São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Seis corpos são achados após enxurrada

Entre os mortos no parque nacional da Serra dos Órgãos, no Rio, está uma criança de dez anos; uma pessoa está desaparecida

Apesar de o fenômeno ser comum na região, não há alertas sobre o perigo ao longo do rio Soberbo, onde as vítimas se banhavam

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A GUAPIMIRIM (RJ)

Pelo menos seis pessoas morreram no domingo atingidas por uma enxurrada no rio Soberbo no parque nacional da Serra dos Órgãos, no Rio. Uma pessoa está desaparecida.
A tragédia aconteceu na altura do poço do Escorrega, a três quilômetros do centro de Guapimirim (a 85 km do Rio).
Eram 13h30 quando uma onda de 2,5 metros, carregando pedras, galhos e troncos, varreu o leito do Soberbo e as duas margens. Havia cerca de 40 pessoas no local. Algumas na água, outras em terra, aproveitando o domingo ensolarado.
Até o fim da tarde de ontem, o Corpo de Bombeiros já resgatara seis corpos -três homens, duas mulheres e uma menina de dez anos. Havia ainda um desaparecido, identificado como Agamenon Pereira de Souza, 37. Cinco dos mortos foram levados pela correnteza quando divertiam-se no poço. O sexto, Erenilton Bispo dos Santos, 65, estava dois quilômetros rio abaixo. Seu corpo foi localizado ontem a quatro quilômetros do local onde se banhava.
A cabeça d'água, como é conhecido o fenômeno, se formou no alto do parque (que chega a até 2.300 m), na cabeceira do rio, após o início de uma chuva forte às 12h30. O leito do rio encheu repentinamente e, devido à inclinação, a onda ganhou velocidade.
Nos últimos dez dias, quatro enxurradas atingiram o rio. Apesar da incidência do fenômeno, não há, ao longo do rio e em seus trechos mais visitados, qualquer alerta sobre o perigo.
Caseira de um sítio ao lado do poço do Escorrega, Ana Marta Miranda Sanche, 38, socorreu os sobreviventes. De casa, ela ouviu o barulho da cabeça d'água chegando ("uma trovoada seca"). Olhou pela janela e viu os banhistas sendo levados.
"Aqui sempre tem cabeça d'água, no verão principalmente. Nos últimos dias, teve várias. Só que nem sempre morre gente, porque quando passa o rio está vazio", afirmou.
Morador da área, o vigilante Geovani da Silva Lima, 25, contou quatro cabeças d'água só neste mês, mas até a de domingo, sem vítimas. Ele reclamou da falta de placas com alertas.
"Não morre mais gente porque os moradores avisam os visitantes sobre o perigo", disse.
No domingo, a serra estava encoberta. Na altura do poço do Escorrega, havia uma névoa fina, que, por volta das 12h, começou a afugentar os visitantes. Mas logo depois o sol reabriu, e os banhistas voltaram.
"O rio é traiçoeiro. A enxurrada veio quando estava todo mundo distraído. Não dava mesmo tempo para escapar. Acho que deveriam botar umas placas, distribuir uns folhetos. Quem vem para cá tomar banho ou apresentar oferendas aos deuses é de fora, não conhece os perigos", disse Ana Marta.
O subcomandante do 2º Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente do Corpo de Bombeiros de Magé, tenente-coronel Valdinei Dias da Silva, confirmou que é comum a ocorrência de enxurradas na região, mas que há anos não ocorriam mortes. "Com essa força, nunca tinha visto", disse. Silva não soube explicar a razão da falta de avisos no local.


Texto Anterior: Semáforos da região central param após onda de furtos
Próximo Texto: "De repente, a correnteza levou todo mundo"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.