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SEGURANÇA
Acusados por PMs de envolvimento com traficantes, adultos ficaram seis meses na prisão e menores foram levados à Febem
Família presa diz ter sido vítima de vingança
DA REPORTAGEM LOCAL
Foram seis meses de agonia. Os
adultos presos e os menores dependendo dos vizinhos para comer. No final, o reconhecimento
do erro pela Justiça, mas também
o trauma pela humilhação, o preconceito e o desemprego.
A vida de uma família no Cingapura São João, no Parque Novo
Mundo, mudou drasticamente no
dia 12 de fevereiro de 2001, quando PMs entraram no conjunto habitacional com um mandado coletivo de busca e apreensão.
Os PMs dizem ter encontrado
345 gramas de cocaína em um
guarda-roupa da família. Pai, mãe
e genro foram para a prisão. Dois
jovens foram para a Febem (Fundação do Estadual do Bem-Estar
do Menor) e liberados depois.
Desde o início, a família negou
ligação com traficantes e afirmou
se tratar de uma retaliação de policiais militares, que teriam forjado a prova.
Segundo M.L.H., 48, mãe de
quatro filhos, os policiais prometeram se vingar quando, 20 dias
antes, ela liderou moradores a resistir a uma ação supostamente
arbitrária da PM no local.
Um das filhas do casal, a única
que estava em casa no momento
da invasão, diz que um PM entrou
com um sacola plástica semelhante a que foi encontrada no guarda-roupa com cocaína.
"Foi a maior humilhação da minha vida", diz J.M.S., 59, o pai da
família, que presenciou a megarrebelião dos presídios paulistas,
em fevereiro de 2001. "Corria de
um lado para outro, não sabia o
que fazer. Dois presos morreram
onde eu estava."
Pai, mãe e genro conseguiram
liberdade provisória em agosto de
2001. O julgamento do mérito e a
inocência veio em 2002. O pai perdeu o emprego de metalúrgico em
uma empresa, passou a sofrer de
hipertensão, teve dois derrames e
hoje recolhe papelão, contrariando recomendações médicas.
O genro, que tem 23 anos, está
desempregado. "Ninguém quer
contratar um ex-preso, mesmo
sendo inocente", diz J.M.S.
A família não denunciou o caso
por medo, mas agora pretende
entrar com uma ação por danos
morais contra o Estado.
Sentença da 25ª Vara Criminal
de São Paulo, que inocentou a família, questionou inclusive a ação
policial, que usou um mandado
coletivo de busca e apreensão para revistar 620 casas.
Segundo o juiz aposentado e
doutor em direito penal Luiz Flávio Gomes, o mandado coletivo é
totalmente ilegal, apesar de alguns juízes já o terem concedido.
"Engraçado que só é usado para
locais pobres. Se o juiz autorizar
em áreas nobres, vai ser processado por abuso de autoridade."
(GILMAR PENTEADO)
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