São Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2009

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Carro da Infraero é usado em tráfico de droga

PF prende 32 pessoas acusadas de burlar sistema de segurança de Cumbica; esquema seria utilizado por três quadrilhas

Entre os suspeitos há um funcionário da Infraero, uma auditora da Receita, policiais e funcionários do sistema de transporte de cargas


ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal prendeu ontem 32 pessoas acusadas de burlar o sistema de vigilância do aeroporto internacional de Cumbica (Guarulhos, SP) para levar cocaína à Europa e à África. O esquema funcionava desde 2007 e utilizava até os carros da Infraero (a estatal que administra o aeroporto) para transportar a droga.
Segundo a PF, ao menos três quadrilhas de traficantes internacionais agiam em Cumbica.
Entre os envolvidos, há um funcionário da Infraero, uma auditora da Receita Federal, policiais e funcionários de empresas que operavam o sistema de transporte de cargas e de malas nas pistas do aeroporto, locais de acesso restrito.
Funcionários do aeroporto, segundo a PF, eram cooptados para introduzir as malas e as cargas com cocaína -trazida da Bolívia e da Colômbia- em alguns pontos do aeroporto. De lá, elas eram transportadas pelos carros oficiais da Infraero, que não são revistados.
Depois, as malas iam para dentro das aeronaves, já com etiquetas arrancadas de outras malas que haviam passado pelo raio-X e que ficavam sem identificação. No destino, o receptador da quadrilha já sabia o número que constaria nas bagagens com a droga.
Cada mala com cocaína rendia, em média, R$ 5.000 para o funcionário que a colocava na aeronave, depois de recebê-la de outros integrantes do grupo que a buscavam nas redondezas do aeroporto. A PF tem várias gravações das entregas de malas com drogas sendo feitas.
Além das 32 pessoas presas ontem, cujos nomes não foram divulgados, a PF já havia prendido outras 26 desde o início da chamada Operação Carga Pesada, iniciada em julho de 2007. As prisões ontem ocorreram em São Paulo, Guarulhos, Ponta Porã e Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
A estimativa da PF é a de que os 58 acusados tenham mandado 1,3 tonelada de cocaína para países da Europa (Portugal, Holanda, França e Inglaterra) e da África. Juntas, estima a PF, as quadrilhas acumularam um patrimônio de US$ 2 milhões.
Além de omitir o nome dos 58 presos, a Polícia Federal não informou a atuação de cada um deles nas quadrilhas.

O esquema
Ao longo da investigação, 547 quilos de cocaína dos três grupos criminosos foram apreendidos no Brasil, África do Sul, Holanda, Inglaterra e Portugal. Alguns dos presos que trabalhavam nas pistas de Cumbica ajudavam as três quadrilhas.
Em um dos casos, por exemplo, a PF gravou um funcionário que prestava serviço para a Infraero usando uma Kombi da empresa para buscar uma mala com cocaína em uma das avenidas que contornam Cumbica.
Esse funcionário e os dois homens que entregaram a mala com 45 quilos de cocaína -um deles policial civil- estão entre os 58 presos. A mala deveria ser colocada em um avião que decolou para a África do Sul. A droga, porém, foi interceptada pelos agentes da PF em 16 de julho do ano passado.
As imagens mostram o funcionário deixando a mala em um dos setores de carga, já na pista do aeroporto. Mais tarde, a mala é transferida para outro setor, onde ficam as malas dos passageiros que já passaram pelo raio-X.
A Polícia Federal afirma que, para desmantelar esse esquema, trocou informações com policiais dos países que recebiam a droga e com agentes norte-americanos.


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