São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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VIOLÊNCIA
Segundo promotor, até agora os depoimentos reforçam a hipótese
Desentendimento é a tese mais provável para morte de jovens

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O promotor Alexandre Marcos Pereira disse ontem que os depoimentos prestados até o momento, sobre o assassinato dos três jovens na Baixada Santista no último dia 17, reforçam a hipótese de que o motivo do crime tenha sido o desentendimento entre uma ou duas das vítimas com um homem após um baile de Carnaval.
Paulo Roberto da Silva, 21, Anderson Pereira dos Santos, 14, e Thiago Passos Ferreira, 17, foram abordados por uma Blazer da Cavalaria da PM na Quarta-Feira de Cinzas, em São Vicente. Os corpos dos garotos foram encontrados há uma semana em um trecho de mata na Praia Grande.
"A hipótese mais provável, até o momento, é que os garotos tenham importunado o rapaz, talvez roubando-lhe o relógio, na saída do baile no Ilha Porchat Clube", disse o promotor Pereira.
"O rapaz teria comunicado o fato ao primeiro carro de polícia que encontrou (que seria a Blazer da cavalaria). Ele teria entrado no carro para localizar os jovens e depois dispensado", afirmou o promotor.
No momento da localização, os rapazes foram espancados e colocados na Blazer da PM. "Além de terem sido truculentos, os PMs foram injustos, pois tudo indica que um ou dois, e não os três jovens, teriam participado da agressão na saída do baile. Um ou dois jovens morreram de graça, como queima de arquivo", afirmou Pereira.
De acordo com ele, essa hipótese foi reforçada ontem por detalhes fornecidos por uma testemunha ouvida na parte da manhã.

Manifestação
Cerca de 40 pessoas, entre familiares e parentes dos jovens mortos, fizeram uma manifestação ontem em frente à Corregedoria da PM, no bairro da Luz, centro de São Paulo. Eles vieram de Santos em dois ônibus para cobrar agilidade na investigação.
Os pais dos garotos mortos Anderson e Paulo Roberto foram recebidos pelo corregedor da PM, coronel Luiz Carlos Guimarães. "Nós queremos rapidez na investigação. Esses policiais agiram como donos do mundo, como Deus que pode tirar a vida das pessoas", disse Narciso dos Santos, pai de Anderson. "Jamais vou deixar os dois filhos que me restam pular Carnaval. Vou mantê-los presos para não serem mortos", afirmou Vanda Pereira dos Santos, mãe de Anderson.
Os pais dos garotos mortos estavam vestindo camisetas do Movimento Paz e Justiça Ives Ota, que leva o nome do garoto sequestrado e assassinado por três homens, entre eles dois PMs, em 97.
O coronel Guimarães disse ter reiterado aos pais das vítimas o seu compromisso "como profissional e pai" de que o caso seja elucidado. "Faltam os detalhes."
Jaime Camilo Marques, advogado do tenente Alessandro Rodrigues de Oliveira, criticou a divulgação pelo Comando da PM das fotos dos cinco PMs suspeitos, entre eles seu cliente. "Essa imagens podem induzir os reconhecimentos que ainda possam ocorrer", disse o advogado.


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