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INCULTA & BELA
Afinal, Viola joga bola?
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha
Já vimos no ano passado que
a vírgula pode ter papel fundamental em certos casos.
Na semana passada, aconteceu um fato interessante, diretamente ligado à questão da
vírgula com o vocativo.
Foi Barbara Gancia quem
me deu a dica. Com seu português italianado, Barbara me
ligou e perguntou se eu sabia
da "ingrenga" (dá-lhe, Juó Bananére!) que tinha acontecido
com o jogador Viola.
O atacante do glorioso Santos brigou com um torcedor
por causa de uma faixa.
O torcedor teria afirmado
que Viola não se dedica à bola
com a devida garra.
Não vi a faixa. Parece que
ninguém a fotografou. O fotógrafo de "A Gazeta Esportiva"
me disse que, quando o tumulto começou, um segurança do
Santos já havia tomado o libelo do torcedor.
Disse também que, quando
os repórteres chegaram, o pedaço de pano jazia -inexoravelmente rasgado- num córrego que fica ao lado do centro
de treinamento do Santos.
Mobilizei o pessoal da fotografia. Ninguém soube dizer-me se estava escrito "Viola, joga bola" ou "Viola joga bola".
"Mas que diferença faz, professor?", perguntaram alguns.
"Simplesmente, toda a diferença do mundo", respondi.
É claro que não aprovo a
subdesenvolvida reação de
Viola. Nada justifica a tese de
"tirar a diferença no braço"
(Freud explica). Sobretudo se
o pobre torcedor tiver escrito
"Viola joga bola", verdadeira
declaração de amor ao ex-corintiano-palmeirense.
Vamos à questão gramatical: sem vírgula, "Viola" é sujeito da oração. Afirma-se que
Viola joga bola, ou seja, Viola
é o bambambã.
Com vírgula, "Viola" passa a
vocativo. Faz-se um apelo,
uma convocação, ou seja, pede-se a ele que jogue bola.
Adoraria saber como estava
escrito na bendita faixa.
Nesta semana, tentei fazer alguns exames laboratoriais.
Orientado por uma funcionária da empresa de saúde x, da
qual sou cliente, fui ao laboratório y. O recepcionista me pediu o cartão do convênio, entregou-me um número e disse
que bastaria esperar a chamada pelo painel eletrônico.
Depois de 40 minutos, fui
chamado. Surpresa! A funcionária me disse que meu plano
não dá direito aos tais exames.
Para fechar com chave de
ouro, disparou: "O senhor vai
ter que estar procurando outro
laboratório".
Voltei à recepção, para reclamar da negligência do funcionário. Já tinha ido embora.
A que o substituíra também
disparou: "Vamos estar reorientando o funcionário". E
eu, é claro, will be crying.
Epa! Quero dizer que vou estar lamentando.
Até quando essa história do
gerúndio vai estar enchendo
nossa paciência? É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna
às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br
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