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Seis corpos são achados após enxurrada
Entre os mortos no parque nacional da Serra dos Órgãos, no Rio, está uma criança de dez anos; uma pessoa está desaparecida
Apesar de o fenômeno ser comum na região, não há alertas sobre o perigo ao longo do rio Soberbo, onde as vítimas se banhavam
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A GUAPIMIRIM (RJ)
Pelo menos seis pessoas
morreram no domingo atingidas por uma enxurrada no rio
Soberbo no parque nacional da
Serra dos Órgãos, no Rio. Uma
pessoa está desaparecida.
A tragédia aconteceu na altura do poço do Escorrega, a três
quilômetros do centro de Guapimirim (a 85 km do Rio).
Eram 13h30 quando uma onda de 2,5 metros, carregando
pedras, galhos e troncos, varreu
o leito do Soberbo e as duas
margens. Havia cerca de 40
pessoas no local. Algumas na
água, outras em terra, aproveitando o domingo ensolarado.
Até o fim da tarde de ontem,
o Corpo de Bombeiros já resgatara seis corpos -três homens,
duas mulheres e uma menina
de dez anos. Havia ainda um
desaparecido, identificado como Agamenon Pereira de Souza, 37. Cinco dos mortos foram
levados pela correnteza quando divertiam-se no poço. O sexto, Erenilton Bispo dos Santos,
65, estava dois quilômetros rio
abaixo. Seu corpo foi localizado
ontem a quatro quilômetros do
local onde se banhava.
A cabeça d'água, como é conhecido o fenômeno, se formou
no alto do parque (que chega a
até 2.300 m), na cabeceira do
rio, após o início de uma chuva
forte às 12h30. O leito do rio encheu repentinamente e, devido
à inclinação, a onda ganhou velocidade.
Nos últimos dez dias, quatro
enxurradas atingiram o rio.
Apesar da incidência do fenômeno, não há, ao longo do rio e
em seus trechos mais visitados,
qualquer alerta sobre o perigo.
Caseira de um sítio ao lado do
poço do Escorrega, Ana Marta
Miranda Sanche, 38, socorreu
os sobreviventes. De casa, ela
ouviu o barulho da cabeça d'água chegando ("uma trovoada
seca"). Olhou pela janela e viu
os banhistas sendo levados.
"Aqui sempre tem cabeça
d'água, no verão principalmente. Nos últimos dias, teve várias. Só que nem sempre morre
gente, porque quando passa o
rio está vazio", afirmou.
Morador da área, o vigilante
Geovani da Silva Lima, 25, contou quatro cabeças d'água só
neste mês, mas até a de domingo, sem vítimas. Ele reclamou
da falta de placas com alertas.
"Não morre mais gente porque os moradores avisam os visitantes sobre o perigo", disse.
No domingo, a serra estava
encoberta. Na altura do poço do
Escorrega, havia uma névoa fina, que, por volta das 12h, começou a afugentar os visitantes. Mas logo depois o sol reabriu, e os banhistas voltaram.
"O rio é traiçoeiro. A enxurrada veio quando estava todo
mundo distraído. Não dava
mesmo tempo para escapar.
Acho que deveriam botar umas
placas, distribuir uns folhetos.
Quem vem para cá tomar banho ou apresentar oferendas
aos deuses é de fora, não conhece os perigos", disse Ana Marta.
O subcomandante do 2º Grupamento de Socorro Florestal e
Meio Ambiente do Corpo de
Bombeiros de Magé, tenente-coronel Valdinei Dias da Silva,
confirmou que é comum a
ocorrência de enxurradas na
região, mas que há anos não
ocorriam mortes. "Com essa
força, nunca tinha visto", disse.
Silva não soube explicar a razão
da falta de avisos no local.
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