|
Próximo Texto | Índice
VIOLÊNCIA
Sequestro de João Bertin, 82, acaba após a prisão de um dos maiores sequestradores do país
Fazendeiro é libertado após 5 meses
Alberto Melnechuky/"Tribuna do Paraná"
|
O sequestrador Pedro Ciechanovicz, considerado um dos maiores criminosos
do país, é apresentado pela polícia |
ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Terminou ontem o segundo sequestro mais longo do país, de
João Bertin, 82, patriarca da família que controla a rede de frigoríficos Bertin, uma das maiores do
Brasil. A vítima foi libertada após
a prisão do acusado de liderar a
maior quadrilha de sequestradores já descoberta, com pelo menos
38 integrantes.
Bertin foi sequestrado por cinco
homens no dia 8 de setembro do
ano passado, em sua fazenda em
Sabino (483 km de São Paulo). No
total, passou 155 dias no cativeiro.
O resgate exigido pelo sequestradores, de US$ 800 mil, não foi
pago -o pedido inicial era de
US$ 3 milhões. A libertação do fazendeiro foi negociada em uma
casa na periferia de Curitiba, a
partir da noite de anteontem, onde a polícia cercou Pedro Ciechanovicz, 48, apontado como mentor da quadrilha e do crime.
Bertin foi solto em uma estrada
de Assis (a 427 km de São Paulo)
no início da manhã de ontem, horas depois de Ciechanovicz dar
um telefonema a seus cúmplices.
O fazendeiro pegou carona em
um ônibus escolar, depois de caminhar de duas a três horas em
uma estrada. Na escola, ligou para
a família em Lins (a 446 km da capital), que foi buscá-lo de avião.
A vítima disse que, no cativeiro,
fazia três refeições por dia, não
podia ver televisão nem ler. Afirmou não ter sido maltratado pelos dois sequestradores mascarados que ficaram com ele. Já em casa, em Lins, o fazendeiro tomou
banho, cortou o cabelo e disse a
repórteres que só queria almoçar
com a família.
Com a rendição do sequestrador, também conhecido como
Tio, Polaco e Alemão, terminou
uma investigação de 18 meses,
que se arrastava desde 2001,
quando o estudante José Luiz Lanaro, 24, morreu no cativeiro, e
foi sequestrado o empresário Roberto Benito Júnior, das Lojas
Cem, na região de Sorocaba.
Segundo a polícia, Tio comandava um grupo de 38 pessoas já
identificadas, que agiam divididas
em células independentes, de modo semelhante à atuação dos grupos terroristas internacionais que
sequestraram no Brasil o empresário Abílio Diniz, na década de
80, e o publicitário Washington
Olivetto, em 2001.
O sequestrador é tido como frio,
inteligente e de humor inconstante. Costumava mandar fotos dos
sequestrados com armas -fuzis
e metralhadoras- apontadas para a cabeça. Para a polícia, ele tem
ligações com a facção PCC (Primeiro Comando da Capital).
Tio cumpriu pena com os sequestradores de Diniz antes de fugir da prisão, em 96, e pode ter
apreendido com eles como estruturar as células, afirma o delegado
Ivaney Cayres de Souza, diretor
do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos).
Souza e o delegado Everardo
Tanganelli Júnior deram início à
investigação quando eram, respectivamente, delegado-regional
e seccional em Sorocaba, uma das
bases da quadrilha. Ao serem
transferidos para o Denarc, levaram o caso para São Paulo.
Nascido em Tupã, o líder da
quadrilha é suspeito de 15 sequestros, entre eles o do empresário
Girz Aronson, das Lojas G. Aronson (98), do banqueiro Ezequiel
Nasser (94) e do empresário
Abrahão Zarzur, acionista da
multinacional Ripasa S/A (uma
das principais empresas do setor
de celulose e papel do país), casos
não esclarecidos até hoje.
A estrutura montada por ele
protegia bem seu nome. Apenas
nos últimos cinco meses da apuração é que seu apelido apareceu,
após uma investigação dentro dos
presídios paulistas. Os grampos
telefônicos só começaram a ser
feitos em dezembro.
"O que nos chamou a atenção
foi a dificuldade de saber quem
era o líder dos sequestradores",
disse Tanganelli. Segundo ele, está
comprovada a participação do
grupo de Tio em quatro crimes: o
de Benito Júnior, o do caso Lanaro, o da filha de um empresário de
veículos, em 99, e o da filha do dono de uma distribuidora de combustíveis na região de Campinas.
Até agora, 13 integrantes da
quadrilha foram presos e dois
morreram, um em confronto pela
polícia e outro morto pelo próprio grupo -um doleiro que sumiu com dinheiro de um sequestro. Os demais integrantes da
quadrilha estão foragidos, alguns
escondidos no Paraguai, e com a
prisão decretada.
Ontem, o advogado de Ciechanovicz, Paulo César Carmo de
Oliveira, que participou da negociação em Curitiba, disse que seu
cliente não é o "cabeça" da quadrilha e que usou de contatos que
tinha para ajudar a polícia na libertação do fazendeiro.
Próximo Texto: "Estou com fome e muita saudade" Índice
|