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DANUZA LEÃO
Cada pessoa é uma
Conselho é perigoso. Mesmo que te peçam, de joelhos, uma opinião sobre seja lá o que for, fique calada
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TOME MUITO cuidado com o
que diz: sempre pode haver
alguém para achar bonito,
acreditar e até mesmo seguir alguns
conceitos que são ditos, grande parte das vezes, só para fazer charme.
Nada mais interessante do que
num bar, com um uísque na frente,
dizer que "todas as experiências devem ser vividas". Calma lá; por mais
que você diga e repita que o bom da
vida é viver perigosamente, se aparecer alguém propondo um passeio
noturno a um ponto de drogas ou
uma viagem ao Paquistão para conhecer de perto os fundamentalistas, não seria melhor tomar uma
água-de-coco na beira da praia ou,
na hora de pegar o avião, ir logo para
Paris?
Dizer bobagens, tudo bem; fazer é
que são elas.
Ah, a distância que existe entre
o que se pensa e o que se diz, e entre
o que se diz e o que se faz. Como é
fácil dizer "vou jogar tudo para o alto
e não quero nem saber". Na verdade,
são raríssimos os que jogam mesmo;
entre esses, mais raros ainda os que
não se arrependeram, e mais raros
ainda os que admitem terem se arrependido.
Quem nunca ouviu a frase "se fosse para começar de novo, eu faria tudo igual?" Será mesmo? E quem é
que tem coragem de assumir uma
atitude que possa dar a entender que
é uma pessoa sensata? Alguns anos
atrás dizer de alguém "é uma louca"
era um grande elogio, e ai de quem
ousasse mostrar que tinha juízo. Ia
acabar sozinha, sem ter companhia
nem para ir ao cinema.
Outra coisa perigosíssima: dar
conselhos. Mesmo que te peçam,
de joelhos, uma opinião sobre seja lá
o que for -e sobretudo a respeito de
relações humanas-, fique calada.
Se perceber que não vai conseguir,
passe uma ligeira camada de Superbonder nos lábios e não diga uma só
palavra.
Digamos que uma amiga, torturada pelas dúvidas, pergunte se deve
ou não sair para jantar com o chefe
-casado, é claro. Se você é casada,
vai logo dizer que não, pensando que
isso podia estar acontecendo com
seu próprio marido. Se estiver
disponível, vai pensar rápido que
talvez possa conhecer um amigo
do tal chefe -e aí a força vai ser total.
Resumo da ópera: até os conselhos
mais íntimos são dados cada
um pensando em seus próprios
interesses.
Voltando ao tema inicial, muito
cuidado com o que fala, pois tudo
pode ser adaptado para as circunstâncias do momento. Quando você
diz que quem tem dois tem um, e
que quem tem um não tem nenhum
-se referindo a um batom-, pode
estar dando munição para aquela
sua sobrinha que pode achar que isso diz respeito também à vida amorosa. E um dia, quando a casa cair,
ainda vai ser capaz de dizer com a
maior candura: "mas não era você
que dizia isso?".
Passar a vida tomando cuidado
com as palavras é duro, e tomando
cuidado com o que faz -para que os
jovens mais próximos não façam as
maluquices que você fez-, mais duro ainda. Então a solução talvez seja
viver com sensatez, cheia de juízo,
para não dar um só mau exemplo
-ou muda. Quanta ilusão: mesmo
que você entre para um convento
-ou até mesmo por isso-, não vai
impedir que seu filho se transforme
numa drag-queen ou que incendeie
um mendigo numa noite de tédio.
O que nos leva à conclusão de que
cada pessoa é uma pessoa, com sua
própria história, e que, a partir de
um determinado momento, vai fazer da vida exatamente o que quiser
-e a culpa não vai ser sua.
A não ser que você seja uma mãe
normal: elas acham que a culpa de
tudo é sempre delas.
danuza.leao@uol.com.br
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