São Paulo, sábado, 11 de março de 2006

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EDUCAÇÃO

Déficit é de 24% dos funcionários na rede municipal; secretaria afirma que problema será resolvido ainda neste mês

Escola pública sofre com falta de servidores

FÁBIO TAKAHASHI
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL

As escolas municipais de São Paulo estão com um déficit de 2.300 funcionários, o que representa 24% do número considerado ideal (9.700). O levantamento foi feito pela própria gestão do prefeito José Serra (PSDB), ao qual a Folha teve acesso.
Esses funcionários, chamados de agentes escolares, são responsáveis principalmente pela merenda e pela limpeza dos colégios.
A carência faz com que as funções sejam distribuídas entre o quadro ativo, o que causa uma sobrecarga. Também há prejuízo aos alunos. Foi o que ocorreu na Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Joaquim Antônio da Rocha, no Ipiranga (zona sul de São Paulo), no mês passado.
Duas das seis vagas de agente na escola estão abertas. Por isso, quando a funcionária da cozinha teve um problema e não compareceu, cerca de cem crianças, de três a seis anos, tiveram de ser dispensadas. "Não havia ninguém que pudesse fazer comida, e não podíamos deixar as crianças com fome", contou uma funcionária que não quis ser identificada.
"No dia-a-dia, a escola precisa ser varrida três vezes. Passamos a varrer só uma. Os banheiros tinham de ser limpos três vezes, passaram a ser limpos uma só", relatou a funcionária.
Em outra escola municipal, no Cambuci (zona sul), das seis vagas necessárias para agente, apenas duas estão preenchidas. A assistente da direção (segundo maior cargo da escola) conta que já teve de limpar banheiro. "O que vamos fazer? Não podemos deixar os banheiros sujos. O problema é que isso prejudica as nossas funções normais", relata.
Uma escola municipal na zona leste chega a substituir o prato quente por sanduíche por falta de funcionários.
"Essa é uma deficiência crônica", diz o presidente da Aprofem (sindicatos dos professores e funcionários), Ismael Palhares Jr.
Devido ao déficit, o presidente do Sinpeem (sindicato dos profissionais em educação), Claudio Fonseca, vê problemas no andamento do projeto "São Paulo é uma Escola", uma das prioridades do governo Serra, que permite aos estudantes terem mais tempo de atividades - o que demanda mais funcionários.

Pregão
A demanda por agentes escolares é definida com base no tamanho das 1.840 escolas municipais. Ela vale para toda a rede, do ensino infantil ao fundamental. "O déficit desses funcionários hoje é o quadro mais preocupante para a gente", admite o assistente-técnico da secretaria Valdecier Pelissoni. A pasta informou que não há dados de períodos anteriores.
Pelissoni afirma que o problema "vem de anos", causado por aposentadorias, criação de escolas e pelo próprio fluxo dentro da rede (um agente pode prestar concurso e sair da função).
Ele também afirmou que o problema começará a ser resolvido ainda neste mês, com a realização de um pregão para escolher empresas que farão contratações emergenciais, cujo pessoal trabalhará pelo prazo de um ano.
"A terceirização é ruim. Os agentes são educadores, que precisam ter vínculos com a escola e com o aluno. Não podem ficar um ano e sair", diz Maria Benedita de Andrade, presidente do Sinesp (sindicato dos especialistas de educação do ensino público).


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