São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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SAÚDE
Especialistas lançam em SP conjunto, com livro e espelho, que tira dúvidas sobre o primeiro período menstrual
Kit esclarece dúvidas sobre menstruação

Otavio Dias de Oliveira/Folha Imagem
Meninas com o kit que traz informações sobre a primeira menstruação


AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Um kit lançado nesta semana em São Paulo convida as meninas a celebrar sua primeira menstruação como um ritual feliz de passagem. A maneira como vivem esse momento, as informações que recebem e a convivência com seus corpos vão determinar a qualidade de suas vidas sexual e reprodutiva.
Para muitas das meninas -assim como aconteceu com suas mães-, a primeira menstruação ainda é algo assustador, sujo e vergonhoso. As sequelas dessa desinformação -além de insatisfação na vida sexual- é o grande número de gravidez e DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) entre as meninas. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 35 mil partos em meninas entre 10 e 14 anos foram registrados pelo SUS no ano passado.
O kit traz dois pequenos livros nos quais a menina pode fazer suas anotações, um envelope para guardar seus exames médicos, um absorvente e um espelho para que possa olhar seu próprio corpo. "É uma proposta inédita no Brasil que tomou dois anos de trabalho", diz Maria Luisa Eluf, psicóloga social e diretora do Cevam, ONG que se dedica à educação e materiais educativos em saúde reprodutiva.
"É conhecendo e valorizando seu corpo que a menina vai vê-lo como matriz da sexualidade e se preocupará com sua saúde, prevenindo doenças e a gravidez indesejada", diz a socióloga Rosana Gregori, uma das colaboradoras do kit e integrante do Ecos, um centro de estudos sobre reprodução humana. "O kit é um convite agradável, escrito na linguagem das meninas."
As meninas que viram, gostaram. "Antes eu tinha muito medo", disse Juliana de Andrade Salvador, 12, que está à espera da primeira menstruação. Seguindo conselho médico e da mãe, ela passou a carregar na bolsa absorvente e calça de reserva. "Se acontecer no meio de uma festinha, não vou perdê-la", disse.
Nadja de Figueiredo Araujo, 12,teve sua primeira menstruação quando participava como "consultora" do kit. "Fiquei meio perdida com as datas dos ciclos e aí me veio a idéia das tabelinhas que estão no kit", disse.
A antropóloga social especializada em sexualidade Regina Mac Dowell Fiqueiredo, que também participou da equipe e trabalha com mulheres da periferia, diz que "as meninas sabem que a menstruação virá, mas não percebem as mudanças que isso significa. "Ela não sabe, por exemplo, que seu corpo passa a lançar sinais".
Para a família, especialmente a mãe, a chegada da menstruação indica que a menina deverá viver em maior reclusão, pois estará mais exposta. "Para os meninos adolescentes, a instrução é oposta: que saiam à caça", diz Regina. O próximo kit será dedicado a eles.


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