundo ele, está comprovada a participação do grupo de Tio em quatro crimes: o de Benito Júnior, o do caso Lanaro, o da filha de um empresário de veículos, em 99, e o da filha do dono de uma distribuidora de combustíveis na região de Campinas.
Até agora, 13 integrantes da quadrilha foram presos e dois morreram, um em confronto pela polícia e outro morto pelo próprio grupo -um doleiro que sumiu com dinheiro de um sequestro. Os demais integrantes da quadrilha estão foragidos, alguns escondidos no Paraguai, e com a prisão decretada.
Ontem, o advogado de Ciechanovicz, Paulo César Carmo de Oliveira, que participou da negociação em Curitiba, disse que seu cliente não é o "cabeça" da quadrilha e que usou de contatos que tinha para ajudar a polícia na libertação do fazendeiro.


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