São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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INCULTA & BELA

Afinal, Viola joga bola?

PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha

Já vimos no ano passado que a vírgula pode ter papel fundamental em certos casos.
Na semana passada, aconteceu um fato interessante, diretamente ligado à questão da vírgula com o vocativo.
Foi Barbara Gancia quem me deu a dica. Com seu português italianado, Barbara me ligou e perguntou se eu sabia da "ingrenga" (dá-lhe, Juó Bananére!) que tinha acontecido com o jogador Viola.
O atacante do glorioso Santos brigou com um torcedor por causa de uma faixa.
O torcedor teria afirmado que Viola não se dedica à bola com a devida garra.
Não vi a faixa. Parece que ninguém a fotografou. O fotógrafo de "A Gazeta Esportiva" me disse que, quando o tumulto começou, um segurança do Santos já havia tomado o libelo do torcedor.
Disse também que, quando os repórteres chegaram, o pedaço de pano jazia -inexoravelmente rasgado- num córrego que fica ao lado do centro de treinamento do Santos.
Mobilizei o pessoal da fotografia. Ninguém soube dizer-me se estava escrito "Viola, joga bola" ou "Viola joga bola".
"Mas que diferença faz, professor?", perguntaram alguns. "Simplesmente, toda a diferença do mundo", respondi.
É claro que não aprovo a subdesenvolvida reação de Viola. Nada justifica a tese de "tirar a diferença no braço" (Freud explica). Sobretudo se o pobre torcedor tiver escrito "Viola joga bola", verdadeira declaração de amor ao ex-corintiano-palmeirense.
Vamos à questão gramatical: sem vírgula, "Viola" é sujeito da oração. Afirma-se que Viola joga bola, ou seja, Viola é o bambambã.
Com vírgula, "Viola" passa a vocativo. Faz-se um apelo, uma convocação, ou seja, pede-se a ele que jogue bola.
Adoraria saber como estava escrito na bendita faixa.

Nesta semana, tentei fazer alguns exames laboratoriais. Orientado por uma funcionária da empresa de saúde x, da qual sou cliente, fui ao laboratório y. O recepcionista me pediu o cartão do convênio, entregou-me um número e disse que bastaria esperar a chamada pelo painel eletrônico.
Depois de 40 minutos, fui chamado. Surpresa! A funcionária me disse que meu plano não dá direito aos tais exames.
Para fechar com chave de ouro, disparou: "O senhor vai ter que estar procurando outro laboratório".
Voltei à recepção, para reclamar da negligência do funcionário. Já tinha ido embora.
A que o substituíra também disparou: "Vamos estar reorientando o funcionário". E eu, é claro, will be crying.
Epa! Quero dizer que vou estar lamentando.
Até quando essa história do gerúndio vai estar enchendo nossa paciência? É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.

E-mail: inculta@uol.com.br


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