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Professor "nota zero" em avaliação pode perder cargo em julho
Secretaria da Educação insistirá em selecionar docentes temporários por meio da prova realizada no ano passado
Decisão judicial derrubou o exame, que seria usado como um dos critérios para a distribuição de aulas para professores temporários
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Secretaria da Educação
anunciou ontem que insistirá
em fazer da prova realizada no
dia 17 de dezembro um dos critérios para a escolha de 100 mil
professores temporários da rede estadual de São Paulo.
"Se houver respaldo legal",
diz a secretaria, no meio do ano
será divulgada uma nova classificação dos candidatos a professores temporários, dessa vez
levando em consideração ainda
a prova (além de tempo de serviço e títulos). Não diz, porém,
o que ocorrerá com os docentes
temporários já escolhidos.
A intenção da secretaria foi
comunicada no mesmo momento em que a Apeoesp, o sindicato dos professores, comemorava a decisão judicial que
derrubou -por ora- a prova.
A Apeoesp espalhou faixas
nas escolas que diziam: "Exigimos respeito aos nossos direitos. "Provinha" nunca mais".
A atribuição de aulas para os
temporários, que começou ontem em todo o Estado, deve se
estender até sexta-feira. A contratação dos 100 mil temporários pela Secretaria da Educação para ministrar aulas é uma
forma de suprir a carência de
concursados (130 mil).
Depressão
A professora de geografia
Irene (nome fictício a pedido
dela), 52, tem 20 anos de magistério. Há quatro, está afastada
por causa de uma depressão.
Na prova da Secretaria da Educação, ela tirou zero. "Estou
com a visão turva, com mal-estar, não consigo ler o texto", escreveu na prova. Não respondeu a nenhuma pergunta.
Irene recebeu ontem às 15h a
incumbência de ministrar 32
aulas por semana, em três escolas da zona sul. Logo em seguida, ela procurava dicas junto a
colegas sobre como voltar para
a licença médica. "Preciso de
pelo menos mais 60 dias", dizia.
Irene é uma entre os cerca de
1.500 professores em toda a rede estadual de ensino que, mesmo tendo "zerado", devem conseguir o direito de dar aulas na
qualidade de temporários.
Com a derrubada da prova,
candidatos com longo tempo
de serviço, como Irene, mesmo
com desempenho pífio, passaram à frente, na classificação,
de professores que foram bem,
mas são jovens na rede.
Na diretoria de ensino Sul-2,
responsável pelas 87 escolas estaduais de bairros como o Capão Redondo, Jardim São Luiz
e Jardim Ângela, que estão entre os mais pobres de São Paulo,
cerca de 4.000 professores tinham ontem os olhos em painéis com as listas de classificação. Em sua maioria, eles moram nos mesmos bairros carentes em que disputam trabalho.
Wanda levou o filho de dois
meses para a atribuição de aulas. Ela lecionava no ano passado. Se não pegar nenhuma neste ano, perderá o direito à licença-maternidade, que no Estado
tem a duração de seis meses. "É
questão de vida ou morte para
mim e para meu filho."
"Nossa região tem muito desemprego e pobreza. Queremos
estabilizar esses temporários,
garantir-lhes o emprego, para
que eles possam enfim se dedicar ao ensino e aos alunos", disse Severino Honorato Silva, 38,
conselheiro da Apeoesp.
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